Já são 79 casos de gripe aviária no Brasil, mas nenhum atingiu granjas comerciais, o que vem permitindo ao setor de aves manter o ritmo de crescimento das exportações.

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) confirmou que, mesmo após a suspensão das compras de carne de frango de Santa Catarina por parte do Japão, os embarques nacionais seguiram avançando.

No mês de julho foram exportadas 432 mil toneladas de carne de frango, um aumento em relação ao mesmo mês do ano passado, quando o embarque foi de 405 mil toneladas.

Deste total, 37 mil toneladas foram exportadas para o Japão, volume que é a media do que vem sendo exportado ao longo de 2023, segundo a ABPA. Um total 9 mil toneladas constam como origem o estado de Santa Catarina.

"Mas certamente foi um embarque menor, são cargas que já estavam a caminho e que depois são redirecionadas para outros mercados, aparecem na estatística, mas não chegaram ao Japão", explicou Luís Rua, diretor de mercados da ABPA.

A entidade diz que a média de exportação de Santa Catarina para o Japão é de 12 mil toneladas, por isso garante que praticamente não houve impacto do embargo para o setor, uma vez que o estado acaba exportando para outros destinos.

O presidente da ABPA Ricardo Santin se diz otimista com uma possível liberação em breve de Santa Catarina, já que os japoneses recentemente retiraram a restrição que havia sido imposta ao Espírito Santo, estado que também teve registro de gripe aviária em aves de criação doméstica.

"Acreditamos que o governo brasileiro deve enviar o relatório sobre a situação de Santa Catarina para o Japão no máximo até segunda-feira, depois é só o tempo de que as autoridades lá analisem o material, o que no caso do Espírito Santo demorou cerca de 15 dias", informou Santin.

De janeiro a julho deste ano as exportações de carne de frango aumentaram 8,2% em volume, chegando a 3,062 milhões de toneladas e 7,2% em receita, com US$ 6,028 bilhões.

O principal destino do produto foi a China, que comprou 33% a mais no período e já responde por 15% do total embarcado. Além da China, os mercados que mais vêm aumentando as compras de frango brasileiro nos últimos 10 anos são Coreia do Sul, Vietnã, Filipinas e México.

Os números apresentados aos jornalistas demonstram um certo alívio da indústria, que certamente temia efeitos significativos quando a gripe aviária finalmente chegasse ao território brasileiro.

Com 90 dias de casos da doença, mas sem registro em granjas comerciais, o setor está tendo tempo de agilizar as conversas com os países para renegociar acordos sanitários e garantir que a maioria só venha a suspender as compras de municípios ou estados que venham a registrar o problema – e não o país inteiro.

A ABPA diz que 80% dos acordos já foram revistos, mas ainda que ainda restam alguns países com o critério de só comprar de “país livre de gripe aviária”.

Na visão de Santin, no entanto, com a necessidade dos países de garantir alimentos e a importância do Brasil como fornecedor mundial, é provável que muitos revejam isso, se houver caso concreto.

"Quem compra da Europa e dos Estados Unidos onde já tem casos de influenza aviária será que vai deixar de comprar do Brasil, que é seu principal fornecedor?”, indagou Santin.

Projeções futuras

A expectativa da ABPA é de que a China possa comprar ainda mais no segundo semestre, em função da redução no total de matrizes em seu mercado doméstico.

Ao mesmo tempo, a entidade observa redução significativa nas exportações de frango da Uniao Europeia, por questões estruturais, e leve desaceleração nos Estados Unidos, concorrentes que podem abrir oportunidades para o Brasil.

Neste cenário, a ABPA prevê que as exportações brasileiras de frango em 2023 cresçam até 8%, podendo chegar a 5,2 milhões de toneladas.

A produção também vai aumentar, porém menos do que estava sendo estimado no início do ano.

Ricardo Santin informou que está havendo uma redução no alojamento de aves, o que também é uma medida de prevenção relacionada à gripe aviária.

"Estimávamos uma produção de mais de 15 milhões de toneladas, agora já consideramos 14,8 milhões de toneladas”, afirmou Santin.

Ainda assim, o volume fica acima das 14,5 milhões de toneladas produzidas em 2022.

Para 2024, a entidade projeta que o consumo per capita suba de 46kg este ano para 47kg. Com isso, a produção poderá crescer até 4,5% e as exportações até 5% no ano que vem.