O governo federal apresentou no início desta semana seu novo plano de política industrial – e o agro ganhou um destaque importante na pauta. No material divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o plano chamado “Nova Indústria Brasil" definiu as cadeias agroindustriais como a “Missão 1” do projeto.
No programa como um todo, que engloba diversas áreas além do agro, serão desembolsados R$ 300 bilhões. Para os chamados recursos não-reembolsáveis, que englobam a mecanização da agricultura, serão destinados R$ 20 bilhões.
O plano geral foi bem recebido por entidades que representam players da indústria, como o CNI e a Fiesp. Além deles, a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) também elogiou a iniciativa do governo federal, por meio de uma nota. “Acerta o governo em priorizar a indústria”.
Na cadeia agropecuária, as áreas prioritárias para esse investimento são equipamentos para agricultura de precisão, máquinas agrícolas para a grande produção e também para a agricultura familiar e biofertilizantes.
Nesse cenário, uma fonte ligada à Abimaq pontuou ao AgFeed que a associação ainda não tem maiores detalhes de como serão, na prática, as ações para a agricultura familiar.
Apesar disso, revelou que a associação espera ser ouvida no detalhamento do projeto e que está em entendimento com o governo para assinar um termo de cooperação técnica sobre mecanização na agricultura familiar.
“A garantia da segurança alimentar e nutricional dos brasileiros passa pelo fortalecimento das cadeias agroindustriais, que devem chegar à próxima década, segundo a meta estipulada, com 70% dos estabelecimentos de agricultura familiar mecanizados”, diz o material divulgado pelo MDIC. Atualmente, segundo o ministério, são apenas 18% mecanizados.
Ainda de acordo com as normas do programa, 95% das máquinas e equipamentos devem ser produzidos nacionalmente, com a intenção de fortalecer a indústria nacional.
O MDIC também cita que pretende expandir o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), reajustar os valores do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), racionalizar as taxas portuárias e aprimorar o sistema de garantias.
A meta do governo é ampliar a participação da agroindústria no PIB do agro de 23% para 50% até 2033.
Na parte dos biofertilizantes e biodefensivos, os financiamentos terão prioridade em produtos ou embalagens com nanotecnologia e biotecnologia.
Além disso, o MDIC cita que deve usar o dinheiro para incentivar produtores a investir em produtos e ingredientes de maior valor agregado com base em biomassa, melhoramento genético animal e vegetal e para redução do consumo de água e da pegada de carbono em sua atividade. Esses recursos entram na categoria de não reembolsáveis.
Dentre os recursos que terão de ser reembolsados pelos produtores, que terão uma taxa referencial acrescida de mais 2% ao ano (TR + 2% a.a.), estão soluções biotecnológicas para nutrição e defesa de plantas e proteína animal, bem como as compras de máquinas, equipamentos e implementos para a agricultura familiar.
A preferência do governo em priorizar a agricultura familiar era algo esperado por alguns especialistas do setor, em meio a um novo ano desafiador para as vendas de tratores e outras máquinas.
A própria Abimaq calcula que, em 2024, as vendas do setor devem ficar estáveis na comparação com esse ano.
“Não vejo gatilhos para euforia. O que ainda nos preocupa é se o El Niño for muito prejudicial para a colheita. Se a produtividade for muito abaixo do normal, o mercado pode retrair", afirmou o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão, em entrevista ao AgFeed em dezembro.
Em 2023, o faturamento do setor de máquinas agrícolas caiu 20% frente ao ano de 2022, algo já esperado dado os aumentos expressivos nos dois últimos anos.
Em 2022, o faturamento foi de R$ 91 bilhões, uma elevação de 2% frente a 2021. O segmento cresceu 17% em 2020 ante 2019 e 48% em 2021 ante 2020. Mesmo com a queda em 2023, o patamar ainda está acima da média histórica, segundo Estevão.
Mesmo assim, um recorte visto como resiliente em 2023, segundo Estevão, foi justamente o segmento de máquinas pequenas, utilizadas na agricultura familiar. “Com o dinheiro do Pronaf entrando e juros de 5,5% ao ano, deu um fôlego a esse segmento”, disse na ocasião.
Assim como na visão da Abimaq, ponto positivo nesse meio para 2024 na visão da consultoria TCP Partners, será o mercado de tratores menores.
“A inclinação do governo atual de favorecer a agricultura familiar e de pequeno porte favorece as vendas de tratores de baixa e média potência. Vejo esse setor em 2024 mais positivo que os demais”, disse, também em dezembro, Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners.