Sim, estou usando minha coluna aqui como uma espécie de anúncio nos classificados do mês. Preciso de pessoas.
O emprego é voluntário, não remunerado, demanda tempo, boa vontade, inteligência, interesse, leitura, escuta. E dá um trabalho danado.
E por que preciso de pessoas do agro para pensar o futuro?
Primeiro, nós precisamos sonhar com futuros possíveis. É o que nos move como humanidade, como povo, como País. Onde queremos ver o Brasil daqui a 10, 20 ou 30 anos?
E, para mim, a agropecuária tem um papel fundamental na definição desse futuro que queremos. Não só pela importância que tem na economia do País, mas pela sua relevância na forma como nosso território é e será usado no futuro.
Segundo, porque os desafios na construção desse futuro são bastante complexos. Estamos falando de uma teia intrincada que reúne clima, produtividade, obras de infraestrutura, biodiversidade, mercados globais, políticas interna e externa, novas tecnologias, demandas sociais, e tudo isso em meio a mudanças furiosas e constantes de cenários geopolíticos.
Exatamente por serem complexos, os desafios de que falamos demandam cooperação. Cooperação entre o público e o privado. Entre empresas e sociedade civil. Entre grupos sociais distintos.
A necessidade de cooperação vem também da percepção que ninguém, indivíduo, empresa, instituição ou setor pode, sozinho, desenvolver as soluções que a construção desse futuro requer.
Pessoas normalmente fazem cálculos bastante pragmáticos de porque colaborar ou não com outras pessoas, na maioria das vezes perguntando-se: o que eu ganho com isso?
Pessoas também tendem a colaborar mais em cima de questões de curto prazo e tendem a colaborar mais com os grupos com valores com os quais ela se identifica.
Isso não sou eu quem digo, é fruto de achados de pesquisa, incluindo uma recente das universidades de Nova York e Princeton.
O Agro é demandado a colaborar com outros grupos sociais e atores em uma época em que as redes sociais fizeram a proeza de corroer profundamente a confiança das pessoas em tudo.
Quando há pouca confiança entre grupos de pessoas diferentes, a saída é encontrar espaços que possam servir de anteparo parar tornar essa colaboração possível.
No início deste ano, aceitei ser cofacilitador da Coalizão Clima Florestas e Agriculturas, iniciativa que começou há quase dez anos e que hoje reúne 380 organizações do setor privado e da sociedade civil, em um espaço de construção de propostas para o desenvolvimento baseado no uso sustentável da terra no Brasil.
Não é novidade para mim. Atuei em iniciativas multisetoriais na pecuária e no estado de Mato Grosso. Teve gente que me perguntou por que insisto nisso.
Francamente, porque não vejo outros caminhos possíveis.
É óbvio que é mais rápido e fácil cada um por conta própria influenciar seus agentes políticos para atender suas demandas imediatas.
É menos óbvio, mais trabalhoso e demorado criar consensos em temas difíceis. Por outro lado, estes podem levar a soluções mais duradouras e que beneficiam a todos.
E aí eu volto no meu anúncio de classificados.
Precisamos do Agro participando destes espaços de diálogo com o espírito genuíno de construção de soluções.
É preciso entender que é nesses espaços que está a oportunidade de levar as posições e argumentos do setor. E que é nesses espaços que poderemos encontrar aliados inesperados em temas que nos interessam.
Acredito firmemente que os assuntos que nos unem são muito mais do que os que nos separam.
Alguns exemplos? O combate à ilegalidade, a aceleração de processos de regularização fundiária e ambiental, a valorização de ativos ambientais, a rastreabilidade de produtos agropecuários, entre outros.
É possível encontrar consenso em tudo? Pode ser que não. Na pior das hipóteses, será possível entender o que querem e como argumentam as posições divergentes e deixar que a democracia funcione.
Mas, na maior parte das vezes, juntaremos forças em torno da ideia de um País melhor para todos.
Precisamos de gente do agro pensando e debatendo nosso futuro. Dentro do setor, mas, sobretudo, entre o setor e a sociedade brasileira. Temos muito a contribuir.
Fernando Sampaio é engenheiro agrônomo, diretor de Sustentabilidade na Abiec, cofacilitador da Coalizão Clima Florestas e Agricultura.