O agronegócio está entre as atividades que arrastam outras para cima ou para baixo, a depender de bons ou maus momentos, diferente do que ocorre com outros segmentos da economia, como serviços ou indústrias de transformação leve.
Isso acontece porque o setor está entre os que possuem forte efeito de encadeamento, impactando outras áreas, como a indústria têxtil, serviços pessoais, restaurantes, indústria de bens duráveis, turismo etc.
É por isso que investir no agronegócio acaba gerando demanda em outras atividades, um comportamento análogo a uma locomotiva. Os vagões seriam aqueles setores que crescem estimulados pelos que possuem efeito de encadeamento.
Nesses casos, mesmo que recebam investimentos diretos, não terão condições de gerar novas demandas. Não possuem ou então têm fraco poder de estimular o desenvolvimento de outros segmentos.
É por essa razão que a importância do setor tende a ser muito maior do que sua participação no PIB da economia, hoje em torno de 23%.
Essa participação é baseada no cálculo do PIB do agronegócio, conduzido pelo Cepea (Centro de Estudos e Pesquisa em Economia Aplicada, ESALQ), comparado com os números do PIB brasileiro, calculado pelo IBGE.
Resumidamente, o conceito de agronegócio é o conjunto de atividades envolvidas na produção, transformação e comercialização da produção no campo. O cálculo, portanto, inclui insumos (fertilizantes, defensivos, máquinas, rações etc), a produção nas fazendas (vegetal e animal), a transformação nas agroindústrias (alimentos, bebidas, têxteis, biocombustíveis etc) e os serviços prestados ao setor (transporte, comércio, armazenagem, finanças, entre outros).
O PIB é calculado pelo valor adicionado considerando a diferença entre o valor bruto da produção (VBP) e os custos das matérias-primas e insumos em cada etapa da cadeia produtiva. Ao somar o valor adicionado de todos os elos, obtém-se o montante efetivamente gerado na cadeia de produção. Anualmente, o número informa quanto determinada atividade contribui com a economia.
Embora os serviços prestados ao agro componham o PIB do setor, parte de seu impacto não é capturado nos cálculos oficiais devido à dificuldade de mensuração. Por exemplo, os combustíveis usados nas operações agrícolas e transporte dos produtos entram no cálculo, enquanto a demanda por combustíveis para atender os funcionários e empresários, distribuídos nos diversos elos da cadeia de produção, serão computados em outro setor da economia.
Para reforçar a compreensão, é possível usar uma estratégia comum adotada na comunicação com pecuaristas.
Dentro dos sistemas mais modernos de produção de carne bovina, o custo médio com a saúde dos animais gira ao redor de 4% a 5% do custo operacional total. No entanto, a saúde do animal irá garantir que os resultados de todos os outros componentes de custos se comportem conforme o esperado.
Sendo assim, uma falha em manter a saúde dos animais no sistema de produção tem potencial para impactar até 5 vezes mais que o seu próprio custo, evidenciando que a importância é maior do que sua participação no total.
Ainda em relação à pecuária de corte, anualmente a Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes), em parceria com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), divulga os dados do movimento financeiro da cadeia produtiva da carne bovina, cujo estudo é conduzido pela Athenagro.
Em 2024 o setor movimentou R$ 987,4 bilhões de acordo com o critério adotado pela consultoria. Se fosse adotado o critério de valor adicionado – o correto no cálculo de PIB – o total chegaria a algo em torno de 40% a 45% desse montante, número mais próximo ao divulgado pelo Cepea, cujos dados incluem bovinos, aves, suínos, laticínios e ovos, no cálculo do ramo pecuário.
A metodologia seguida pela Athenagro foi inspirada nos estudos conduzidos pelo Pensa (Programa de Estudos dos Sistemas Agroindustriais), da Universidade de São Paulo.
Ao longo dos anos, sob coordenação do professor Marcos Fava Neves, o Pensa estudou algumas cadeias produtivas, dentre as quais estão leite, carne bovina, trigo, laranja, algodão, suínos, cana-de-açúcar etc, com o foco de mapear o tamanho e a dinâmica do fluxo financeiro em cada atividade. Em todos os casos, os números geraram proporções superiores aos critérios de cálculo do PIB, situação semelhante ao exemplo do estudo anual sobre pecuária de corte.
Portanto, não seria exagero dizer que o impacto real do agronegócio na economia é, no mínimo, duas vezes maior do que é possível medir pela participação no PIB.
Essa importância é reforçada em estudos coordenados pela pesquisadora Sheila Najberg, que avaliou a dinâmica de criação de empregos a partir da geração de demanda, separando os empregos diretos, indiretos e por efeito renda. Nas conclusões, para cada emprego direto criado na agropecuária, seriam gerados outros 2,1 empregos indiretos e por efeito renda.
O objetivo em abordar essa questão é melhorar a percepção da sociedade em relação à abrangência do setor. No momento que tantos assuntos relevantes estão em discussão, é importante dimensionar os impactos que estímulos ou desestímulos ao agronegócio podem trazer à sociedade. Tais impactos levam anos para se consolidar, o que os tornam difíceis de analisar.
É o exemplo do próprio consumo de carnes pela população brasileira. A partir do início dos anos 1990, os setores de aves, suínos e bovinos iniciaram um processo de modernização, preparando toda a base exportadora. Desde então, o Brasil se consolidou como o maior exportador global de carne de aves e de carne bovina e, em 2025, deve ocupar a segunda posição na exportação de carne suína, não considerando a Comunidade Europeia em bloco.
Ao mesmo tempo, a disponibilidade per capita das três carnes somadas, ao consumidor brasileiro, passou dos cerca de 40 kg, em 1990, para os atuais 100 kg por ano.
Com liberdade e estímulo, livre de amarras burocráticas desnecessárias ou de insegurança jurídica, o crescimento do agronegócio sempre irá trazer grandes retornos para a sociedade.
Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária.