Em 1844, o escritor francês Alexandre Davy de la Pailleterie Dumas, conhecido como Alexandre Dumas, lançou o livro "Os Três Mosqueteiros". A história conta as aventuras de Athos, Porthos e Aramis, os mosqueteiros que servem ao rei da França. Juntos, eles formam um grupo leal e inseparável, orientados pelo lema "Um por todos e todos por um".

Esse clássico da literatura traz muitas lições, como a união, a camaradagem e o espírito de equipe que os três defensores do rei cultivavam.

Ao lançarmos o conceito "um por todos e todos por um" de forma analítica sobre o Agro e sua comunicação, observamos que temos muito a caminhar para tornarmos o setor coeso e unido em torno da sua forma de se comunicar com o seu principal público: a sociedade urbana.

Exemplos sobre como trabalhar unidos não nos faltam; basta olhar o que fizeram as cooperativas agrícolas ao longo das últimas décadas. Um dos princípios do cooperativismo nacional prega que “as cooperativas servem de forma mais eficaz aos seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, por meio das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais”.

Então, por que os demais setores que compõem o Agro não se inspiram e não trabalham de forma conjunta, assim como fazem as cooperativas?

Por que temos a impressão de que impera uma certa tendência ao narcisismo assolando o Agro, levando profissionais e lideranças a terem um senso inflado de auto importância e a buscarem sua própria admiração e holofotes, no lugar de trabalharem para que o setor seja evidenciado?

Por que não nos inspiramos no exemplo dos produtores que trabalham incansavelmente no campo e seguem com sua simplicidade alimentando a população?

O Agro não precisa de mais estrelas: ele já tem brilho próprio. O que o setor precisa, de fato, é assumir seu protagonismo e contar suas histórias e conquistas para todos os brasileiros.

Falar de marketing e de comunicação do Agro virou moda, é bacana, é “cool”, gera engajamento nas redes sociais e até é boa pauta. Mas, lamentavelmente, o que muitas vezes vimos e ouvimos, são discursos vazios ou ultrapassados ou com opiniões pessoais que não fazem diferença, resultam em efeito “zero” e que até atrapalham porque causam uma má impressão à grande imprensa.

O Agro precisa dar o próximo passo e pensar correta e consistentemente em sua reputação, no Brasil quanto no exterior.

O setor se preocupa com a propriedade e o marco temporal, com a tecnologia, aprendeu a priorizar a sustentabilidade e cuida do meio ambiente e do bem-estar animal, mas ainda não se deu conta da importância da reputação da imagem e nem da construção da sua marca.

Vejo algumas pessoas do próprio setor dizerem que o Agro se tornou ufanista, soberbo, que fala que alimenta e é o celeiro do mundo. Mas não se dão conta de que “ser o celeiro do mundo” é um elemento inspiracional, que nos leva à missão de um dia sermos o maior provedor mundial de alimentos.

E que mal há nisso? Têm líderes que querem impor suas ideias e agendas e que ainda não aprenderam que a ação conjunta é o que fará o trabalho de comunicação dar certo.

Se atuarmos pensando com o mesmo espírito de união que as cooperativas têm e adotarmos o lema "Um por todos e todos por um", certamente levaremos o Agro para um novo patamar e seremos ainda mais fortes.

Pensaremos, por exemplo, em uma agenda única de eventos que seja mais consciente e que apresente uma grade de programação nacional onde as grandes feiras, exposições e congressos não se sobreponham e tenham maior espaço de tempo entre um e outro, facilitando e aumentando as chances da participação de pesquisadores, profissionais e, principalmente, da imprensa.

Também deixaremos de tentar criar apenas campanhas de comunicação individuais, setoriais ou fragmentadas que, implantadas sozinhas, terão pouco ou quase nenhum impacto nacional. Ao passo que, se unirmos as muitas frentes e os investimentos, teremos algo grandioso e na medida necessária para despertarmos o sentimento de admiração dos brasileiros pelo Agro do seu país.

Se todos agirem e pensarem de forma profissional e unidos, é possível construir uma ponte segura e bem estruturada que nos ajudará a atravessar o mar de mitos, lendas e fake news que há anos detratam e mantêm a reputação do setor vulnerável.

Mas, isso só será possível se cada um colocar um tijolo nessa construção: as indústrias, as associações, os veículos de mídia segmentados e os próprios produtores.

Se unirmos forças e seguirmos com uma visão uníssona de construirmos uma marca forte, juntos, todos a uma só voz, conseguiremos tornar o Agro uma paixão nacional. Mas, para que qualquer projeto de comunicação dê certo, o agro precisará apoiar o agro.

Ricardo Nicodemos é presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA).