A COP29 de Baku termina com resultados pífios. Aliás, somente aqueles utopicamente otimistas, ou que não acompanharam as revoluções políticas, climáticas, sociais, econômicas/financeiras e geopolíticas no decorrer do ano, acreditavam em algo diferente.

Pragmatismo: deriva-se do vocábulo grego pragma, o termo significa ação. É uma corrente filosófica que defende que não se pode julgar uma ideia verdadeira ou falsa observando, mas praticando.

Baku nos ensinou que as relações pragmáticas serão a tônica do futuro de curto e médio prazo nas finanças internacionais que impulsionarão ou não a economia verde, como também das relações internacionais e seus impactos nas transações comerciais.
Como sede da COP30 em 2025 precisamos estar atentos.

O que houve em Baku foi a ressonância das urnas nas eleições de 2023 e 2024 em dezenas de importantes países. Os pagadores de impostos, nós, eles, os eleitores simplesmente cansaram das receitas ortodoxas de combate as mudanças climáticas.

Se setores da economia, principalmente aqueles “hard to abate”, caíram na real da premente necessidade de redirecionamento em função dos impactos a seus negócios, não assistimos o mesmo processo de reintegração do ambientalismo tradicional à nova ordem mundial.

Esses, os tradicionalistas continuam a pregar uma agenda de promessas, mas sem explicitar o como, quando, de que forma e principalmente, quem paga a conta.

O simples repasse aos países ricos não funcionará mais. Seja nas regras pouco claras da EUDR, celebradas por ultra ambientalistas europeus de escritório que nunca pisaram num campo agrícola na vida, ou nas várias NDCs em produção atualmente (todos os países têm que entregar a sua até fevereiro de 2025) que mais uma vez prometem o céu, mas sem desenhar o caminho de entrada e saída do purgatório, é fácil enxergar que o dogmatismo ambiental não produzirá resultados.

A economia mundial vai mal, a situação fiscal da maioria dos países não difere muito da nossa, que carece ações urgentes que estão sendo tomadas para se evitar o pior, o que diminui a capacidade de novos investimentos.

Guerras e vários distúrbios geopolíticos enchem diariamente as notícias. Nesse cenário surge “Mr. Tariff”, como se autointitula o presidente eleito americano Donald Trump, que promete taxar a tudo e a todos.

Com certeza haverá respostas dos países taxados, o que pressupõe um comércio mundial mais complicado nos próximos quatro anos, que poderá gerar impactos inflacionários pesados sobe as populações.

Nesse cenário de incertezas de curto prazo, voltemos aos eleitores citados anteriormente: como esperar que aprovem de bom grado que suas reservas sejam utilizadas no financiamento climático fora de suas fronteiras?

Baku é o resultado disso, resposta a uma linguagem ambiental que não cala mais nos corações das pessoas comuns, mesmo sofrendo os impactos do dia a dia, pois ainda não conseguem enxergar, salvos em regiões onde a tragedia já se mostrou, aonde chegam essas pregações que misturam ciência da mais alta qualidade com mensageiros do caos e do medo.

Medo, esse sim irá nortear nosso futuro de curto e médio prazo caso não consigamos entender a necessidade de uma metalinguagem que suplante as narrativas empregadas até aqui.

Temos no Brasil um mania quase doentia em recitar nossas potencialidades. Há gente que ganha a vida vendendo potencialidades aos bilhões e trilhões de dólares como se fossem bananas na feira, sem nunca entregar um centavo de retorno.
Hidrogênio verde, SAF (sustainable aviation fuel), carbono, IA, novos sistemas alimentares, novos sistemas minerários, novas fontes de energias renováveis, bilhões, trilhões, dinheiro sem fim. Não temos, infelizmente, a mesma mania em desenhar e planejar como alcançar cada uma dessas potencialidades.

Em alguns casos evoluímos. Aprovamos uma excelente lei do Combustível do Futuro, que define bem o como, quando, a que custo e os retornos esperados ao País. E também a lei do hidrogênio (ainda longe de ser uma realidade em alta escala) e a do carbono, que, se formos competentes na regulamentação, estará em pleno vigor em 2029.

Vamos ver como faremos essa evolução integrando o agronegócio, energia e a mineração sem os clichês depreciativos e cansativos de uma parte da nossa intelectualidade ambiental.

Voltando a Baku, se fatos importam e foram vistos na sua mais cruel configuração no resultado final dessa COP29 (já inserida no roll das “fracassadas” ¬– sempre ficam na história), que rumo construiremos para a nossa COP30?

Teremos que produzir nos próximos 12 meses duas COP30. Uma que atenda às necessidades eleitorais de 2026 e outra, às necessidades planetárias da próxima década. Ambas são justas e não excludentes.

Sejamos sinceros, teremos que produzir nos próximos 12 meses duas COP30. Uma que atenda às necessidades eleitorais de 2026 e outra, às necessidades planetárias da próxima década. Ambas são justas e não excludentes.

O sucesso da primeira não medirá o sucesso ou o fracasso internacional da COP da Amazonia e todo os seu repertório imaginário. Sucesso ou fracasso serão resultantes de nossa ação enquanto sociedade.

Sem o pragmatismo necessário para negociar os novos limites políticos do planeta, correremos um sério risco. O ambientalismo tradicional, que massacra a produção de alimentos pelo mundo enquanto dá de ombros ao real problema advindo dos combustíveis fosseis, precisará estar fora da mesa de negociação.

A FAO, na última semana, voltou à ladainha de que a produção de alimentos emite mais que todo o sistema de transporte (movido a combustíveis fósseis) mundial. Esses números já foram cientificamente rechaçados, então quem sai ganhando com essas fakes?

Na COP do Brasil, os olhos do mundo estarão voltados para a nossa produção agrícola, mineral e energética.

Como quase tudo que consumimos em nossa vida é cultivado ou minerado, a composição dessas agendas será de suma importância para a agenda da próxima década e ao sucesso da COP30.

Precisamos de um presidente para essa COP que saiba se relacionar com os diversos públicos, que saiba ouvir quem pensa fora de uma caixa que, nas últimas negociações, privilegiou poucos em detrimento as necessidades de muitos.

Esse nome urge, já deveríamos no mínimo ter anunciado ao mundo na COP de Baku. O trabalho é hercúleo e premente.

Que o evento recente da crise da carne entre Carrefour e Brasil/Mercosul nos deixe a lição que precisamos para a COP30. Trabalho organizado e em conjunto, defendendo os interesses maiores do País, traz resultados mais rápidos.

Não adianta ter ambição sem condições de entregá-la, mas também precisamos entender que a evolução constante é o que nos levará ao próximo degrau de uma sociedade mais justa. É preciso abandonar o dogmatismo ambiental e abraçar o pragmatismo climático.

Marcello Brito é coordenador do Centro Global Agroambiental e Academia do Agro na Fundação Dom Cabral (FDC).