Por Marcello Brito e Renata Bueno Miranda

Temos muitas formas de aprender na vida e uma delas é pela belíssima observação do funcionamento da natureza.

E observando todos os últimos acontecimentos na geopolítica mundial, ouvindo muitas pessoas sábias e ainda assim, sem compreender os rumos das últimas notícias, resolvemos seguir as orientações da Lei da Correspondência, dos filósofos místicos, e fazer a analogia do macrocosmo com o microcosmo.

A verdade observada há algum tempo é que aquela tradicional geopolítica, dos mapas, com limites bem definidos dos Estados-Nação soberanos, com lideranças reconhecidas, marcado por regras longamente discutidas e validadas por instituições multilaterais representativas de uma ordem mundial, enfraqueceu.

Agora novos atores, não-estatais, grandes corporações, organizações internacionais, filantropias e até mesmo indivíduos, têm ganhado cada vez mais protagonismo.

Estas “entidades” possuem um poder de influência cada vez maior, moldando a opinião pública, interferindo em processos eleitorais, comerciais, políticos e até mesmo definindo as regras do jogo em setores-chave da economia, como observado nesse início de governo Trump nos USA.

Mesmo em áreas que antes eram absolutamente exclusivas dos Estados, como os temas militares e espaciais (por exemplo), as corporações transnacionais estão atuando e anunciando seu poder e capacidade de interferir nos destinos de qualquer região do mundo (e fora dele).

Afinal de contas, estacionar um foguete é muito mais do que uma demonstração tecnológica para quem quer discutir sobre poder geopolítico!

Buscando respostas, chegamos ao cérebro humano e o funcionamento das sinapses cerebrais.

Essa nova geopolítica evoca a imagem de um sistema nervoso global, onde as conexões entre os diferentes atores (Estados, empresas, indivíduos) são cada vez mais numerosas e complexas.

Chamamos isso de geopolítica sináptica, em que as decisões tomadas em um ponto do globo podem ter repercussões em outros lugares de forma quase instantânea, formada por uma rede complexa, interconectada, onde as informações fluem rapidamente e as fronteiras são cada vez mais difusas.

É uma verdadeira ruptura da ordem geográfica, pois desafia a noção tradicional de território e soberania, uma vez que, além das relações de poder se estenderem além das fronteiras nacionais, os líderes dos Estados precisam se associar a esta rede supranacional em troca de maior influência.

Neste ambiente, temos pelo menos três certezas: a) A importância da informação, onde grandes líderes já entenderam que a associação com aqueles que controlam a informação (até a desinformação) os dão o poder de modular riscos e por que não, modelar o poder econômico; b) a incerteza dos efeitos de tudo isso; c) a complexidade dessa transformação. A informação é um ativo cada vez mais estratégico e num ambiente tão dinâmico.

O que a inteligência humana nos ensina sobre isso? Que em sistemas nervosos mais simples, como nos animais, as sinapses são rápidas e pouco moduláveis – ou seja, não é possível bloquear ou limitar esta comunicação entre os neurônios.

No entanto, os sistemas mais complexos, que exigem neuromediadores para que a sinapse (comunicação entre neurônios) aconteça, já são moduláveis. Ou seja, o sistema nervoso é capaz de alterar, reduzir ou aumentar a velocidade da sinapse e isso é capaz de interferir nos resultados comportamentais.

Essa é a tão famosa neuroplasticidade, especialidade tão fundamental para tantos desafios da medicina e psicologia e que pode servir como uma metáfora poderosa para a adaptação das nações, das instituições nacionais e internacionais à complexidade dessa geopolítica sináptica.

Assim como o cérebro se adapta a novas informações e situações, as nações e as instituições precisam estar constantemente aprendendo e se adaptando às rápidas mudanças do cenário internacional

E manda alguns recados principais, tais como a capacidade de aprendizado e adaptação, resiliência e criatividade.

Assim como o cérebro se adapta a novas informações e situações, as nações e as instituições precisam estar constantemente aprendendo e se adaptando às rápidas mudanças do cenário internacional.

Isso envolve a capacidade de reconhecer novas ameaças e oportunidades, de reavaliar estratégias e de construir novas alianças.

A era do consenso parece ter entrado em hibernação, o pragmatismo climático, como já escrito aqui na coluna de novembro, parece ganhar um espaço muito relevante nessa nova ordem mundial.

A neuroplasticidade também permite ao cérebro se recuperar de lesões e traumas. De forma similar, as nações e as empresas precisam desenvolver mecanismos de resiliência e soluções criativas e inovadoras para enfrentar essas transformações, crises, choques...

Portanto, nos rendemos à inteligência da natureza e dos filósofos tradicionais e apostamos, neste momento, na política da geoplasticidade.

Num ano de COP30 no Brasil, não é a experiencia passada que nos conduzirá ao sucesso, mas essa geoplasticidade de entender quais são as novas regras do jogo.

O Agroambiental nacional precisa entender essa nova realidade, não só para avaliar riscos, mas para encontrar as novas oportunidades.

Que a sociedade brasileira composta por todos os seus elos entenda que o discurso empregado até o momento atingiu a sua exaustão.

Renata Bueno Miranda é analista da Assessoria de Relações Internacionais da Embrapa.

Marcello Brito é professor e Coordenador da FDC-Agroambiental