O volume das exportações brasileiras do agronegócio cresceu 4,5% no primeiro semestre, mas o faturamento em dólares foi menor que o esperado – o preço médio recuou 5%, para US$ 82 bilhões, entre janeiro e junho, ficando abaixo do registrado no mesmo período de 2023 – reduzindo a rentabilidade do produtor com as vendas externas.

Os dados fazem parte de levantamento realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, com informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), da Secretaria de Comércio Exterior (sistema Siscomex), divulgado na terça-feira (3).

“A redução nos preços da maioria dos produtos exportados pelo Brasil afeta o resultado do faturamento”, afirmam os pesquisadores do Cepea no relatório.

Segundo eles, o câmbio desvalorizado tem mantido os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional, mas a normalização da oferta mundial tem influenciado o comportamento dos preços externos (em dólar), que seguem em queda.

Pesa ainda a desaceleração econômica de grandes compradores do Brasil – caso da China, cujo PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 4,7% no segundo trimestre, muito abaixo das expectativas, e dos Estados Unidos, onde a alta foi de 1,4%, percentual considerado tímido para os padrões americanos.

A China segue como principal destino das exportações do agronegócio, adquirindo aproximadamente um terço de tudo que o setor exporta, em especial as commodities que tiveram alta nas vendas externas, como carne bovina in natura, suína e celulose.

Os Estados Unidos e países do Oriente Médio, como Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, aumentaram a participação nas compras dos produtos brasileiros, assim como a Índia, Egito, México e Turquia.

Internamente, o aumento dos custos de produção, impulsionado pela alta nos preços dos insumos e pela inflação, também tem pressionado os produtores. A logística e infraestrutura deficientes agravam ainda mais a situação, dificultando o escoamento eficiente da produção para os portos.

Por outro lado, um avanço na quantidade exportada esteve atrelado aos crescimentos observados nas exportações de commodities como algodão, que teve aumento de 228% no primeiro semestre, açúcar (+49%), café (+52%), carne bovina in natura (+29%) e papel (+19%). Houve aumento nas vendas de farelo de soja (+6%), soja em grãos (+2%) e carne suína (+2%) também, apesar de em ritmo menor.

Na avaliação dos pesquisadores do Cepea, a redução na produção brasileira de soja pode afetar os resultados do setor no acumulado do ano, colocando maior desafio na busca por superar o valor obtido em 2023.

No mês de maio, por exemplo, as exportações de soja já haviam recuado 15,2% em comparação com o mesmo período de 2023, segundo a Secex, incluindo produtos como grão, farelo e óleo. Juntos, esses itens somaram 15,71 milhões de toneladas, ante o total de 18,54 milhões de toneladas que foram exportados no mesmo período de 2023.

Em resposta, o governo federal lançou em julho o plano Plano Safra 2024/2025, dirigido ao agronegócio, incluindo o Plano Safra da Agricultura Familiar que, juntos, vão disponibilizar R$ 475 bilhões em crédito, sendo R$ 400,58 bilhões para os grandes empresários e R$ 74,98 bilhões para os pequenos agricultores

Apesar do cenário adverso, há um otimismo cauteloso entre os analistas. A expectativa é que a recuperação da economia global e a estabilização do dólar possam trazer alívio ao agronegócio no segundo semestre. Além disso, a diversificação de mercados e a aposta em produtos de maior valor agregado são estratégias que podem ajudar a mitigar os impactos negativos.