Uma viagem para a Europa nunca é barata. Com o Euro valendo mais de R$ 5,30, fica ainda mais cara. Mas 10 empreendedores brasileiros embarcam na próxima semana para o Velho Mundo, pagando passagens e hospedagens, levando na bagagem material para apresentar suas startups para grandes empresas como a Unilever, e bancos como Bank of America e Credit Suisse.

Eles vão participar de eventos promovidos pelas Embaixadas do Brasil de três países europeus, chamados de Brazilian Agritech Briefing.
No dia 7, as agtechs brasileiras fazem suas apresentações para investidores em Londres, no Reino Unido. No dia 9, os empresários vão a Berlim, na Alemanha. E no dia 12, as apresentações acontecem em Haia, na Holanda.

Segundo Hugo Freitas Peres, diplomata do setor de Agronegócios na Embaixada de Londres, há um grande interesse dos investidores europeus pelas empresas brasileiras.

Para este tour, foram selecionadas startups que atuam com serviços financeiros e também que ajudam na sustentabilidade socioambiental das propriedades rurais.

“Aqui na Europa há discussões sobre criar incentivos e até mesmo obrigações para que as empresas invistam em sustentabilidade. E neste sentido, o agronegócio brasileiro chama a atenção, por ter esse perfil”, afirma Peres.

Esta é a terceira vez que startups brasileiras fazem este tipo de road show pela Europa com apoio das Embaixadas.

A Embaixada de Londres atua nas conversas com grandes empresas europeias, que são potenciais investidores, e com os empresários brasileiros.

Segundo Peres, não é fácil convencer um dono de startup a encarar não só a viagem, mas o desafio de apresentar sua empresa em inglês. “Muitos não querem, até pelos custos. Desta vez, conversamos com cerca de 20 empresas, para chegarmos nas 10 que virão este ano”, afirma Peres.

Todas elas atuam com soluções financeiras e com tecnologia que permite uma produção mais voltada para os padrões ESG. Viajam para a Europa as agtechs Campo Capital, Domani Global, Fisalis, Gavea Marketplace, Moss, Produzindo Certo, Sustainable Investment Management, ou SIM, Traive, além da gestora KPTL e a securitizadora Vert.

Fabricio Pezente, CEO da Traive, afirma que é importante para as empresas brasileiras do setor de agronegócios abrirem cada vez mais as portas para investimentos estrangeiros. A agfintech participou da montagem do primeiro CRA em dólar lançado no ano passado, com captação de US$ 12 milhões.

“O acesso a recursos estrangeiros pode diminuir muito os custos de produção no médio e longo prazo, e existe uma demanda grande por financiamento em dólar. Para isso, tem todo um processo educacional a ser feito, com as empresas e com os investidores”, diz Pezente.

A fundadora e CEO da Produzindo Certo, Aline Locks, acredita que o road show significa também uma oportunidade para esclarecer algumas questões sobre a relação entre agronegócio e meio ambiente.

"A área de desmatamento ilegal no Brasil está concentrada em de 2% das propriedades rurais, ou seja, a maior parte da produção agrícola brasileira está livre desse problema. Temos um dos agronegócios mais sustentáveis do mundo. E o produtor não quer ter problema, não quer ter embargo", afirma Locks.

A Produzindo Certo tem origem em uma ONG e em como clientes grandes corporações que querem ter como fornecedores produtores rurais com responsabilidade socioambiental. São cerca de 7 mil propriedades cadastradas, com área de 7 milhões de hectares. "Temos parceria com a Unilever. Para alguns de seus produtos, eles compram soja somente dos produtores que indicamos", conta Locks.

Peres, da embaixada brasileira em Londres, afirma que nem mesmo o momento econômico da Europa, com inflação e juros em alta, diminui o interesse dos investidores pelo agronegócio brasileiro.

“Por conta do câmbio e do tamanho dos aportes, não fica caro para uma grande empresa investir em uma agtech. E eles não conseguem achar, em outros países, projetos sustentáveis tão transparentes quanto no Brasil”, diz o diplomata.

Ele explica que, em Londres, cada empresário terá 10 minutos para realizar sua apresentação. A partir daí, será dado um tempo de cinco minutos para perguntas dos investidores.

“Eles perguntam mesmo, querem saber tudo”, diz Peres. Logo depois, os participantes poderão conversar durante um almoço, com uma mesa para cada empresa. O agro brasileiro será o prato principal.