A notícia, no mundo das startups, é quase corriqueira: uma agtech de origem sueca, a OlsAro, levantou, em uma rodada seed, cerca deUS$ 2,7 milhões. Os investidores líderes foram Future Food Fund, PINC, braço de venture capital da Paulig, com participação também de AgFunder, FLORA Ventures e Mudcake, além de alguns dos acionistas que já estavam na companhia.

Mais relevante que o dinheiro investido, entretanto, é o destino que ele vai receber. A OlsAro pretende usar o capital na expansão da equipe e na comercialização de seu primeiro produto, uma variedade de trigo tolerante ao sal.

Nos últimos anos, a startup tem trabalhado em testes de campo em áreas “de outra forma não agricultáveis", segundo a CEO, Elén Faxö, em virtude do excesso de salinidade em Bangladesh, no Sudeste da Ásia.

Experiências semelhantes já haviam sido feitas com variedades de arroz, com sucesso relativo. Com o trigo, segundo a CEO, "não há muitas opções comerciais válidas do lado do trigo", afirmou Faxö ao site AgFunder News, pertencente ao fundo listado como investidor na companhia.

"Estamos vendo uma redução constante na quantidade de terras cultiváveis devido à salinidade do solo, o que pode significar rendimentos mais baixos ou nenhum crescimento”, disse.

A maior salinidade, continuou se deve “em parte a inundações e ciclones, mas também devido à falta de água doce, fazendo os agricultores irrigarem suas culturas com água salina ou salobra”.

Durante três anos de testes em Bangladesh, a OlsAro afirma ter obtido, com a sua variedade um rendimento 52% maior quando comparado a outra moderadamente tolerante ao sal.

"Durante a estação seca, o sal fica ainda mais concentrado e os agricultores não cultivam. Então, com nosso trigo tolerante ao sal, podemos tornar possível uma safra adicional", disse.

A OlsAro pretende colocar o seu trigo à prova de sal em escala comercial em Bangladesh entre o final de 2025 e o início de 2026. A empresa afirma já ter um contrato em vigor com uma empresa de sementes local, mas ainda depender de processos regulatórios para poder vender.

Enquanto isso, inicia um processo de expansão geográfica, com o desenvolvimento de testes para culturas tolerantes ao sal no Nepal, Paquistão e Omã e, em breve, no Quênia. Futuramente, espera chegar também na Austrália e na Índia.

Além da tolerância ao sal, a OlsAro também pesquisa culturas mais tolerantes ao calor e com eficiência aprimorada de nitrogênio. Para o desenvolvimento de variedades, a empresa combina tecnologias de ponta na área de edição genética, usando machiune learning e inteligência artificial para encontrar, em um imenso banco de dados genômicos, as características desejadas para serem realçadas em determinada variedade.

“Temos uma população proprietária de mais de 2.000 linhagens de trigo com altíssima diversidade genética”, disse Faxö. “Podemos, então, comercializar linhagens que se transformam em novas variedades a partir da triagem em nossa população. Pelo rastreamento fenotípico sabemos que temos o traço desejado”.