Em meio ao furor de iniciativas envolvendo análises de risco no agro, uma startup do “Vale de Piracicaba”, busca recursos para pegar uma fatia do mercado de análise de risco para crédito rural.

Criada por Yury Duarte, um esalqueano doutor em agrometeorologia, a Sigria, startup que desenvolveu uma plataforma de análise integrada de riscos voltada para credores do setor agro, está em busca de R$ 2,5 milhões para escalar sua solução.

Segundo Duarte, a Sigria oferece um “dossiê” para credores como revendas, bancos médios e Fiagros. Para se diferenciar em meio a um mar de concorrentes, a agtech aposta em dar mais musculatura às análises de risco, agregando o máximo de informações possíveis a esse dossiê.

“No início, nossa intenção era fazer somente análise de risco climática, operacional e financeira, mas percebemos que talvez não fosse o suficiente”, diz Duarte.

Com isso, a companhia agregou ferramentas de previsão de clima e impactos de mudanças climáticas, algo que, segundo o empreendedor, está em linha com as diretrizes que a União Europeia tem imposto na Europa para a liberação de crédito rural e que devem chegar por aqui no futuro, em sua visão.

A base de dados da Sigria ainda é conectada com uma série de bancos de dados públicos que analisam embargos de terras, processos trabalhistas e um algoritmo próprio que monitora desmatamento.

Em um estudo recente da própria startup, esse algoritmo mapeou uma área experimental de 157 mil hectares na Amazônia, analisando imagens de satélite capturadas entre janeiro de 2016 e agosto de 2024.

A análise revelou uma diminuição na área de floresta, de 151 mil hectares, registrados em 2016, para 142 mil hectares, em agosto de 2024. Além da identificação das áreas desmatadas, a ferramenta de IA revelou que nenhuma das áreas desmatadas estava registrada no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

“Hoje nossa tecnologia é completa. Analisamos risco climático e financeiro, mas também toda a cadeia de riscos no agro, que envolvem indicadores de biomassa, compliance e até questões envolvendo o CPF do agricultor”, afirmou.

No processo de validação da tecnologia, a Sigria fez uma parceria com o Asset Bank, que incorporou a tecnologia da Sigria em seu Fiagro. Duarte estima que, ao longo de 2023, foram avaliados mais de R$ 100 milhões em propostas e 50 mil hectares com a tecnologia da empresa.

A startup consegue, a partir da base de dados de um banco ou Fiagro, incorporar as informações para trazer um potencial produtivo e de geração de caixa de uma determinada propriedade, gerando um score de risco baseado em tudo isso.

“Ajudamos o credor a deixar de perder bom pagador e bom produtor por uma condição de ter um patrimônio mais baixo, ou mais alavancado. São situações em que olhando para operação, vemos que pode fazer sentido”.

Criada em 2020, a startup lançou a versão final de sua plataforma e iniciou sua jornada comercial no primeiro trimestre deste ano.

Apesar do progresso, o caminho não é simples. "Ainda enfrentamos barreiras de entrada e estamos aprendendo a lidar com a parte comercial, que é um território novo para nós, vindos de um background acadêmico," admite o cofundador. A Sigria tem feito uma série de projetos pilotos, o que reforça a confiança do executivo em converter isso em contratos comerciais. A companhia ainda não possui um cliente ativo.

Segundo Duarte, o objetivo desta captação em aberto é dobrar os recursos investidos até agora, que somam aproximadamente R$ 3 milhões, vindos de aportes do venture builder piracicabano WBGI, Fapesp e recursos próprios. Os recursos captados servirão principalmente para escalar a equipe comercial.

A história da Sigria

A ideia da Sigria surgiu durante o mestrado e doutorado de Duarte. Engenheiro agrônomo formado pela Esalq/USP, ele continuou sua trajetória acadêmica na instituição trabalhando com modelos de simulação de cultura e previsão de safra.

“Vi que havia potencial numa ferramenta dessa no mercado. Eu como um entusiasta da agrometeorologia busquei uma forma de colocar isso para produtores consumirem”.

Durante o mestrado, foi atuar na InCeres, startup piracicabana que desenvolveu uma plataforma digital de análise de solo e agricultura de precisão que recentemente foi comprada pela Husqvarna.

Na vivência dentro da startup, ele passou a ter contato com projetos ágeis e viu como funcionava na prática o contato com agricultores e tirar ideias do papel.

Em meio ao doutorado e atuação na InCeres, a pandemia aguçou sua vontade de empreender. Nesse momento ele conheceu a WBGI, que o ajudou a colocar o projeto de pé.

Yury Duarte saiu da InCeres em julho de 2020, e de lá até o começo deste ano, se dedicou a fazer testes para colocar o melhor modelo de pé no mercado.

A ideia inicial da Sigria era fornecer tecnologias para os agricultores, que na hora que fossem buscar créditos, teriam uma carta de análise. Nos primeiros testes, a ideia caiu por terra, e o modelo de negócio migrou para um B2B. “Vimos que nosso mercado era o de credores do agro, - revendas, bancos médios, Fiagros e familly offices”.

Duarte acredita que esses players têm mais fit com o produto da startup, pois demandam uma esteira ágil para analisar riscos de crédito. “Revendas não possuem um motor de um grande banco, e os Fiagros ainda estão começando a nascer”, conta.