A agtech brasileira Solinftec, com sede em Araçatuba, no Interior de São Paulo, e atuação global, anunciou nesta terça-feira a captação de R$ 150 milhões em uma operação de emissão de CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio).

Foi a quarta emissão do gênero realizada pela companhia desde 2019, somando quase R$ 500 milhões levantados junto a investidores. Esta, no entanto, traz uma marca diferente: enquanto nas outras três os recursos foram usados para financiar o crescimento acelerado da empresa, agora o objetivo é iniciar um processo de melhoria do perfil da dívida, alongando prazos e reforçando a posição de caixa da empresa.

“Historicamente a gente tem crescido a 50% ao ano”, afirmou a CFO da Solinftec, Laís Braido. “Esse ano a empresa equilibrou um pouco mais a posição de caixa com 20% de crescimento e, a partir do ano que vem, já com essa equalização de recursos financeiros a gente volta a retomar a velocidade de crescimento”.

Com isso, a agtech deve fechar o ano com um fafuramento próximo de R$ 350 milhões. O Ebitda (lucro antes de impostos, taxas e depreciações) está, segundo a companhia, acima de R$ 60 milhões e o endividamento, na casa de 4,5 vezes o Ebitda.

De acordo com Laís, a meta da gestão financeira da Solinftec é reduzir essa taxa paulatinamente em quatro anos, até um patamar de 3 vezes. O objetivo de 2023, comemorado pela empresa já no primeiro semestre, foi atingir o breakeven operacional, ou seja, fazer com que a geração de caixa sustente a operação.

“O recurso adicional que a gente traz é visando reestruturar os financiamentos existentes”, afirmou Laís. Ela informou que a maior parte da dívida atual resulta justamente das operações anteriores.

“São dívidas com perfil de investidor institucional e prazo em torno de cinco ou seis anos”, contou. Como a primeira emissão foi em 2019, está próxima do vencimento. De acordo com Laís, as taxas obtidas agora são similares às das emissões anteriores.

Um grupo de 16 investidores qualificados aportou recursos na nova emissão de CRAs. Nove deles já haviam participado das anteriores. Para Caio Viggiano, Managing Director de Renda Fixa do Itaú BBA, banco que coordenou a operação, o interesse do mercado “mostra o ótimo trabalho que a companhia vem fazendo, mantendo a base de investidores sempre atualizados sobre o que vem sendo feito”.

Viggiano destacou que o mercado financeiro tem estado especialmente seletivo nos últimos meses, sobretudo quando se trata de empresas de capital fechado, sem rating público de risco.

No caso da Solinftec, os investidores não foram abertos, mas o perfil é formado por family offices, private banks e assets de créditos. Pelo menos um Fiagro participou da emissão.

A emissão foi dividida em duas séries. A primeira, com remuneração de CDI mais 5,5% e a segunda, atrelada ao IPCA mais 11,971%, o que acaba representando spread semelhante, segundo Viggiano. O prazo de vencimento é de 5 anos, com possibilidade de prorrogação por mais dois.

A emissão também recebeu o selo verde da Climate Bonds Inniatitive (CBI), estando vinculado a metas de sustentabilidade. Segundo Laís, isso se deve ao fato de que os produtos da empresa, como sistemas de automação e até robôs de pulverização para operações agrícolas, permitirem a redução do uso de insumos nas lavouras.

“Uma mensagem que a gente trouxe para o mercado e que é interessante destacar é que essa é a última oportunidade pra o investidor ter esse nível de remuneração por uma empresa que já entregando números positivos”, disse.

“Até por isso tivemos uma demanda bem acima dos R$ 150 milhões e tivemos de dizer não para alguns investidores”.

Para 2024, a empresa estuda uma possível rodada de investimentos com venda de participação, que deve atualizar o valor de mercado da Solinftec, várias vezes apontada como uma candidata a se tornar o primeiro unicórnio agtech brasileiro.

Segundo Laís, “a expectativa continua, a gente deve pensar em olhar para mercado e aí sim ter uma precificação a mercado”.