Não é todo dia que uma startup recém nascida e que, há pouco mais de um ano, estava prestes a quebrar, faz um grande evento para apresentar novidades. É o caso da empresa brasileira de drones autônomos Psyche Aerospace.

A empresa é jovem como seu CEO e fundador, o empresário baiano Gabriel Leal, de apenas 24 anos.

Vestindo óculos de lentes amarela, blazer, calça neon e tênis da grife Prada, Leal contou ao público presente como está dobrando a aposta no mercado de drones, que deve chegar a US$ 54,6 bilhões até 2030, segundo dados da Drone Insights Industry, empresa alemã especializada nesse segmento.

Depois de ter enfrentado problemas em seu início, em 2023, a startup recebeu um aporte de R$ 15 milhões no ano passado e agora quer mais: a ambição é implementar uma fábrica de 100 mil metros quadrados ao longo dos próximos 18 meses capaz de produzir drones de pulverização em série.

Para isso, a ideia é captar mais de R$ 50 milhões em uma rodada do tipo série B com investidores de venture capital brasileiros e estrangeiros.

Em paralelo, a startup está lançando uma plataforma digital batizada de “Turing”, que seria o "ChatGPT do agro", em referência à ferramenta da OpenAI.

Mas os desafios para colocar todas essas ferramentas de voo são vários, algo que o próprio Leal não tem medo de admitir. “São gigantescos, é por isso que ninguém nunca fez, e é por isso que nós estamos fazendo”, afirma.

A tecnologia, por exemplo, ainda está em fase de testes. A Psyche fez o primeiro voo de seus drones em março do ano passado e completou a primeira trajetória 100% autônoma do equipamento há apenas um mês, em 29 de dezembro passado.

"E isso foi algo que todo mundo achou que era impossível. O drone decolou, fez uma trajetória e pousou com precisão no mesmo lugar de onde ele decolou com apenas um botão", conta Leal.

Os testes envolvem drones de pulverização. O Harpia P-71, primeiro drone desenvolvido pela Psyche, tem capacidade nominal de 250 kg, é movido por etanol e baterias elétricas e tem capacidade de transportar 400 quilos de defensivos agrícolas.

A ideia é que o equipamento pulverize 40 hectares por hora, com autonomia de 10 horas de voo ao custo de R$ 25 por hectare, segundo Leal. "É o menor preço do mercado", crava o dono da Psyche.

“Não dá nem pra barganhar isso aí, porque é o menor preço mesmo. É mais rápido, mais fácil, mais barato, e como tudo na Psyche, mais sexy. Produto não tem que ser funcional, tem que ser revolucionário e tem que ser sexy.”

Há outros equipamentos em protótipo dentro do que Leal chama de “Psycheverso” que estão sendo testados. É o caso do Carcará, um drone de asa fixa que faz a identificação de incêndios e infrações no campo, e do Sabiá, drone que faz mapeamento aéreo e coleta de dados.

Os modelos da Psyche abarcam ainda o Harpia-Hexa, outro drone de pulverização, dois robôs de solo, batizados de Tatu e Golias, que fazem análise de solo e das folhas, verificando umidade, nutrientes, nível de PH e temperatura, e uma estação de reabastecimento autônoma, a Beluga.

Para comercializar seus drones, a intenção da startup, segundo Leal, é implementar a planta industrial e fabricar diariamente três drones de pulverização por dia dos modelos P-71 e Hexa, três Sabiás, um Carcará, cinco rovers Tatu e três rovers Golias.

Hoje, a Psyche consegue produzir um drone em três dias em sua sede em São José dos Campos, no interior paulista, que tem 2 mil metros quadrados.

A nova fábrica, com um custo total orçado entre US$ 40 milhões e US$ 60 milhões pelos representantes da startup, deve ser instalada no interior de São Paulo, em cidades como Cajamar, Itupeva ou Campinas, com a localização exata ainda a ser definida.

Ao mesmo tempo em que sonha com uma grande fábrica para produzir todos esses equipamentos e que faz testes com eles, a Pysche ainda está homologando seus drones. A ideia é fazer as duas coisas em paralelo, segundo Leal.

"Vamos começar o planejamento da fábrica ao mesmo tempo do processo de certificação e acelerar o máximo esse processo", afirma. “A certificação vai sair. A pergunta é: quando?  o nosso papel aqui é acelerar ao máximo o processo de certificação, integrando as necessidades que a ANAC quer e que todos os órgãos precisam.”

A ideia é finalizar o processo de certificação e começar a produção em escala dos drones em um ano.

“Nós não operaremos de forma alguma sem as devidas certificações legais dos produtos. Isso significa que vamos esperar a certificação para começar a construir a fábrica? Não, mas a gente vai começar o planejamento da fábrica ao mesmo tempo em que faz processo de certificação”, complementa Victor Hespanha, sócio da Psyche.

Os representantes da startup não revelaram mais detalhes sobre o tempo de duração da rodada ou o valor exato, mas adiantaram que ela deve superar R$ 50 milhões.

“Talvez um pouco mais, considerando o perfil do negócio em ser uma empresa de hardtech, não é só uma empresa de software, a gente desenvolve os próprios hardwares”, afirmou Hespana.

A ideia é captar recursos tanto de investidores de venture capital brasileiros, quanto estrangeiros.

“A gente espera manter essa cultura de ter bons investidores no Brasil, como a gente tem feito até agora, mas também abrir oportunidade para investidores qualificados fora do Brasil, dentro de uma oportunidade principalmente cambial, que é também culturalmente mais aceitável em termos de ticket de investimento”, acrescenta Hespana.

Até aqui, a startup conseguiu captar R$ 15 milhões em uma rodada no ano passado, com um produtor rural que não quis ser identificado e outros R$ 2 milhões captados em 2023 com o investidor Éder Medeiros.

ChatGPT do agro

"Qual é o volume de produção de soja previsto em Dourados?", "Qual a probabilidade de chuvas nos próximos 7 dias em Sinop?," "Qual é a demanda de crédito rural em Balsas?" "Qual a chance de inadimplência em Gurupi, baseado na lavoura hoje?"

A Psyche quer ajudar o produtor a responder todas essas perguntas com uma plataforma digital chamada Turing, lançada nesta terça-feira e que já está disponível na App Store, da Apple.

A startup chama a ferramenta de “ChatGPT do agro”. “A maneira mais simples de explicar como o Turing vai funcionar é que vai ser algo semelhante ao ChatGPT”, diz Leal.

O Turing utiliza inteligência artificial para integrar dados da fazenda com dados públicos, como relatórios de instituições do governo como a Embrapa, documentos de cooperativas e outras informações. Também será possível fazer o monitoramento dos drones autônomos e dos robôs de solo com a plataforma.

A diferença entre a plataforma da Psyche e o sistema desenvolvido pela OpenAI está na base de dados, segundo Leal.

“O Turing é tão inteligente quanto o ChatGPT, só que ao invés de coletar essas informações na internet, nós coletamos essa informação no campo, na sua fazenda.”

A ideia é que a plataforma reúna informações sobre saúde das plantas, detecção de pragas, prevenção de desastres, mapeamento do solo e dados de mercado, trazendo orientações e alertas para o produtor.

“Nós vamos estar descobrindo quais são os problemas que foram identificados na sua lavoura e que você tem que resolver o mais rápido possível”, afirma Leal.

A Psyche pretende oferecer uma versão gratuita para o produtor e planos empresariais, com valores entre R$ 250 a R$ 2,5 mil, com a possibilidade de inclusão de mais perfis dentro da plataforma.