Com uma carteira de clientes que envolve SLC Agrícola, Amaggi e Pedra Agroindustrial, a startup Sensix, que já tem nove anos de operação, está entrando em um novo modelo de negócio.
Atualmente, a agtech combina dados de análise de solo, pluviometria, rentabilidade, maquinários, drones e satélites.
Com algoritmos desenvolvidos dentro de casa, processa essas informações e gera insights para agricultores por meio de um Saas (Software as a Service), no qual os clientes pagam uma mensalidade pelo direito de uso da plataforma da Sensix.
Agora, a startup mira atuar como uma consultoria, em um modelo parecido com o de agentes autônomos desenvolvido e proliferado pela XP no País.
Em entrevista ao AgFeed, o CEO e cofundador da empresa, Carlos Ribeiro, disse que a estratégia busca garantir que os clientes extraiam o máximo de valor com os dados gerados na lavoura.
“Criamos um segmento de ‘consultoria de agricultura de decisão’ para auxiliar o produtor em sua jornada de digitalização e de tomada de decisão. Ele pode usar nossa ferramenta, combinada com outras de gestão financeira, por exemplo”, contou Ribeiro.
A ideia é trabalhar esse modelo de negócio com micro franquias, com consultores atuando como agentes autônomos. Serão profissionais especializados em agricultura digital e que estarão próximos dos produtores nessa jornada.
Ribeiro conta que ao longo dos anos, percebeu que o aproveitamento máximo da tecnologia e dos dados disponíveis não era atingido por todos os clientes. Com isso, uma empresa que vende só uma ferramenta de dados pode não ser tão assertiva quanto aquela que entrega a plataforma e um método para gerir essas tecnologias, acredita o executivo.
Esse novo modelo de negócio tem passado por testes desde o ano passado com alguns clientes no Mato Grosso e na Bahia, e a Sensix está em estágio final para construir a metodologia que irá “certificar” esses franqueados.
“Até hoje focamos no grande fazendeiro e empresa, que por vezes tem equipes próprias de tecnologia. O pequeno e médio não tem essa maturidade, e a ideia da consultoria vem para atingir esse produtor. Queremos ser uma empresa que faz a transformação digital do agricultor”, disse o CEO.
Segundo ele, um “franqueado” pode gerir, por exemplo, uma carteira de 10 a 15 produtores locais, e atendê-lo com a metodologia da Sensix, “gerando valor para esse pequeno e médio”, acrescentou.
A Sensix faturou cerca de R$ 2,6 milhões no ano passado, crescendo em 60% a receita frente ao ano de 2022. A expectativa era dobrar o montante, mas o preço dos grãos em baixa e os problemas climáticos desaceleraram o mercado. “Os produtores ficaram mais receosos para realizar novos investimentos”.
Para 2024, a ideia é ultrapassar os R$ 3 milhões em faturamento e atingir o breakeven, repetindo o crescimento de 60%.
A empresa diz que 80% do faturamento está concentrado em clientes de grãos e fibras, e o restante em cana-de-açúcar, onde atende 25 usinas.
A Sensix monitora atualmente 1 milhão de hectares de forma recorrente em culturas como soja, cana-de-açúcar, tabaco, milho e algodão, em cinco países. Além do Brasil, a empresa atende clientes na Argentina, Paraguai, Colômbia e Guatemala.
Até agora, a agtech captou cerca de R$ 9 milhões em aportes desde o capital inicial em 2017. Dentre os investidores, estão a SLC, que encabeçou a última rodada, a Domo Invest, que já investiu duas vezes na startup, a Silver Angels, a Algar Ventures, primeira investidora, e outros sócios minoritários.
Em 2017, a empresa captou R$ 600 mil com a Algar. Em 2020, entre uma rodada e um follow-on, captou mais R$ 2,65 milhões com a Domo e a Silver.
Em 2023 a SLC entrou na jogada, e liderou a rodada de R$ 4,9 milhões, que também contou com a Domo e outros investidores que aportaram capital pela plataforma de crowdfunding Captable.
Tirando o Green Card
Além de passar a atuar como consultoria e ter franqueados espalhados pelo País, a Sensix prepara uma expansão para os Estados Unidos.
O CEO explica que um dos principais motivos de buscar o mercado da América do Norte é mitigar riscos, e também pelo alto nível de adoção de tecnologia do produtor americano frente ao brasileiro. “É mais difícil convencer o grande produtor aqui do que o médio deles em adotar tecnologia”.
Carlos Ribeiro tem viajado com frequência para os EUA, e disse que daqui algumas semanas vai para os estados de Indiana, a convite do governo local, e Illinois, para conversar sobre a aplicação das soluções no corn belt.
A entrada no mercado americano puxa uma nova captação de recursos. “Estamos conversando com fundos americanos, VCs e cooperativas locais. A ideia é captar de US$ 2 milhões a US$ 3 milhões e começar a testar o mercado por lá”, revelou Ribeiro.
A empresa pretende entrar lá com um modelo de negócio Saas, e está preparando a plataforma para ser multilínguas. Por lá, Ribeiro vê uma boa avenida de crescimento por meio das cooperativas.
O drone francês que virou negócio
Ribeiro conta que a Sensix nasceu de um drone. Em um intercâmbio que fez na França na época da faculdade, onde estudou engenharia mecatrônica, teve que desenvolver um protótipo de um veículo do tipo. De volta ao Brasil, pensou em utilizar drones como uma ferramenta para auxiliar empresas.
“Pensei logo no agro”, ele conta, mesmo sem experiência no setor, seja familiar ou profissional. E aí entra na jogada seu sócio, Thomaz Lemos, que vem de uma família de produtores rurais em Franca (SP).
O pai de Lemos também era sócio minoritário de uma empresa de insumos agrícolas, e ajudou os empreendedores com alguns contatos no início da Sensix. Em 2015 a startup foi fundada, com a ideia inicial de usar imagens de drones em um algoritmo para recomendar um melhor manejo de insumos.
Com dois anos de desenvolvimento, a empresa passou a trabalhar na Algar Farming, empresa do Grupo Algar, de TI, que atua no plantio e comercialização de grãos e criação de gado de corte.
A Algar Ventures foi, inclusive, a primeira investidora da Sensix. Ribeiro conta que o aporte serviu para desenvolver a primeira ferramenta da startup, a FieldScan. Em 2018 a agtech passou a atuar com empresas do setor sucroenergético, quantificando o plantio. No ano seguinte, desenvolveu um novo algoritmo, focado em plantas daninhas.
Foi no final de 2019 que Ribeiro percebeu que o modelo atual tinha uma limitação. “Só conseguíamos operar os drones em partes do ano, pois éramos focados em soja e milho. Com quatro meses do ano na safra, levantávamos voo poucas vezes. E o resto do ano?”, disse.
Para escalar e atender o ciclo completo dos produtores, desde antes do plantio até a colheita, e até para trazer um faturamento recorrente, a empresa decidiu transformar o serviço em Saas
Em 2019 a Domo, gestora de venture capital, entra como investidor junto com a Silver Angels, e a empresa passa atuar também com imagens de satélite.
Ribeiro conta que a Sensix desenvolveu, com o novo recurso, um módulo para análise de solo e outro para máquinas. “Com isso, fechamos o ciclo em 2021, e passamos a conseguir gerenciar todas as decisões do produtor antes de plantar, ao longo do cultivo e na hora da colheita”, afirmou.
Ele vê que 2021 foi o ano em que a empresa teve um ponto de inflexão, e passou a ganhar grandes clientes na Bahia e no Mato Grosso. De 2021 pra cá, conta que a empresa tem focado em trazer mais camadas de dados para as ferramentas. “Nosso negócio tem a missão de transformar dados em decisões que alimentam o mundo”, ressalta o executivo.
O foco da operação da Sensix está na gestão da fertilidade do solo, segundo o CEO, destacando que os fertilizantes são a parte mais cara do custo de produção, o que traz uma oportunidade para otimizar esse montante gasto.
Além dos dados de satélite, imagens de drone e de solo, o banco de dados da empresa também é alimentado com radares, indicadores de biomassa, umidade e temperatura do solo.