A Ideelab Biotecnologia, startup brasileira que desenvolve soluções biotecnológicas para empresas do agro, acaba de fechar uma parceria com a estadunidense Ginkgo Bioworks.

A Ginkgo é uma empresa que desenvolve soluções de biologia sintética para segmentos como a agricultura, setor farmacêutico e cosmético. A companhia tem capital aberto e negocia ações na Bolsa de Nova Iorque e, em 2023, teve um faturamento de US$ 251 milhões.

Segundo explicou ao AgFeed o CEO da Ideelab, Ronaldo Dalio, a parceria é uma aliança estratégica que, ao mesmo tempo, ajuda a Ginkgo entrar no mercado brasileiro e a startup piracicabana a desenvolver produtos mais eficientes e com bioprocessos mais robustos.

A Ideelab é uma empresa que pesquisa, testa, desenvolve a tecnologia e manufatura produtos biológicos. A ideia da empresa é atuar como uma espécie de terceirizada, que vende os biológicos prontos para uma outra companhia distribuir, num esquema B2B.

A Ginkgo entra no meio dessa cadeia. Segundo Dalio, após a Ideelab fazer a chamada “bioprospecção”, ou seja, descobrir novas moléculas, peptídeos e metabólitos que podem ser usados em alguma formulação de insumos, a Ginkgo leva isso para seus laboratórios para atuar no processamento, fermentação ou reprogramação celular.

Com o produto idealizado, a fábrica da Ideelab, localizada no Paraná e com capacidade anual de produzir um milhão de litros, dá escala à solução e vende para um cliente interessado.

Até o ano que vem a fábrica deve atingir uma capacidade de seis milhões de litros. A ideia é justamente colocar no mercado nacional um produto com tecnologia de alto nível.

A Ideelab também faz esse processo de validação, mas a ideia, de acordo com Dalio, é “melhorar os processos com a tecnologia de ponta da parceira”.

“Com a Ginkgo vamos para outro patamar, pois teremos produtos com tecnologia mais robusta e que pode agora ser exportada ou transferida para fora do Brasil. Nosso modelo continua o mesmo: desenvolvemos inovação e transferimos, mas agora temos um grande parceiro que ajuda no ponto crítico do processo, que é a tecnologia”, afirmou ao AgFeed.

A Ginkgo, apesar de não atuar só com o agro, já se juntou com players robustos do setor nos últimos anos. Em 2017, investiu cerca de US$ 100 milhões para criar uma empresa junto com a Bayer. A iniciativa surgiu para criar soluções e produtos que melhorem a fixação de nitrogênio pelas plantas.

No ano passado, fechou uma parceria com a brasileira Agrivalle também para desenvolver produtos. Em dezembro, selou um acordo com a Sumitomo para produzir, em conjunto, produtos químicos funcionais com biologia sintética.

Ronaldo Dalio explicou que, quando criou a Ideelab junto com Sérgio Pascholatti, ainda não tinham feito um estudo profundo sobre as empresas que atuavam no mesmo nicho, ramo e modelo de negócio.

Depois de um tempo, os dois ex-pesquisadores da Esalq/USP, que largaram a academia para empreender, se depararam justamente com a Ginkgo. “Sabíamos que eles eram uma potência no desenvolvimento de inovação, licenciamento e transferência de tecnologia para distribuição, mas a atuação deles não estava só no agro”, afirmou.

No ano passado, o líder de desenvolvimento de negócios em biotecnologia da Ginkgo, Brennan Duty, procurou a startup para conversar sobre modelos de negócios. Ronaldo Dalio, Duty e Gilson Manfio, gerente de inovação da Ideelab, notaram um grande fit entre os negócios.

“Fazíamos a mesma coisa e começamos a montar uma aliança estratégica. Eles identificaram que seria difícil entrar no mercado brasileiro, mesmo tendo uma capacidade robusta de inovação. Sem acesso a micro-organismos e ativos brasileiros, eles não teriam como produzir isso, até porque eles não têm fábrica”, afirmou Manfio, da Ideelab, que encabeçou o projeto da parceria.

As empresas vão continuar trabalhando de forma independente, afirmou o CEO, Ronaldo Dalio, mas a diferença é que agora terão um produto com tecnologia mais avançada para oferecer às empresas interessadas.

“Já estamos prospectando clientes. A ideia é trazer essa inovação de ponta para a agricultura nacional e também mundial”, disse Dalio.

“Adicionar a Ideelab à nossa rede nos dá agora a capacidade completa de ponta-a-ponta para fornecer produtos biológicos agrícolas para clientes. Especialmente produtos de próxima geração baseados em proteínas, peptídeos e metabólitos”, comenta Anna Marie Wagner, vice-presidente sênior e head de IA na Ginkgo.

A Ideelab nasceu em 2019 e, com alguns meses de vida, recebeu um aporte de R$ 500 mil da WBGI, venture builder também de Piracicaba, interior de São Paulo, especializada no agronegócio, que já soma R$ 10 milhões aportados em cerca de 15 agtechs.

O investimento, que recebeu em troca 10% do negócio, ajudou a Ideelab a começar sua empreitada. O que eram três pesquisadores em um laboratório no parque tecnológico de Piracicaba já é uma empresa com mais de 30 pessoas. Até o final deste ano, a perspectiva é chegar aos 100 funcionários.

Em 2022, a Inquima, fabricante brasileira de insumos foliares, fez um novo aporte na startup. Segundo Dalio, o investimento da fábrica paranaense veio em partes por esse aporte e em partes pelo próprio caixa da companhia. O valor não foi revelado.