Uma viagem para Milão, na Itália, feita no ano passado, foi determinante para a criação de um novo projeto envolvendo agtechs no Brasil. Na ocasião, Everton Molina, diretor de Marketing, e Flávio Maia, o CEO da tradicional Casa Bugre, do interior paulista, e Marcelo Rodrigues, CEO da startup Krilltech, participaram de um congresso de bioestimulantes. E saíram de lá com muitas ideias na cabeça.

“Vimos um congresso inteiro que só falou em mudanças no sistema de produção, em como minimizar impactos ambientais e uma discussão forte sobre questões ambientais”, conta Molina.

As apresentações e conversas colocaram uma pulga atrás da orelha dos viajantes brasileiros, que voltaram para o País e começaram a pensar em como ajudar nessa transformação discutida na Europa. A ideia saiu do papel e acaba de ser anunciada.: a Agriforlife, uma plataforma de desenvolvimento para a agricultura regenerativa.

“É uma plataforma de inovação, mas não só isso. Também atuaremos com comunicação, capacitação e projetos socioambientais. Queremos uma plataforma que possamos atuar na transformação da agricultura e transformar o mundo em favor da vida”, diz o executivo, idealizador do projeto.

A iniciativa tem muitos pontos de atuação, que foram detalhados por Molina ao AgFeed. Primeiro, a iniciativa conjunta das duas empresas terá um espaço na Área 51, do Dabi Business Park, um hub de inovação de Ribeirão Preto.

A ideia, por lá, é criar parcerias para desenvolver novas soluções. Essas soluções, que podem virar produtos, serão desenvolvidas, em conjunto, por convidados da iniciativa. Eles podem ser professores, pesquisadores, instituições e empresas que atuaram em conjunto numa equipe multidisciplinar.

“Podemos pegar um pesquisador que entende de fisiologia de plantas, outro que atua com engenharia genética e alguém de um curso de farmácia e colocá-los juntos para desenvolver uma nova solução”, explica Molina.

A relação entre as idealizadoras do projeto, a Casa Bugre e a Krilltech, já demonstra muito do que deve ser feito agora na Agriforlife.

O CEO da startup era um professor de química da Universidade de Brasília (UNB), que atuava com saúde humana. Durante sua pesquisa, ele conheceu um pesquisador da Embrapa e, juntos, usaram o conhecimento de Rodrigues em nanopartículas para desenvolver a arbolina,
A tecnologia tem como objetivo fortalecer o metabolismo das plantas, ajudando na força, produtividade e resistência.

Uma vez que a solução se tornou produto, passou a ser distribuída pela pela Casa Bugre, que paga um royalty para o pesquisador. “O importante é ter a nova tecnologia, e que ela seja eficaz, rentável para o produtor e ambientalmente completa”, afirma Molina.

Ainda dentro do parque em Ribeirão, a iniciativa Agriforlife pode atuar ajudando startups no seu desenvolvimento. Se fizer sentido, a startup pode se tornar parceira do ecossistema criado pelas empresas.

Além do espaço no interior de São Paulo, nos próximos meses a AgriforLife deve inaugurar um Centro Integrado de Tecnologia e Inovação (Citi), em Brasília. O local, de cerca de 500 m², abrigará laboratórios de pesquisa e desenvolvimento do projeto, liderados pela Krilltech e pela Casa Bugre.

Nesse ecossistema de inovação, startups incubadas, selecionadas a participar da plataforma, receberão suporte e poderão aproveitar o espaço para se desenvolver e estruturar novas soluções.

No Citi, a Casa Bugre planeja criar uma nova empresa, ainda sem nome, para fazer parte do projeto. A ideia, segundo Molina, é que o negócio desenvolva produtos que atuem tanto na agricultura regenerativa quanto em autoimunização das plantas, biocontrole e extratos. “Essa nova empresa vai trazer novas tecnologias que estejam alinhadas com a ideia da Agriforlife”.

De acordo com o diretor, a Casa Bugre sempre teve esse viés inovador. A companhia foi criada há mais de 40 anos e hoje é uma das revendas mais tradicionais do estado de São Paulo.

Ele cita que a empresa foi pioneira em trabalhar com tecnologias novas, como sementes híbridas de hortaliças, e, há 20 anos, uma das primeiras a atuar com biológicos.

Essa expertise fez a empresa criar uma série de outros CNPJs, que deram origem à fabricante de insumos biológicos Agrivalle, que foi criada pelo grupo Casa Bugre e posteriormente vendida por R$ 160 milhões à Tarpon Investimentos, que a colocou em seu fundo 10b.

Quando a Agrivalle foi vendida para o fundo, os principais acionistas foram para a Agrivalle, e depois voltaram para a Casa Bugre. O atual CEO da Casa Bugre, Flávio Maia, atuou como CFO da Agrivalle entre 2012 e 2022. Molina, por sua vez, atuou entre 2021 e 2022 como diretor de marketing da empresa, depois de uma passagem pela Ourofino Agrociência.

A proposta da Agriforlife é fomentar inovações, sem fins econômicos no primeiro momento. O investimento inicial para tirar a Agriforlife do papel foi de R$ 10 milhões, desembolsados em conjunto pela Casa Bugre e pela Krilltech. Para esse ano, com mais parceiros entrando, o investimento deve subir.

“A plataforma é o pontapé inicial. Mesmo começando agora, já estamos conversando com novas empresas que têm interesse em fazer parte do Agriforlife”, diz.

Segundo Molina, a iniciativa está em construção. Ao longo de 2024, a Agriforlife deve sediar e participar de eventos periódicos. Além disso, prevê lançar o primeiro processo de seleção de startups nos próximos dias.

Outra novidade é que a iniciativa deve contar com um indicador de agricultura regenerativa, que está sendo discutido pelos participantes, a fim de mensurar e dar uma base para os novos estudos que virão.