Menos de seis meses separam dois momentos relevantes na trajetória da startup Agroboard, agtech que tem como foco o desenvolvimento de soluções digitais para gestão de risco de commodities agrícolas.

Em fevereiro passado, o CEO e fundador da startup, Danilo Lombardi, comorava o êxito na primeira tentativa de captação de recursos para impulsionar os negócios da empresa. Liderada pela Rural Ventures e feita na plataforma de crowdfunding Arara Seed, a rodada resultou em um aporte de R$ 1,8 milhão nos cofres da Agroboard.

Um dos focos do investimento seria reforçar a equipe comercial da startup, para incrementar o trabalho de propspeção de clientes. Os resultados vieram rápidos. Segundo contou Lombardi ao AgFeed, a companhia acaba de fechar contratos com grandes empresas do agro brasileiro como a Lavoro, Sinagro, Long Ping e Barbiero.

Elas engordam uma carteira de clientes que já contava com alguns nomes de peso, como AgroGalaxy, 3Tentos, cooperativas como a Cooperalfa e a Integrada, e investidas da Bunge, como a Alvorada.

O negócio começou em 2018 com Lombardi e outros dois programadores. Com um aporte inicial de cerca de R$ 250 mil feito pelo próprio CEO, desenvolveram as primeiras versões do software que hoje é comercializado, no modelo SaaS.

“O investidor anjo fui eu mesmo”, brinca o fundador.

O sistema da Agroboard permite aos clientes avaliar os riscos e cotações e, com isso, tomar decisões de venda ou de compra de algum insumo ou grão. Segundo Lombar, até bem pouco tempo a maior parte das empresas usava modelos analógicos, mais voltados para a área de contabilidade, nesse processo, gerando ineficiências e custos.

Formado em tecnologia da informação e também em economia, ambas pela Unicamp, Lombardi viveu na pele essa experiência. Pouco antes de se formar em sua segunda graduação, foi estagiar em uma empresa do mercado financeiro focada em derivativos do agronegócio.

Atuando na área de inteligência de mercado, Danilo Lombardi produzia relatórios para clientes, e acabou sendo contratado em meados de 2007, quando virou consultor.

A empresa foi comprada em 2008 por uma multinacional, a INTL FCStone, e na nova administração, precisavam de um profissional para assumir a área de TI. O escolhido foi Lombardi.

Lá ele ficou até 2012, quando passou a prestar consultoria focada em estruturar processos para empresas do agro como 3Tentos e Sumitomo. Em 2018, se aproximou do universo do private equity, que estava desembarcando com mais força por aqui.

Nessa época ele percebeu que havia uma deficiência no controle de compras e vendas em companhias que lidavam diretamente com commodities.

“O trader precificava coisas em uma planilha de excel mal estruturada, fazendo preços de forma analógica”, conta. “Lidei com empresas que faturaram R$ 5 bilhões e faziam o controle assim, o que às vezes defasava o resultado. Na hora de tomar decisão, muitos escreviam tudo num caderno físico”, comenta Lombardi.

Outro aspecto que ainda não era otimizado nessas empresas era uma espécie de raio-x da companhia. Com isso, elas não tinham controle histórico de compras, vendas e do perfil da empresa.

Lombardi, então, buscou no mercado sistemas para automatizar esses processos e indicar para seus clientes. Não achou o que procurava, mas encontrou uma oportunidade.

“Resolvi criar a Agroboard e solucionar essas dores”, diz. “Primeiro nós precificamos, com as variáveis dentro da plataforma, qualquer commodity, seja soja, milho, trigo, suco de laranja e até mesmo biodiesel e fertilizantes”, diz.

No site da empresa, são citados como parceiros para apresentarem essas variáveis de preço a Bloomberg, a B3, o CME Group e a Oracle.

Conforme a empresa vai executando essas compras e vendas, a plataforma acaba criando um histórico e traçando um perfil da companhia.

“Essas informações fluem para dentro do sistema do cliente para dar sequência na vida do contrato, incluindo emissão de nota e pagamento. Essa informação volta para nós como API, e em tempo real, produzimos relatórios e conseguimos mostrar se a empresa está comprada ou vendida em uma commodity, por exemplo”, explica o CEO.

Com o aporte recebido em fevereiro deste ano, além de fortalecer as estruturas comerciais, um dos objetivos era incrementar as soluções no software.

O CEO detalhou que pretende atingir um quadro entre 25 e 30 funcionários até o final do ano. Atualmente, a agtech possui 17 pessoas no time.

“Já trouxemos dois gerentes para atuarem regionalizados, um no Paraná e outro no Rio Grande do Sul. Queremos ter esse contato direto com esses clientes ‘premium’ para ajudar na implementação da plataforma”, afirma.

Atualmente a Agroboard busca um gerente para a região Centro Oeste. O desafio é trazer pessoas que conheçam profundamente o negócio da gestão de riscos, algo que na visão de Lombardi, é escasso no país.

A tendência do negócio, agora, é ganhar tração, acredita. Na visão do empreendedor, conforme grandes empresas são atendidas pela Agroboard, elas se tornam “advogadas da marca”, o que ajuda a conseguir mais empresas parceiras.

Por enquanto a empresa ainda não pensa em novos aportes. “Não temos uma necessidade extrema de capital, pois não somos um consumidor orgânico de caixa. Isso nos dá tranquilidade para crescer”, explica.

Contudo, para daqui 15 ou 20 meses o CEO disse que a empresa pode avaliar uma nova rodada ou captação, conforme a demanda de capital for crescendo.