“Nós queremos criar uma identidade digital dos ativos do campo, um RG”. Foi assim que o cofundador e diretor para o Brasil da startup argentina SiloReal, José Dominguez, falou sobre seu negócio a um grupo de investidores ligados à Agroven nesta semana em São Paulo.

A declaração foi dada aos membros do clube de investimentos durante um pitch, uma apresentação para captar recursos. Dentre os ouvintes, estavam os membros da Agroven - investidores e representantes ligados à inovação de empresas como Minerva Foods, Ubyfol, Ourofino Agrociência, SLC Agrícola, Bayer, Fundo Sparta e Cooxupé.

Na mira da agtech, que tem um valor de mercado estimado em US$ 10 milhões e já levantou US$ 2 milhões em rodadas anteriores, está mais um aporte, desta vez de US$ 1 milhão.

Com esse novo dinheiro, a empresa quer fincar de vez os pés no Brasil, aumentar sua equipe local e melhorar seu software. A companhia atua com uma tecnologia que consegue dar uma rastreabilidade para o estado de ativos em armazenagem, nas chamadas silo bolsas.

“Emitimos um ‘RG’ para essas silo bolsas, uma prova de existência que conta com informações via satélite e internet das coisas e pode ser conferida por um app de celular, tudo isso rastreado em blockchain”, explicou Dominguez.

A empresa instala um dispositivo nas estruturas, que têm capacidade para medir cerca de 20 metros de comprimento, algo em torno de um terço de um silo bolsa. O sensor monitora a temperatura, os níveis de CO2 e as condições em que o grão está armazenado.

O executivo cita um exemplo em que o produtor recebeu, no celular, uma notificação informando que havia uma movimentação atípica em uma parte do silo bolsa. Ao averiguar, verificou que era apenas um cachorro curioso que brincava no local.

Com isso, a empresa acredita criar um valor para o produtor e uma prova real da qualidade de algo que está sendo armazenado, tudo isso em tempo real.

“O silo bolsa se mostrou uma solução muito boa ao problema de armazenagem no Brasil, mas tem que ser bem cuidado”, diz. “Ali dentro pode ter quase R$ 400 mil em soja, algo com liquidez imediata, mas muitas vezes o produtor não pode usar isso como garantia”, diz.

A companhia está no Brasil desde o final do ano passado, com parcerias com a SLC Agrícola e com a Petrovina.

Segundo Dominguez, a startup faturou US$ 164 mil em 2022 e projeta saltar para US$ 300 mil em 2023. Para os próximos anos, já contando com o que o mercado brasileiro pode trazer, a estimativa é monitorar cerca de 80 milhões de toneladas com o seu produto. Em cinco anos, a empresa espera bater 165 milhões de toneladas.

“Nós validamos nosso negócio com pequenos, médios e grandes produtores para chegar a nossa proposta de valor. Agora, o Agroven pode nos dar aporte e suporte para encontrar produtores e a indústria que precisam do nosso serviço”, diz o executivo.

Do lado dos membros da Agroven, a ideia foi bem recebida, mas a startup ainda precisa passar por mais etapas até efetivamente receber um aporte.

Aplicativo da SiloReal, com informações sobre as condições do silo bolsa

Para além do pitch, a empresa anunciou seu novo nome. Antes de SiloBolsa, era conhecida como IOF (Identity on Fields), mas os executivos optaram por mudar o nome para desvincular a sigla do imposto brasileiro IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)

Dominguez é argentino, mas já se vê parte brasileiro. “Já pago impostos no Brasil há cinco anos, portanto já sou brasileiro”, brinca. Junto a ele no evento estava o CEO da empresa, Delfín Uranga.

Ao AgFeed, o diretor comentou que eles fundaram a empresa em 2021. Dominguez, até então, alternara sua carreira entre o campo e o mundo financeiro.

“Nasci no campo, fiz uma parte da carreira no mundo financeiro. Quando voltei ao campo percebi que haviam ativos de muito valor no campo que eram invisíveis. Haviam casos que não sabíamos os dados, a qualidade e outras métricas em tempo real”, disse o CEO.

Foi aí então que ele se juntou a uma equipe com expertise em blockchain, agro e aspectos financeiros e criou a IOF.
A ideia é replicar a experiência da Argentina com os silo bolsas. Segundo Dominguez, o país vizinho utiliza cerca de 450 mil silos bolsas por ano, enquanto por aqui, o mercado gira em torno de 150 mil.

“O mercado brasileiro ainda é menor, mas o potencial é quatro vezes maior. Na Agroven, temos um ecossistema perfeito para encontrarmos grandes produtores e indústrias para validar o produto.”, comentou José Dominguez.