O combo de notícias ruins que envolveu a Jalles nos últimos meses parece ganhar um capítulo um pouco mais animador nesta terça-feira, 2 de dezembro.
Depois de ter sua operação de exportação de açúcar orgânico prejudicada com as tarifas estadunidenses e divulgar uma moagem e produção menor nos seus canaviais, a companhia anunciou que captou R$ 200 milhões com o BNDEs, através do “Programa Brasil Soberano Crédito Emergencial”.
A linha do banco estatal de desenvolvimento tem como objetivo justamente “apoiar empresas exportadoras de bens que foram diretamente impactadas pela imposição de tarifas adicionais pelos Estados Unidos da América”, de acordo com a própria empresa.
O empréstimo tem prazo de doze meses, com amortização em 48 prestações mensais e sucessivas, sendo que a primeira com vencimento em janeiro de 2027 e a última em dezembro de 2030.
Segundo a Jalles, o crédito obtido será destinado à produção e exportação de açúcar orgânico. A empresa sinalizou, quando divulgou o balanço do primeiro trimestre da safra 2025/26, que o tarifaço promovido por Donald Trump teria impactos fortes na produção desse item.
Na ocasião, em agosto deste ano, estimou perdas financeiras de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões, em razão da reclassificação de 15 mil a 20 mil toneladas originalmente destinadas à exportação, que passaram a ser rotuladas como açúcar cristal para comercialização no mercado interno, com menor valor agregado.
Até a adoção da medida, a Jalles dizia que a perspectiva era positiva para o produto, com preços e volumes de comercialização em alta.
O volume de açúcar orgânico comercializado cresceu 92,8% no primeiro trimestre do ano-safra, com as vendas chegando a 26,4 mil toneladas, ante 13,7 mil toneladas há um ano.
Dos R$ 574,5 milhões de receita operacional bruta registrados pela Jalles no período, R$ 96,7 milhões corresponderam a vendas de açúcar orgânico para o mercado externo. As vendas para o mercado interno, por sua vez, foram bem menores, de apenas R$ 12 milhões no período.
Considerando o primeiro semestre, na missão de se antecipar à tarifa, acelerou embarques e viu a receita com açúcar orgânico no mercado externo disparar 83,4% no semestre, para R$ 167,3 milhões.
Passados alguns meses, a empresa informou, no final de novembro, números de moagem e produção abaixo nesta temporada.
Segundo fato relevante do dia 18 do mês passado, a Jalles somou 7,07 milhões de toneladas, um número 10% menor do que o processado na safra passada e ainda 5,9% abaixo do projetado antes da temporada começar.
A companhia encerrou o período com uma maior área colhida: 94,8 mil hectares, avanço de 3,4% em um ano. Apesar disso, sofreu com uma produtividade abaixo da safra passada.
A produtividade média medida pelo TCH (toneladas de cana por hectare) foi de 74,5 t/ha, ante 84,5 t/ha no ciclo anterior, número 11,8% menor.
A maior queda de produtividade se deu na unidade Jalles Machado, em Goianésia (GO), com 80,5 toneladas por hectare no TCH, uma baixa de 17,5%.
A empresa citou que nessa unidade, houve maiores níveis de matocompetição, ou seja, maior presença de ervas daninhas, justamente nas áreas de cultivo orgânico, que por conta disso, não utiliza tratamento com produtos químicos.
Resumo
- Jalles capta R$ 200 milhões no BNDES via linha criada para empresas afetadas pelas tarifas dos EUA; crédito será usado para financiar produção e exportação de açúcar orgânico.
- Tarifaço gerou perdas estimadas entre R$ 20 milhões a R$ 25 milhões e obrigou a reclassificação de até 20 mil toneladas para o mercado interno.
- Companhia reportou moagem 10% menor na safra e TCH em queda para 74,5 t/ha, pressionada por produtividade fraca na unidade de Goianésia, onde o manejo orgânico elevou a matocompetição