A COP 30 terminou deixando um rastro de confiança renovada no Brasil — e essa confiança nasceu em Belém. A capital paraense, tantas vezes subestimada, tornou-se símbolo de organização, acolhimento e capacidade de entrega. E este talvez seja o maior legado imediato da conferência: revelar que o Brasil profundo, quando mobilizado, sabe receber o mundo com competência e grandeza.
Belém não apenas atendeu às expectativas; superou-as. O aeroporto funcionou com fluidez, a rede hoteleira respondeu à altura, os restaurantes vibraram com a diversidade cultural dos visitantes e a cidade abraçou o encontro com uma hospitalidade difícil de encontrar em qualquer COP anterior.
Os desafios existiram — é natural —, mas foram enfrentados com serenidade e resolvidos com eficiência. E os problemas mais graves, ligados à infraestrutura da Blue Zone, ficaram na conta de quem os gerenciava, não da administração local. Belém fez o seu papel, e fez bem.
Nesse ambiente de afirmação amazônica, o agro brasileiro encontrou um espaço privilegiado para se posicionar. A Agrizone, capitaneada por CNA, SENAR, Embrapa e parceiros, foi um acerto estratégico notável, um VIVA a eles.
Em um cenário global em que o alimento e o clima se tornaram temas inseparáveis, o agro brasileiro escolheu dialogar — e acertou ao escolher. A presença de vitrines vivas, debates qualificados e ampla cobertura de mídia mostrou um setor maduro, transparente e disposto a se colocar no centro das soluções climáticas.
O Brasil tem um agro competitivo, inovador, baseado em ciência tropical e tecnologias reconhecidas. Mas o mundo ainda conhecia pouco dessa realidade. A Agrizone ajudou a mudar essa percepção.
Um executivo global de uma gigante do consumo resumiu o impacto com clareza: “Se o Brasil evoluir em sua governança pública e garantir segurança jurídicas aos produtores e investidores, ninguém competirá com vocês.”
A frase não é só um elogio, é um reconhecimento de potencial. O País tem escala, tem tecnologia e tem capital humano. A COP 30 mostrou que também tem narrativa — falta apenas consolidá-la.
Na Blue Zone, o agro apareceu em múltiplos espaços, discutido por think tanks, entidades nacionais e internacionais, universidades e organizações multissetoriais. A agricultura e pecuária regenerativas, a ILPF, as agroflorestas e a restauração de paisagens não são mais tendências; são caminhos concretos para um futuro que já começou a ser construído.
O mundo está pronto para ver a agropecuária como solução, e o Brasil pode ser líder nessa agenda.
É verdade que a participação oficial do governo federal, especialmente do Ministério da Agricultura, poderia ter sido mais robusta. Apenas 2 dos 286 painéis brasileiros foram patrocinados pelo Mapa e outros 6 pelo MDA.
A lacuna existe — e merece reflexão. Mas o que se viu, apesar disso, foi um setor privado em conjunto a uma sociedade civil ativos, entidades engajadas e uma agricultura familiar igualmente presente, mostrando que o Brasil real tem voz própria e sabe usá-la.
Os estados amazônicos, por sua vez, deram exemplo de visão estratégica. Nos pavilhões do Consórcio da Amazônia Legal, 27 dos 110 eventos foram dedicados a sistemas alimentares.
Para quem vive diariamente o desafio de conciliar produção, desenvolvimento e floresta em pé, a agropecuária já não é problema: é parte essencial da solução. Essa visão integrada é o futuro — e já está se materializando no presente.
A COP 30, enfim, mostrou que o Brasil tem muito mais a oferecer do que por vezes imagina. Belém nos lembrou que somos capazes. O agro mostrou que somos competitivos e inovadores. A Amazônia lembrou ao mundo que desenvolvimento e conservação podem caminhar de mãos dadas.
Agora, cabe ao País transformar essa energia em política pública, continuidade e ambição de longo prazo. A presidência brasileira da COP pelos próximos 11 meses será oportunidade rara de consolidar um protagonismo que não nasceu em Brasília, mas nas margens da baía do Guajará.
Se a COP 30 começou como um desafio impondo medo a muita gente, termina como um convite: que o Brasil acredite mais em si mesmo — e em tudo aquilo que demonstrou ao mundo em Belém.
Os desafios da transição energética planetária continuam e não tínhamos a expectativa que saísse dessa COP uma solução para tal diante de um mundo tão geopoliticamente tensionado. Dessa forma os resultados obtidos foram dentro da expectativa dos realistas.
A adição de energias renováveis que reduzem o uso dos fosseis continuam a todo vapor e foi impressionante ouvir nos espações da Índia e China, dois dos 3 maiores emissores do mundo, o que estão fazendo.
A Índia, nos últimos 10 anos, produziu mais de 200 GW de energia renovável em bateu em 2025 a meta que era para 2030 de ter 50% da matriz elétrica advindo de fontes renováveis.
A China, além do maior investimento mundial em renováveis, continua a aumentar suas emissões até 2030, quando então entrara em curva descendente. Por que duvidar de um país que nos últimos 10 anos plantou 70 milhões de hectares de florestas para recuperar áreas degradadas, barrar avanço de desertos e restituir sua capacidade de “produzir” água?
O legado da COP 30 de Belém foi mostrar que apesar das narrativas negacionistas de vários países, a economia verde avança a passos lagos, agora ainda mais com o suporte da IA, e quem não entendeu isso ficará ainda mais fora do tabuleiro mundial.
Marcello Brito é diretor acadêmico na FDC-Agroambiental.