A japonesa centenária Ajinomoto, que está desde 1956 no Brasil, vinha crescendo dois dígitos até a safra 2024/2025 nas vendas de fertilizantes.

A empresa acompanhou o crescimento da demanda por fertilizantes especiais na agricultura brasileira, que se intensificou na última década.

Um de seus diferenciais é o fato de produzir o adubo como um coproduto obtido no processo de fermentação, quando é gerado o seu principal item industrial, que é um aminoácido chamado glutamato monossódico.

O glutamato está nos seus produtos conhecidos, como o tempero Sazon e também nos ingredientes que a Ajinomoto vende para indústrias de alimentos e food service.

A fermentação usa como principal matéria-prima a cana-de-açúcar, que ajuda, portanto, a gerar o fertilizante. Este depois volta ao campo para nutrir os canaviais. É o que a Ajinomoto chama de “biociclo”, um tema já detalhado com a empresa em reportagem do AgFeed.

Apesar do forte apelo em inovação e sustentabilidade, a companhia japonesa também enfrenta um período mais desafiador para os negócios em 2025, em função das margens mais apertadas e maior cautela entre os produtores rurais.

Em entrevista exclusiva ao AgFeed, o diretor de agronegócios da Ajinomoto do Brasil, César Augusto Vilela, avaliou a expectativa para o desempenho da empresa no ano fiscal, que termina em março de 2026.

“O ano passado foi o melhor ano da nossa história, em fertilizantes. A empresa, de modo geral, foi muito bem. Mas fertilizantes foi muito, muito bem. Então, é difícil a gente superar o ano passado, porque depois de um crescimento tão grande ali, se a gente conseguir manter esse ano aqui, já estamos super felizes, porque é a máxima histórica?”, afirmou.

Como 40% das vendas de fertilizantes da Ajinomoto estão relacionadas a frutas e 30% são produtores de café, uma commodity que segue bastante valorizada no mercado, os efeitos do “ajuste” em produtos como soja e milho não chegam trazer impacto significativo para a empresa.

Entre as frutas, os destaques são uva, banana e manga. O restante dividido em outras culturas, como grãos e eucalipto.

Vilela acredita que será possível crescer até 5% em relação à safra passada, considerando as informações já contabilizadas dos sete primeiros meses do ciclo da companhia.

Ele não revela qual faturamento da Ajinomoto especificamente com fertilizante. Considerando todos os produtos da companhia no Brasil, a receita é entre abril 2024 e março de 2025 foi de R$ 3,6 bilhões.

Globalmente, o faturamento foi de US$ 10 bilhões. O Brasil é o 4º maior mercado do grupo, atrás apenas de Japão, Tailândia e EUA.

Em fertilizantes, o executivo afirma que a empresa já possui entre 1% e 2% de market share em foliares, um segmento que teria pelo menos 600 competidores.

Foco em sustentabilidade

Para seguir crescendo, a Ajinomoto vem investindo em pesquisas e redobrando esforços para mostrar diferenciais nos seus produtos ligados à sustentabilidade.

Uma das bandeiras é a economia circular, com o aproveitamento de 100% da cana, que é usada na fermentação, gerando o fertilizante, que depois volta para a lavoura, mas não é só isso. O bagaço também é usado em suas caldeiras nas quatro fábricas que a Ajinomoto possui no Brasil: Laranjal Paulista, Limeira, Valparaíso e Pederneiras, todas no estado de São Paulo.

Outro ponto destacado pela empresa é o fato de um de seus produtos, um fertilizante sólido nitrogenado, permitir uma redução de 64% nas emissões de óxido nitroso, se comparado à ureia tradicional.

“A gente vem fazendo vários trabalhos junto com a Esalq/USP, com a Embrapa, com o IAC, e o que a gente tem visto é que o aminoácido melhora o aproveitamento dos nutrientes, melhora o desenvolvimento radicular e reduz a emissão de óxido nitroso no solo. Então, a gente consegue ganhos importantes de produtividade e de sustentabilidade ao mesmo tempo”, ressaltou Vilela.

No café, a empresa menciona que seus fertilizantes especiais podem aumentar a produtividade entre 10% e 15%, com melhora na qualidade dos grãos e redução de emissões, que poderiam melhorar o valor de mercado da commodity, uma política que a empresa chama de ASV – Ajinomoto Sharing Value, onde “todos ganham”, inclusive o meio ambiente.

A explicação para a menor emissão no café está relacionada ao elevado uso de foliares na cultura. A Ajinomoto diz que um dos seus produtos foliares pode ser aplicado junto com defensivos, por isso reduz o uso de máquinas agrícolas.

Muitas das ações também ajudam a companhia a cumprir suas metas de descarbonização.

“A gente fez ali um escopo 1. A nossa principal ação foi implementar a substituição de caldeiras a gás natural por caldeiras a biomassa na fábrica de Limeira e Laranjal Paulista. Isso trouxe muita redução de gás de efeito estufa, tanto que a gente alcançou (antecipadamente) a meta, que era para 2030”, contou Janaína Padoveze, gerente de sustentabilidade da Ajinomoto do Brasil, que também conversou com o AgFeed.

Nos últimos 3 anos a empresa diz que, em média, já conseguiu evitar a emissão de 130 mil toneladas de carbono equivalente na atmosfera por conta dessa ação.

Padoveze diz que projetos relacionados ao mercado de carbono, por exemplo, estão sendo articulados com parceiros e instituições financeiras. Um deles envolve o aminoácido lisina encapsulada, usado para nutrição animal, outra área que a Ajinomoto atua no Brasil.

A Ajinomoto foi também a primeira cliente da norueguesa Yara, no Brasil, no que se refere à compra de amônia verde, produzida a partir de biometano.

“A amônia é um dos ingredientes também relevantes para o processo de fermentação, e a gente começou essa parceria com a Yara. Já antes deles inaugurarem a planta deles, a gente estava em negociação e a gente começou a comprar uma quantidade de amônia verde no ano e estamos avaliando o impacto de custo também nessa parceria, e a intenção é aumentar cada vez mais a porção de amônia verde no nosso portfólio de materiais”, explicou Janaína.

Segundo ela, a amônia verde ainda custa praticamente o dobro da amônia tradicional, por isso é difícil definir desde já quais serão os volumes que serão adquiridos.

“A amônia verde ainda é uma coisa muito nova, a gente ainda não tem dados suficientes para saber de disponibilidade de compra, preço, o quanto isso vai escalar. A gente sabe que vai escalar, a gente não sabe com que velocidade”, afirmou.

Resumo

  • Após recorde histórico em 2024/25, Ajinomoto projeta alta de até 5% nas vendas de fertilizantes em 2025/26, mesmo com margens mais apertadas
  • Empresa amplia investimentos em sustentabilidade e economia circular, reaproveitando 100% da cana e reduzindo emissões em até 64%
  • Parcerias com Esalq, Embrapa e Yara fortalecem inovação com amônia verde e produtos que elevam produtividade e reduzem carbono