O que uma associação criada para fomentar o crescimento do acesso à internet no Brasil agrícola teria a apresentar e contribuir com a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, o maior evento ambiental do planeta?. “Muita coisa”, garantiu a presidente da ConectarAgro, Paola Campielo.
Em entrevista ao AgFeed, a executiva revelou que a entidade do setor privado lançará na COP 30, em Belém (PA), um estudo com detalhes sobre como a conectividade no campo pode contribuir para a preservação ambiental.
Em fase final de elaboração, documento trará como foco principal as queimadas e como o implemento de tecnologia para universalização da internet no campo pode preveni-las.
Segundo Paola, a ConectarAgro conversou com representantes de Minas Gerais e áreas daquele Estado serão usadas como exemplos de como a conectividade pode prevenir incêndios.
“Nosso foco é falar muito sobre isso e vamos divulgar alguma coisa sobre as queimadas em um primeiro momento”, disse.
“A gente continua dizendo que precisa de políticas públicas, então precisamos realmente que o governo se mexa, porque as grandes empresas se movem”, afirmou Paola, que é gerente de novos negócios da CNH, uma das empresas que mantêm a ConectarAgro.
Em um segundo momento, o estudo deve ser ampliado para outras questões ambientais sensíveis, como a gestão da água e a preservação de áreas ambientais no agronegócio. “Se conseguirmos fechar esse elo com dados desses três pilares importantes, a gente consegue trazer mais informação para a sociedade”.
Na COP 30 a associação participará de um painel na Agri Zone, encontro que abordará como a transformação digital e a conectividade impulsionam a sustentabilidade, a inclusão socioprodutiva e a resiliência climática no campo brasileiro.
Além disso, a entidade conseguiu acesso à Blue Zone, controlada pela Organização das Nações Unidas (ONU), e palco das principais negociações diplomáticas da conferência.
Pautas recorrentes
Paralelamente, a ConectarAgro, criada há cinco anos, segue com as pautas para ampliar o acesso à internet no campo. Desde 2024, a associação divulga o indicador de conectividade rural que apontou um crescimento de 19% para 33% das propriedades com cobertura 4G ou 5G. Nas áreas urbanas a cobertura chega a 99%.
“Essa informação foi muito importante, porque as pessoas, entidades e empresas privadas começaram a entender qual o buraco para crescimento tecnológico do nosso País”, afirmou Paola.
Na avaliação da executiva, o crescimento de 14 porcentuais entre os dois levantamentos já feitos ocorreu pelo aumento da conectividade em propriedades e pela instalação de sistemas mais modernos em rodovias concedidas.
“A gente sabe que os grandes produtores implementam tecnologia, mas os pequenos e médios não, porque têm as prioridades de fazer com que a sua safra chegue até o final. O pequeno e médio produtor precisa ter essa tecnologia, e quanto mais ele tiver, mais vai produzir e mais o País vai ser mais sustentável”.
Segundo Paola, chegar a 40% de cobertura em 2026 seria um avanço, diante da dificuldade para se obter dados. O indicador, por exemplo, considera apenas a conectividade pública, mesmo que seja fornecida por meio de uma concessão. Dados de empresas que fornecem internet por satélite, comuns no campo, não são considerados.
Outra pauta recorrente da ConectarAgro é a utilização de recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) para fomentar a conectividade agrícola.
Fundo governamental criado para financiar projetos de conectividade e infraestrutura de telecomunicações, com recursos provenientes de uma contribuição de 1% sobre a receita bruta principalmente de operadoras, o Fust tem sido pouco utilizado para ampliar o acesso do campo à internet.
“É uma pauta que não desistimos nunca, estamos sempre conversando. A gente usou até agora apenas 0,9% desse fundo. E, quando não é utilizado, o Tesouro vai lá e pega os recursos”, disse.
Segundo Paola, o fato de o governo ter priorizado o uso do fundo nas escolas prejudica o acesso, inclusive de estudantes, nas áreas rurais. “O estudante sai da escola e vai para a casa. Se ele está na área rural, por que ele não pode continuar tendo essa integração, esse letramento digital para a família toda, na casa dele?”, concluiu.
Resumo
- ConectarAgro apresentará na COP 30 estudo que relaciona conectividade rural à redução de queimadas e à preservação ambiental
- Entidade defende políticas públicas e uso do Fust para ampliar o acesso à internet no campo, hoje presente em apenas 33% das propriedades
- Meta é atingir 40% de cobertura até 2026 e mostrar como a digitalização pode impulsionar produtividade, inclusão e resiliência climática