Enquanto bancões como o Banco do Brasil observam a inadimplência avançar no agro e o Santander passa a recomendar desinvestimentos aos produtores, agfintechs avançam, mesmo em meio a um caminho tortuoso.

A Agrolend, banco digital focado no setor e fundado pelos irmãos André e Alan Glazer, alcançou R$ 600 milhões em carteira de crédito. Há um ano, em outubro de 2024, na época em que captou US$ 53 milhões (cerca de R$ 300 milhões na época) em uma rodada do tipo Série C, a carteira rondava os R$ 500 milhões.

“Nossa originação mensal vem gerando em torno de R$ 100 milhões, mantendo sempre a disciplina do risco e a velocidade de resposta ao cliente”, disse Alan Glazer na abertura do Agrolend Day, evento em que a companhia reuniu investidores, clientes e parceiros. “Estamos ocupando um espaço que, historicamente, foi ocupado pelos grandes bancos, mas que hoje estes mostram menor apetite tendo em vista os desafios do agro”.

No evento, os fundadores deram mais detalhes sobre como a empresa pretende navegar na safra 2025/2026. Isso porque, de um lado, a projeção de mais uma safra recorde que só na soja, deve atingir 180 milhões de toneladas de produção. Do outro, o fantasma das RJs e da inadimplência no setor assombra quem irriga financeiramente o agro.

Para a safra atual, a empresa aposta em uma estratégia complementar ao que foi definida na sua fundação, no final de 2021. Glazer detalha que a companhia começou com um modelo voltado a conceder crédito para revendas e produtores de médio porte que contavam com o aval dessas revendas.

“Ouvindo nossos clientes e observando a dinâmica da cadeia, começamos a ampliar o escopo para oferecer soluções sofisticadas também para grandes indústrias de insumos agrícolas no País”, disse o cofundador.

Ele citou que são estruturas com prazos alinhados à safra, processos enxutos e o uso de dados em tempo real. Recentemente, o site The Agribiz noticiou que a Agrolend estruturou um veículo de R$ 100 milhões para a UPL, já nesse esquema de crédito corporativo.

Na operação, a startup antecipou o valor para a fabricante indiana, transformando os recebíveis numa amarração junto às revendas, pulverizando o crédito que antes estava concentrado só nas revendas clientes da UPL.

“Estamos criando produtos modulares que se acoplam às políticas de crédito de nossos parceiros, aos canais de distribuição e às estratégias comerciais das indústrias”, detalhou Alan Glazer.

A empresa também atua com outros produtos desenvolvidos nos últimos anos: antecipação de recebíveis no momento do pedido ou depois da entrega dos produtos; CPR financeira para clientes dos fornecedores de insumos, com desembolso diretamente no fornecedor e CPR financeira com recebíveis em garantia.

Na estratégia de crescimento da Agrolend, a companhia aposta em um funding diferenciado. Segundo Alan Glazer, a empresa já soma R$ 500 milhões em captações via LCAs, distribuídas em diversas plataformas de investimento como XP, BTG Pactual e Itaú. “São 20 mil investidores pessoa física que confiaram em nós”, detalhou.

“Esses pilares que englobam originação consistente, qualidade da carteira e diversificação de funding nos permitem crescer de forma sustentável em um cenário que continua seletivo para o crédito”, disse Alan Glazer.

O executivo cita que a safra 2025/26 terá, pelo aumento de produção, um aumento na demanda por insumos, e consequentemente uma necessidade de mecanismos financeiros para girar estoques, apoiar vendas e apoiar o produtor na ponta.

“É exatamente aí que a Agrolend cria valor, conectando capital à necessidade real, com agilidade, precificação adequada ao risco e escalabilidade”, disse.

A empresa ainda se posiciona num momento de mudança desse mercado de revendas. Glazer afirmou que a tese de consolidação de revendas “perdeu relevância”, o que tem gerado um apetite das matrizes das multinacionais em ampliar o crédito no agro brasileiro.

O efeito disso? Para ele, alternativas de financiamento que “reduzam atritos, preservem capital de giro e deem visibilidade na cadeia”. É nessa equação que a Agrolend aposta, unindo indústria, distribuição e produtores em uma só estrutura.

“Temos plataforma tecnológica, processos de crédito testados, capacidade de originação e acesso a funding para construir, junto ao mercado, essas soluções sob medida que façam a diferença já nesta safra”, continuou.

Antes de captar na rodada Série C com investidores como Creation Investments, Syngenta Group Ventures, Vivo Ventures, L4 (braço de venture capital da B3) e o japonês Norinchukin Bank (Nochu Bank), a Agrolend já havia levantado US$ 43 milhões em rodadas prévias com empresas como Valor Capital, Lightrock, Yara Growth Ventures, Provence Capital, SP Ventures e Barn Invest, que reinvestiram na última rodada.

Além disso, numa extensão da Série C trouxe a Jica, agência internacional de cooperação do governo japonês.

Resumo

  • Agrolend alcança R$ 600 milhões em carteira de crédito e amplia atuação para grandes indústrias de insumos agrícolas
  • Agfintec aposta em produtos modulares e funding via LCAs, com 20 mil investidores pessoa física em plataformas como XP e Itaú.
  • Em meio à retração dos grandes bancos, empresa cresce conectando capital ao produtor com agilidade e tecnologia