A palavra bienalidade, um tanto em desuso no mercado brasileiro do café arábica, pode voltar às rodas de negociação da commodity. Após seguidas safras de oferta em queda ou estável, a alternância de ciclos positivos e negativos na produção deve voltar em 2026/2027, de acordo com projeções da Cofco International, uma das maiores comercializadores da commodity no mundo.

“Na próxima safra esperamos o retorno de bienalidade positiva diante da perspectiva de completa ausência de efeitos climáticos extremos, como geada e falta de chuva, e projetamos uma oferta de 45 milhões a 48 milhões de sacas de arábica”, afirmou Felipe Augusto Lima de Oliveira, head global de pesquisa em café da Cofco, durante o Coffee Latam 2025, nesta semana, em Campinas (SP).

Se confirmada, o teto da estimativa de oferta de arábica ficará perto do recorde de 48,77 milhões de sacas, anotado em 2020. Para a atual safra 2025/2026, em plena colheita no País, a trading estima uma oferta de 38 milhões de sacas. O volume foi prejudicado pelo rendimento abaixo da média, com grãos menores e mais leves.

As chuvas foram insuficientes, especialmente no período de enchimento dos frutos em fevereiro e março. Na safra passada, também prejudicada pelos efeitos climáticos, a oferta superou 39,5 milhões de sacas de arábica.

O cenário para o café conilon é o inverso e a atual safra brasileira, com 26 milhões de sacas, caminha para ser a maior da história. “Nossas estimativas de campo indicaram excelentes condições vegetativas, altas produtividades, tratos culturais em dia e constante expansão de área”, informou o executivo da Cofco durante o evento.

Oliveira lembrou que, por pouco, o Brasil não superou o Vietnã como maior produtor do café robusta, já que o país asiático deve ofertar 28,5 milhões de sacas.

No entanto, na avaliação da Cofco, a liderança brasileira pode vir entre cinco e dez anos, quando a colheita mecanizada das lavouras no Brasil, um gargalo, for superado.

“Embora seja muito cedo para confirmar, esperamos uma safra similarmente volumosa em 2026/2027 para o conilon”, relatou Oliveira.

A trading chinesa conta com 2 mil pontos georreferenciados - a maioria com dez anos de apontamentos - em propriedades rurais e com levantamentos três vezes ao ano, além de um suporte meteorológico nos Estados Unidos para fazer suas estimativas.

A recuperação da oferta brasileira de café arábica e o crescimento sustentado do robusta no País, no Vietnã e em Uganda devem trazer, na safra 2026/2027, a volta do superávit global entre oferta e demanda.

Após quatro anos de déficit e um acumulado estimado em 27 milhões de sacas, a Cofco estima um excedente próximo a 10 milhões de sacas na próxima temporada.

A melhoria na oferta, no entanto, pode enfrentar uma saturação no consumo global de café, avalia a Cofco.

“Globalmente, o consumo aparenta estar testando um teto em torno de 180 milhões de sacas, sinalizando uma possível saturação em um cenário macroeconômico desfavorável, de baixo PIB, inflação e perda de poder de compra”, aponta a trading.

Para estimar consumo em países não-produtores, a Cofco calcula o chamado "desaparecimento". A variável envolve o cálculo do fluxo comercial líquido - importações menos reexportações - além das mudanças nos estoques, caso ocorram.

Mercados maduros como União Europeia e Japão apresentam queda anual no consumo. Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e China mostram sinais de desaceleração e crescem menos que nos anos anteriores, segundo a Cofco.

O cenário pode piorar, já que a demanda tende a recuar com o tarifaço estadunidense sobre o café brasileiro. Com isso, o teto de 24 milhões de sacas de consumo previsto também para o próximo período não seria atingido por causa da alta nos preços do café no mercado local.

Segundo Oliveira, a queda na demanda global pode não ser tão ruim para o Brasil, já que os cafés de maior valor agregado e especiais podem ser os mais atingidos pela limitação do consumo.

“A demanda por robusta já é maior e deve crescer e por cafés naturais do Brasil pode aumentar também”, afirmou o executivo da Cofco.

A trading avalia que entre os países produtores, o Brasil ainda é o maior consumidor e, mesmo com os preços recordes, tem uma projeção estável de demanda para 2025/2026 em torno de 22 milhões de sacas.

Resumo

  • Com retorno da bienalidade positiva, oferta brasileira de café deve crescer fortemente em 2026/2027, chegando a 48 milhões de sacas de arábica
  • Segundo a Cofco, combinação do aumento de produção no Brasil, Vietnã e Uganda pode gerar um excedente de até 10 milhões de sacas
  • Isso reverteria a situação dos estoques globais, encerrando quatro anos de déficit acumulado em 27 milhões de sacas

Felipe Augusto Lima de Oliveira, head global de pesquisa em café da Cofco