Em menos de dez anos, o empresário Frederico Humberg transformou uma ideia em um negócio. Em 2016, criou uma trading para dar vazão internacional ao milho produzido na região Sul do País e, assim, gerar uma alternativa ao poderio das gigantes multinacionais do chamado grupo ABCD - formado pelas processadoras e exportadoras globais ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus.

Cresceu impulsionado pelos volumes cada vez maiores da commodity e se consolidou com a aquisição de parte do Terminal Portuário de Santa Catarina (TESC), em São Francisco do Sul (SC), em 2021. Assim, fez da Agriobrasil a terceira maior exportadora de grãos com com capital 100% nacional foi a aquisição de parte do Terminal Portuário de Santa Catarina (TESC), em São Francisco do Sul (SC), em 2021.

Isso até esta segunda-feira, 28 de julho. Nesta data, ele assinou um memorando de compra e venda em que transfere o controle acionário da companhia para a Solaris Brazil Trading Holding S.A., subisidiária da ME Solaris Commodities Holding, pertencente ao fundo soberano de Omã, uma das cinco maiores tradings de trigo do mundo.

Também foi incluída no negócio a participação de 51% da Agribrasil no TESC. Segundo apurou o AgFeed, a Solaris teria adquirido ainda outras participações minoritárias, passando a ser controladora majoritária do terminal, que mantém agora apenas um acionista minoritário.

Não foram informados os valores ou qual o tamanho da fatia adquirida pela companhia da Península Arábica na Agribrasil.

Em comunicado protocolado na manhã desta terça-feira, 29 de julho, na CVM, a Agribrasil informou apenas a assinatura do contrato entre as partes. No texto, aponta que a Solaris “investe na cadeia de suprimentos, com o objetivo de promover a integração vertical de ativos alinhados ao seu negócio de comercialização de commodities agrícolas”.

“O investimento permitirá à Solaris ingressar nos mercados brasileiros de comercialização de milho e soja, garantir acesso à infraestrutura logística portuária, diversificar sua oferta de commodities e contribuir para a segurança alimentar”, prossegue a nota.

Segundo o documento, a consumação da operação está condicionada ao cumprimento (ou renúncia, conforme o caso) de determinadas condições precedentes, como “a obtenção das aprovações regulatórias cabíveis perante a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE”.

E também ressalta que, como não há ações da Agribrasil em circulação, os atuais acionistas permanecerão na posse da totalidade do seu capital até o fechamento do negócio, sem que seja necessária, portanto, a realização de oferta pública de aquisição de ações.

O AgFeed apurou também que o acordo prevê a permanência de Humberg na companhia por pelo menos quatro anos.

A transação ocorre em um momento em que o empresário dizia estar em busca de caminhos alternativos para manter a expansão de seus negócios. Ele queixava-se do custo de capital para financiar novos investimentos, depois de aportes volumosos feitos no TESC.

Em entrevista ao AgFeed no início de junho passado, ele afirmou ter planos para levar a capacidade do terminal das atuais 7,5 milhões de toneladas de grãos para até 14 milhões de toneladas anuais.

Em uma primeira etapa, já estudava chegar a 9 milhões de toneladas em um projeto já em processo de licenciamento ambiental e de aprovação junto às autoridade portuárias.

Mas queixou-se de que os atuais juros tornavam um voo maior inviável no momento. “É difícil para o empresário tomar uma decisão de crescimento, de novos investimentos, em um cenário de juros tão altos”, declarou.

Outro de seus planos para a Abribrasil, o de um IPO, também foi abortado em função do cenário macroeconômico, que paralisou as novas ofertas públicas de ações na B3.

“Nós somos uma empresa órfã do IPO, que fez todo o processo e até nos listamos em agosto de 2021, mas sem oferta. Desde então, infelizmente, no Brasil não teve nenhum IPO de nenhuma empresa”, lembrou o empresário.

“É uma pena, porque não trouxe capital fresco e não teve uma injeção de equity na empresa para o crescimento”.

Com endividamento baixo, uma relação dívida versus Ebitda de apenas 0,8 vezes para a Agribrasil e de 2,7 vezes para o TESC, e com a oferta cada vez maior de grãos para exportação e por outros modais, Humberg avaliou que seria “possível contrair nova dívida para sustentar o crescimento”, mesmo no atual cenário.

E, então, adiantou que um aporte poderia vir de investidores estrangeiros, já que, segun do havia percebido em conversas com grupos de outros países, interesse maior por ativos brasileiros.

“Temos sentido que o mercado investidor nos BRICS, também por falta de opção, começou a olhar o Brasil novamente e, pelo menos no início, tem tido bastante conversas”, afirmou.

No primeiro trimestre de 2025, a receita líquida somou R$ 1,361 bilhão, alta de 302% em relação aos R$ 341,3 milhões do primeiro trimestre de 2024 e o volume operacionalizado de grãos cresceu 75%, para 1,016 milhão de toneladas.

O lucro líquido da Agribrasil foi R$ 2,9 milhões no trimestre inicial de 2025, revertendo o prejuízo de R$ 3,1 milhões registrado em igual período de 2024.

O intervalo entre janeiro e março é considerado de baixa para a companhia, já que as exportações de milho são maiores após a safrinha, ou seja, a partir do segundo semestre de cada ano.

Resumo

  • Agribrasil foi vendida para a Solaris Brazil, ligada ao fundo soberano de Omã, que também adquiriu o controle do Terminal Portuário de Santa Catarina
  • Valores não foram revelados. Antigo controlador, Frederico Humberg deve permanecer na empresa por mais quatro anos
  • Humberg tinha nplanos de expansão da empresa e do TESC, mas queixava-se do custo de capital para finaciar os investimentos