Quem pega para ler o balanço de qualquer instituição financeira pela primeira vez geralmente entende muito pouco do que está escrito, o que é até natural – não é todo dia que nos deparamos com termos como patrimônio líquido, reserva de lucros e valor adicionado bruto.
Quando jovem, o gosto do empresário goiano Pedro da Matta, hoje CEO da Audax Capital, era justamente decifrar essa “novilíngua” própria das demonstrações financeiras. “Sempre li bastante balanço de banco e, como eu leio muito, fui gostando da área de crédito, quis me aperfeiçoar nisso e quis entrar mais a fundo nessa área”, afirma.
Foi a partir desse impulso que Da Matta criou, com apenas 24 anos, seus primeiros negócios que resultaram na atual Audax Capital. Primeiro, ele criou uma factoring, depois uma securitizadora e, por fim, FIDCs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios).
“Nunca trabalhei num FIDC, nunca trabalhei em uma securitizadora, aprendi tudo por conta própria mesmo. Eu criei uma securitizadora, por exemplo, sem nunca ter entrado numa”, conta Da Matta.
Só neste ano, a Audax, grupo hoje composto por uma securitizadora e dois FIDCs, deve operacionalizar R$ 1,7 bilhão em operações de crédito com empresas do agronegócio, indústrias e outros segmentos, e a ideia é chegar a R$ 700 milhões em ativos sob gestão ao fim de 2025.
Nos últimos cinco anos, a Audax originou mais de R$ 5 bilhões em operações de crédito e, no ano passado, afirma ter atingido R$ 720 milhões em créditos cedidos, com R$ 400 milhões sob gestão.
Até aqui, essa poderia ser a história de uma empresa como tantas outras sediadas na Faria Lima. Mas não é.
Isso porque a Audax não está sediada no centro financeiro do Brasil, mas sim no interior de Goiás, na cidade de São Luís de Montes Belos, de apenas 35 mil habitantes, situada a 120 quilômetros de Goiânia.
Para muita gente, a distância era um problema. Mas não para Da Matta, que viu nisso uma oportunidade de fazer negócios com o agro – ainda que a intenção não fosse exatamente essa no começo.
“A ideia, bem lá atrás, não era tanto ser especialista no agro, era mais estar no mercado financeiro, ter um FDIC ou algo assim”, conta o gestor.
“Só que minha família é de agricultor, pai, mãe, padrasto, meus tios, todo mundo vem de agricultura e pecuária. Eu nasci dentro de fazenda também, vivi a vida inteira dentro de fazenda, sempre fui acostumado com essa questão de estar no meio do agro e de relacionar com as pessoas do agro.”
Próximas dos produtores do Centro-Oeste, a Audax passou a fazer (muitos) negócios com as empresas do agro que tenham um faturamento mínimo de R$ 80 milhões de anos.
“Fornecemos crédito para agropecuárias, revenda de fertilizantes, sementes e uréia. Qualquer empresa que queira tomar crédito e ter um bom rating aqui dentro, a gente quer trabalhar com ela, a gente não está olhando nenhum ramo específico ou rejeitando nenhum ramo”, explica Da Matta.
Hoje, a casa opera dois FIDCs. Um fundo, mais antigo, tem hoje um patrimônio líquido de R$ 245 milhões e outro, mais recente, lançado em março passado, tem patrimônio líquido de R$ 50 milhões.
De toda a carteira da Audax, 35% está em Goiás e o restante em outros estados como São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. “Mas operamos no Brasil inteiro, em mais de 20 estados”, afirma.
Da Matta avalia que a proximidade com os produtores é um trunfo no momento de verificação de crédito.
“Na hora de fazer a checagem desse título e de verificar o lastro, a gente tem que ligar para o produtor rural. Nem sempre é fácil porque o cara não atende o telefone no horário comercial ou não consegue entender bem o que é um fundo”, diz.
“Não adianta chegar falando ‘faria limês’, tem que falar a língua do produtor rural”, resume.
Há dois anos, a maior parte das operações da Audax – 70% do total – era vinculada ao agro. Hoje, esse montante é de 40%.
Da Matta explica que o recuo aconteceu em decorrência da crise vivida pelo setor de lá para cá. “Eu já tinha certeza de que essa crise do agro não ia ser uma normal igual às outras. Crises no agro são cíclicas, mas percebi que essa era mais forte pela alavancagem e também pelos efeitos pós-pandemia. Decidi tirar o pé do agro”, diz.
Com sua experiência de leitura de balanços, ele conseguiu antever que a rede de revendas AgroGalaxy teria problemas e vendeu sua posição na empresa no começo de 2024, oito meses antes de a varejista entrar com um pedido de recuperação judicial, em setembro.
“Eu já vinha analisando há cerca de dois anos e meio a AgroGalaxy e vi que estavam mal das pernas não só pela quantidade de aquisições que foram fazendo, mas também pelo balanço.”
A expectativa é de que o percentual volte ao patamar anterior assim que houver um momento de bonança mais forte no campo. “Quando tiver a retomada do mercado agro, com certeza a gente vai com 70% novamente”, explica.
Além disso, Da Matta espera criar mais um fundo para fazer mais operações com o agro. “Pode ser tanto FIDC quanto Fiagro, ainda não decidimos o mecanismo”, afirma. A ideia, segundo o gestor, é que esse veículo saía do papel no segundo semestre de 2026. “A gente vai aguardar um pouco mais.”
Resumo
- Com dois FIDCS e uma securitizadora, a Audax Capital, do interior de Goiás, deve fazer R$ 1,7 bilhão em operações de crédito neste ano
- Hoje, 40% das operações estão associadas a empresas do agro; participação chegou a 70%, mas exposição diminuiu com crise do setor
- Se as condições de mercado melhorarem, a Audax planeja lançar novo fundo voltado ao setor no segundo semestre de 2026