Em sua primeira manifestação após o anúncio, pelo governo dos Estados Unidos, de sobretaxas de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, divulgou nesta quinta-feira, 10 de julho, um pronunciamento oficial no qual considerou como “ação indecente” a ação do presidente Donald Trump.
Segundo o ministro, o governo está “agindo de forma proativa” e entrando em contato com os setores mais sensíveis em busca de saídas, principalmente ampliar e procurar novos mercados.
“Telefonei para as principais entidades representativas dos setores mais afetados, o setor de suco de laranja, o setor de carne bovina e o setor de café, para que possamos, juntos, ampliar as ações que já estamos realizando nos dois anos e meio do governo do presidente Lula: em ampliar mercados, reduzir barreiras comerciais e dar oportunidade de crescimento para a agropecuária brasileira”, relatou.
Segundo dados do Mapa, o atual governo conseguiu abrir, desde 2023, 392 mercados para produtos agropecuários brasileiros. Somente em 2025, são 92.
Segundo o ministro, neste momento, a medida é “reforçar essas ações, buscando os mercados mais importantes do Oriente Médio, do Sul Asiático e do Sul Global”, que têm, segundo ele grande potencial consumidor e podem ser alternativa para as exportações brasileiras.
“As ações diplomáticas do Brasil estão sendo tomadas em reciprocidade. As ações proativas acontecerão aqui no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para minimizar os impactos”.
“Aqui é a casa da agropecuária brasileira. Estamos juntos e vamos superar este momento difícil”, concluiu o ministro.
Há, entretanto, limites claros no impacto dessas ações. Exemplo mais claro viria do suco de laranja, que exportou na safra 2024/25 o equivalente a US$ 1,3 bilhão para os Estados Unidos, segundo maior comprador da produção brasileira, depois da União Europeia.
Uma redução significativa do volume adquirido pelos americanos significaria um aumento de oferta em outros mercados menos remuneradores e, com isso, uma redução dos preços globais do produto, que da mesma forma impactaria no desempenho da cadeia produtiva no Brasil.
Além da manifestação de Fávaro, entidades do setor também se pronunciaram através de notas emitidas ao longo do dia. A Confederação da Agropecuária do Brasil (CNA), por exemplo, seguiu no tom de outras que pedem empenho dos canais diplomáticos “para que a razão e o pragmatismo se imponham para benefício de todos”.
“Esta medida unilateral não se justifica pelo histórico das relações comerciais entre os dois países, que sempre se desenvolveram em clima de cooperação e de equilíbrio, em estrita conformidade com os melhores princípios do livre comércio internacional”, destacou a entidade.
“Os Estados Unidos e o Brasil em 200 anos de relações sempre estiveram do mesmo lado e não há qualquer razão para que essa situação se modifique. Os produtores rurais brasileiros consideram que essas questões só podem ser resolvidas em benefício comum por meio do diálogo incessante e sem condições entre os governos e seus setores privados. A economia e o comércio não podem ser injustamente afetados por questões de natureza política”, completou.
Também a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), afirmou “não existir justificativas econômicas para as novas tarifas dada a realidade de anos com superávit norte-americano no comércio com o Brasil, reconhecidamente um parceiro comercial estabelecido e confiável”.
A ABAG afirmou que o contencioso comercial, na verdade, “se trata de uma questão política que precisa ser debatida entre os países”. “Afinal, tal ação não vai só desfavorecer o exportador brasileiro, mas também o próprio consumidor americano”, concluiu.
Resumo
- Carlos Fávaro classificou como "ação indecente" a sobretaxa de 50% imposta por Trump e afirmou que o governo está agindo proativamente
- Orientação do governo é ampliar esforços para abrir novos mercados, especialmente no Oriente Médio, Sul Asiático e Sul Global
- O ministro contatou representantes dos setores mais afetados (café, carne bovina e suco de laranja) para coordenar ações e minimizar impactos