Aos 70 anos e no Brasil desde 2002, a americana Lindsay, companhia especializada em equipamentos de irrigação, tem no seu radar de médio e longo prazos uma convicção: o País é candidato a maior comprador global de equipamentos de irrigação entre 10 anos e 20 anos. E, portanto, desde já um mercado-alvo preferencial.
Prova disso, segundo Claudio Candido Lima, CEO da empresa no Brasil, é que todos os equipamentos da Lindsay hoje já são projetados com a robustez necessária para suportar até três safras por ano - um ritmo de trabalho que só ocorre nas lavouras daqui, mesmo que os pivôs sejam utilizados em outros países.
“A Lindsay tem clareza e vê o Brasil como o mais importante dentro das suas operações e dos seus negócios. Será o maior maior mercado do mundo”, afirmou ao AgFeed.
A companhia tem capital aberto e não divulga números regionalizados. Mas em seus balanços sempre destaca o desempenho brasileiro. Nos resultados do terceiro trimestre do ano fiscal 2025, entre março e maio, a Lindsay reportou altas de 11% na receita da área de irrigação sobre igual período de 2024, para US$ 148 milhões, e de 7% no lucro operacional, para US$ 27,4 milhões.
O destaque apontado pela Lindsay no período foi a receita internacional - ou seja, fora da América do Norte - que cresceu 42%, para US$ 71 milhões, graças “ao Oriente Médio e à manutenção das vendas no Brasil”, informou.
“No Brasil, apesar de ter alguma oscilação, a gente vem percebendo que a tendência é sempre de crescimento”, completou Lima.
Um levantamento realizado pela Embrapa, publicado pelo AgFeed no final de 2024, mostra que havia então no Brasil 33.846 equipamentos pivôs de irrigação instalados, cobrindo uma área de 2.200.960 hectares. Em um ano, segundo o estudo, houve um acréscimo de 140.842 hectares e 3.807 dispositivos.
No total, considerando todas as tecnologias disponíveis, a agricultura nacional tem 9,2 milhões de hectares irrigados. De acordo com os pesquisadores da Embrapa, o País poderia chegar a pelo menos 30 milhões de hectares irrigados sem causar danos à natureza.
Um dos entraves para se chegar lá é a capacidade de investimento dos produtores rurais. No documento de apresentação do balanço da Lindsay, o Brasil também é citado pela crescente taxa de juros, apesar do desempenho positivo das commodities. “No Brasil, os preços das commodities estão melhorando, mas o aumento das taxas de juros continua sendo um obstáculo para o investimento”, informa o relatório.
Lima afirmou, no entanto, que, apesar da alta taxa de juros - a Selic chegou a 15% ao ano na semana passada e produtores pagam ainda mais nos financiamentos -, o perfil do agricultor cliente do setor de irrigação facilita a concessão de crédito.
“O cenário de crédito restrito tem afetado, mas temos percebido preferência do produtor em investimento em irrigação, com muitos benefícios em análise de crédito”, afirmou. Segundo ele, o nível de inadimplência do cliente irrigante é abaixo de 1%, pois suas lavouras têm um seguro natural contra secas.
“A irrigação é um seguro para a safra. Há uma diferenciação de tratamento das instituições financeiras por ser cliente irrigante, já que o risco é muito minimizado”, afirmou.
Outro fator, segundo o executivo, é o prazo menor para o financiamento de equipamentos de irrigação. “Como em dois e meio a três anos um pivô de irrigação se paga, o retorno sobre o investimento é muito rápido”, explicou Lima.
As mudanças climáticas, com chuvas mais concentradas e severas e períodos de seca mais extensos, têm atraído cada vez mais os produtores para o mercado de irrigação. Como apenas 8% das lavouras brasileiras são irrigadas, o potencial de crescimento do mercado local é imenso, de acordo com Lima.
Contribui para as projeções positivas o fato de as novas gerações de produtores serem muito mais tecnificados que as anteriores.
“A segunda e terceira gerações de produtores são as que mais buscam a irrigação e são muito bem preparadas tecnicamente. É comum a gente levar esses produtores para visitar as operações dos nossos equipamentos nos Estados Unidos e eles voltarem decepcionados, tamanha a tecnificação que já têm aqui”, afirmou Lima.
Especializada em pivôs de irrigação, a Lindsay considera as regiões de Paracatu (MG), Luiz Eduardo Magalhães (BA) e o oeste baiano como os principais mercados para os equipamentos. Nessas regiões, de acordo com Lima, “não se planta cultura nova sem ser irrigada”.
As vendas têm crescido também em estados com um regime de chuvas mais previsível. “Quando um produtor de soja de Goiás mais que dobra sua produtividade com irrigação, o negócio é muito rentável”, disse.
A irrigação tem avançado em lavouras perenes e semiperenes, como café, mamão, citros, cacau e cana-de-açúcar. Lima destaca os novos projetos de irrigação em canaviais de usinas.
Além do aumento na produtividade, o uso de pivôs, de acordo com o CEO da Lindsay no Brasil, aumenta o prazo para a renovação total necessária nas lavouras de cana. “A renovação dos canaviais sai de cinco a sete anos para 10 anos, no mínimo”, garantiu.
Apesar de ter engenharia e tecnologia nos Estados Unidos, a Lindsay segue “100% de foco no Brasil” e todos os equipamentos desenvolvidos passam por testes para serem usados em uma quantidade de horas que seriam utilizados no País. Cada equipamento tem o custo estimado de R$ 22 mil por hectare e os pivôs são projetados para irrigar de 80 hectares a 300 hectares cada.
Mesmo sem divulgar números, Lima garante que o Brasil foi o maior foco dos investimentos globais recentes da companhia, o que incluiu aportes na fábrica em Mogi Mirim (SP). Se nos primeiros anos no País a empresa atuava apenas com um escritório e depois com fábrica, desde o início de 2023 a Lindsay transformou o Brasil em uma de suas sedes regionais, trazendo para cá a gestão dos negócios em toda a América Latina.
A companhia tem investido também na chamada irrigação de precisão e oferece, além dos equipamentos para distribuição da água, sistemas inteligentes com sensores e estações climáticas capazes de gerenciar o microclima e informar ao produtor qual é a necessidade de irrigação nas áreas dos equipamentos, com menores consumos de energia e água.
“Nós temos 240 mil equipamentos conectados no mundo e, desses, 80 mil são também estações climáticas que complementam o portfólio”, explicou.
A aposta brasileira da Lindsay fez com que a companhia trouxesse ao País o Corner. O equipamento é um braço que é adaptado aos pivôs e capaz de ampliar a irrigação para as áreas fora dos círculos.
“O braço adicional é capaz de aumentar de 25% a 35% a área irrigada e reduzir o uso das outras áreas não atingidas, cujo manejo é muito complexo”, disse Lima.
A empresa tem operações em 11 países, incluindo o Brasil e, entre os grandes produtores globais, só não opera atualmente na Rússia, cujas vendas foram suspensas após a guerra contra a Ucrânia. Com 200 funcionários no Brasil, além da fábrica em Mogi Mirim a empresa possui escritório em Campinas (SP) e mantém um depósito terceirizado de peças e materiais em Mogi Guaçu (SP).
São 22 distribuidores no País, todos, segundo o CEO da Lindsay, com foco no setor, pois iniciaram as operações em irrigação e antes da diversificação para máquinas - a empresa possui também uma divisão de produção de equipamentos agrícolas e para infraestrutura.
Resumo
- CEO da Lindsay no Brasil diz que empresa prevê que o Brasil será o maior mercado mundial de irrigação em 10 a 20 anos
- País se destaca pelo potencial de expansão de áreas irrigadas (de 9,2 milhões para até 30 milhões de hectares) e o perfil tecnificado das novas gerações de produtores
- A empresa vê crescimento constante no país e já fez do Brasil sua sede para a América Latina, com fábrica, escritório e 22 distribuidores locais