O impacto dos primeiros casos de gripe aviária no Brasil para o principal insumo de granjas, o milho, ainda divide a opinião de analistas do setor.
Diante da incerteza sobre o avanço da influenza, de alta transmissibilidade, ainda é cedo para avaliar se o cereal, com um consumo anual em torno de 30 milhões de toneladas pela avicultura, será prejudicado pela doença.
De acordo com analistas ouvidos pelo AgFeed, se o controle da influenza aviária for efetivo e restrito à granja comercial de Montenegro (RS), o impacto máximo de demanda pela redução nas exportações após o embargo ao frango por vários países é estimado em, no máximo, 1 milhão de toneladas.
É um volume pequeno, que causa “um estrago momentâneo”, na avaliação de Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consultoria. E que, por enquanto, não deve ter influência nas cotações do milho.
“O impacto no atual cenário com o alojamento menor de frangos até junho é de uma demanda entre 500 mil e 1 milhão de toneladas a menos no setor de ração, volume que pode ser consumido no segundo semestre com a normalização do mercado”, disse.
O volume é pequeno em relação à demanda anual das granjas no País, de acordo com Brandalizze.
Para o especialista, o embargo ao frango brasileiro por grandes clientes como China e países europeus os forçam a desovar estoques do produto para suprir a demanda local. Mas, no médio prazo, o Brasil é o único mercado capaz de suprir a demanda com preços competitivos.
“Se o foco ficar concentrado no Rio Grande do Sul e sem problemas nos demais estados, rapidamente se resolve isso”, disse.
Até o momento, portanto, o impacto de resume à reversão de expectativas em relação a um consumo maior do grão, com um possível aumento da produção nas granjas – tendência que vinha se confirmando até que foi identificado o caso de gripe aviária.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços apontam que, no acumulado anual até a semana passada, as exportações de frango somaram 1,955 milhão de toneladas, alta de 8% sobre igual período de 2024, com 1,811 milhão de toneladas.
Com os embargos já anunciados, o recorde esperado para 2025 nas exportações de frango, que pode não acontecer, segundo Brandalizze. “No ano passado foram quase 5 milhões de toneladas exportadas e esperávamos até 5,3 milhões de toneladas. É possível que esse volume fique menor, mas perto de 2024”.
Já Raphael Bulascoschi, analista das áreas de milho e soja da StoneX, alerta que a preocupação com os impactos no mercado é grande, pois a gripe aviária se espalha rapidamente e não há clareza sobre o caminho da doença em plantéis comerciais no Brasil.
Para os produtores de milho, essa incerteza fica em torno das cotações do cereal. O surgimento do caso coincide com o período da safrinha de milho, em que, em virtude da maior oferta, os preços são normalmente mais baixos.
O indicador do milho Esalq Cepea/BM&F Bovespa mostra, por exemplo, um recuo de mais de 9,3% no valor da saca nos últimos 30 dias, caindo de quase R$ 85 há um mês para menos de R$ 73 na segunda-feira, 19 de maio. Nos últimos dias, já com o impacto da gripe aviária, o recuo foi pequeno.
O quadro poderia mudar, de fato, apenas com um eventual alastramento da doença para outras regiões, com impacto mais duradouro e amplo do problema, mas os analistas consideram prematuro fazer projeções sobre preços futuros.
Segundo Bulascoschi, “o momento é de atenção, de incerteza, mas o governo brasileiro tem se mostrado eficiente no controle da doença” desde o primeiro caso confirmado em uma granja comercial, na última quinta-feira, 15 de maio.
O analista lembra que o mercado de rações animal ainda é o maior consumidor de milho da produção brasileira, com 67 milhões de toneladas das 87 milhões de toneladas da demanda doméstica anual do cereal.
A Stonex estima que a oferta total brasileira seja de 132,4 milhões de toneladas de milho em 2024/2025, com 104,3 milhões de toneladas na safra de inverno que começou a ser colhida e teve um desenvolvimento considerado excelente. O volume deve ser abaixo apenas da produção de 2022/2023, de 139,47 milhões de toneladas.
Outro destino importante para o milho é o mercado de etanol, que tem crescido exponencialmente nos últimos anos no Brasil. O setor produtor do biocombustível estima que a oferta para o etanol, atualmente de 18 milhões de toneladas por safra, supere 30 milhões de toneladas em dez anos com os novos projetos de usinas.
Casos
O Brasil tem sete casos em investigação da chamada Influenza Aviária de Alta Patogenicidade, até o início da tarde desta terça-feira. Dois deles, em galinhas domésticas de subsistência, estão nos municípios gaúchos de Triunfo e Estância Velha.
Essas localidades ficam nas proximidades de Montenegro (RS), onde houve um foco confirmado em uma granja comercial, e de Sapucaia do Sul (RS), onde houve outro foco em animais silvestres.
O Rio Grande do Sul tem ainda outro caso em investigação, de uma ave silvestre no município de Derrubadas, no extremo norte do Estado. Os outros casos em apuração são em Ipumirim (SC), Aguiarnópolis (TO), Eldorado dos Carajás (PA) e Salitre (CE).
Resumo
- Principal insumo da avicultura pode ter uma queda de até 1 milhão de toneladas na demanda no curto prazo
- Segundo analistas, esse volume pode ser recuperado no segundo semestre com a retomada de exportações
- Até o caso de gripe aviária no RS, exportação de frango em 2025 seguia em nível superior ao de igual período do ano passado