O primeiro caso de gripe aviária registrado em granja comercial no Brasil, confirmado na última sexta-feira, 16 de maio, já trouxe efeitos negativos importantes para a avicultura nacional. Nove destinos do frango brasileiro suspenderam as importações do produtos, outros países ainda devem se manifestar e os prejuízos estão sendo calculados, mas podem ultrapassar a casa de R$ 1 bilhão.

Além disso, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) está verificando possíveis focos da doença em outras regiões do Brasil. A pasta informou que na cidade de Aguairnópolis (TO), uma análise preliminar de amostras coletadas em uma granja indicou presença do vírus Influenza A, mas com baixa probabilidade de ser um vírus com alta patogenicidade.

O ministério investiga ainda outro possível caso em uma granja comercial em Ipumirim (SC). A cidade está localizada no Oeste catarinense, uma das grandes regiões produtoras de aves e suínos do Brasil.

Há ainda casos sendo investigados em propriedades de criação de aves de subsistência, que não trazem impacto comercial ao Brasil. Um deles é em Triunfo (RS), município que faz divisa com Montenegro, cidade onde foi registrado o primeiro caso de gripe aviária no país.

As amostras coletadas foram enviadas para o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo, em Campinas (SP) no fim de semana. No domingo, dia 18 de maio, o ministério projetava que essas amostras seriam processadas nesta segunda-feira, com previsão inicial de resultado preliminar para o final do dia.

O governo investiga ainda casos em aves de subsistência nas cidades de Nova Brasilândia (MT), Gracho Cardoso (SE) e Salitre (CE), segundo informações do painel virtual de investigações de síndrome respiratória e nervosa de aves realizadas pelo Serviço Veterinário Oficial do governo.

Também há um foco confirmado de vírus H5N1 em Sapucaia do Sul (RS), outra cidade da região metropolitana de Porto Alegre, detectado em aves silvestres e que causou a morte de mais de 90 animais no zoológico da cidade.

A crise também traz efeitos para a exportação do produto nacional. Até o momento, China, União Europeia, Argentina, Uruguai, Chile, Canadá, Coreia do Sul, África do Sul e México suspenderam completamente as compras do frango brasileiro.

Outros países como Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Filipinas fizeram restrição parcial das exportações, deixando de comprar produtos apenas da região onde houve confirmação de caso do vírus.

Por enquanto, o embargo às exportações brasileiras de frango deve durar 60 dias, mas o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse no fim de semana que o fluxo comercial pode ser retomado mais cedo do que o previsto.

“Temos espaço para negociar, o foco é de aproximadamente 28 dias e se conseguirmos eliminar o foco e rastrear os animais, acreditamos que com transparência e eficiência, o fluxo possa ser normalizado antes dos 60 dias”, disse Fávaro em um encontro com a Secretaria da Agricultura do Paraná, o maior produtor e exportador de frango do país, no sábado, dia 17 de maio.

Autoridades e lideranças do setor avícola já dão como certo que haverá algum impacto financeiro pela interrupção de remessas para os grandes compradores do frango nacional, mas ainda não há um número cravado oficialmente.

De acordo com a CNN Brasil, parceira editorial do AgFeed, o Brasil deve deixar de exportar mais de R$ 1,3 bilhão por mês, considerando que as exportações de carne de aves do Brasil para seis dos destinos que já anunciaram a interrupção nas compras (Argentina, China, Chile, México, Uruguai e União Europeia) somaram mais de US$ 230 milhões (R$1,3 bilhão na cotação atual) apenas no mês de abril, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Somente a China, país que mais importou frango brasileiro em abril, foi responsável por US$ 127,1 milhões em compras no período, seguida pelo México (US$ 44 milhões), União Europeia (US$ 35,3 milhões), Chile (US$ 18 milhões), Argentina (US$ 5,4 milhões) e Uruguai (US$ 324,8 mil).

O consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, chegou a números semelhantes. “O Brasil pode deixar de exportar até US$ 200 milhões em carne de frango em um mês devido às suspensões. Esse montante corresponde a uma possível redução de 100 mil toneladas, considerando o preço médio de US$ 2.000/tonelada. A média mensal de exportações em 2025 tem girado em torno de 465 mil toneladas”, afirmou o consultor em análise publicada em seu perfil no LinkedIn.

Cogo atentou ainda para os impactos que a interrupção pode trazer para além da avicultura em si. “Pode se estender para os mercados de carne suína e bovina, bem como para a cadeia de insumos, especialmente grãos como o milho, utilizado na alimentação animal”, diz o consultor.

O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, evitou cravar um número exato de prejuízos em entrevista ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, mas admitiu que existirão. “Existe prejuízo, mas hoje não tem como dizer qual é”, disse Santin.

No ano passado, o total das exportações do segmento atingiu perto de 5,3 milhões de toneladas, gerando US$ 9,9 bilhões em receitas. Somente para a China foram embarcadas 562 mil toneladas, cotadas a US$ 1,28 bilhão.

O vírus da gripe aviária nunca tinha sido registrado em granjas comerciais no Brasil até então e vem circulando desde 2006 em diferentes partes do mundo, principalmente na Ásia, África e norte da Europa. Sua primeira aparição, no entanto, foi mais antiga, com o primeiro caso tendo sido registrado na China, em 1996. O governo federal salienta que o vírus não é transmitido à população pelo consumo de frango e ovos.

Resumo

  • Caso de gripe aviária em granja comercial levou à suspensão das importações de frango por nove destinos, entre eles China e União Europeia. Prejuízo pode superar R$ 1 bi
  • Mapa investiga possíveis novos focos do vírus em granjas comerciais no Tocantins e em Santa Catarina
  • Além das perdas diretas nas exportações de carne de frango, crise pode afetar também as cadeias de carnes suína e bovina e de insumos como o milho