Localizado bem em frente ao principal portão de entrada da maior feira de máquinas agrícolas do País, o estande da agtech Solinftec dificilmente costuma passar despercebido dos visitantes da Agrishow.
Principalmente de quem se depara com o Solix, robô agrícola que fez da empresa criada em Araçatuba (SP), um case global no desenvolvimento de equipamentos autônomos para uso na lavoura.
Não foi diferente na edição da feira que terminou na última sexta-feira, 2 de maio, em Ribeirão Preto. A curiosidade gerou interesse, que gerou movimento, que gerou negócios. Ao final do evento, a companhia contabilizava, ainda provisoriamente, um crescimento de 20% acima da meta de vendas do Solix, para os mercados de cana, grãos e algodão.
Além disso, segundo informou ao AgFeed, se confirmadas as negociações firmadas ali, registraria a expansão da base de clientes em 1 milhão de hectares contratados em novas parceria, com o fortalecimento da sua plataforma de inteligência artificial, a Alice, com maior adoção por produtores e integradores.
Antes mesmo da Agrishow a Solinftec já havia estabelecido, para o ano, planos de crescer mais de 20%. E manteve, na feira, a estratégia de investir na apresentação de novidades tecnológicas.
Durante encontro com jornalistas, o vice-presidente global da empresa, Denis Arroyo, repetiu mais de uma vez a frase “2050 é agora”, buscando destacar, junto com outros executivos, os ganhos já alcançados pelas centenas de robôs Solix que estão trabalhando nas lavouras e o potencial dos lançamentos que começam a chegar ao mercado.
Desta vez, a principal novidade apresentada foi o que a empresa chamou de “primeiro e maior comparativo de máquinas do mercado”.
É uma nova funcionalidade da plataforma Alice que permite aos produtores analisar o desempenho do seu maquinário e comparar com uma base de dados reais de mais de 70 mil máquinas. Segundo a Solinftec, são máquinas monitoradas em todos os cultivos ao longo dos últimos 18 anos e, em média, há um acréscimo anual de 7 mil unidades.
O chamado “Benchmark de Máquinas” oferece mais de 10 indicadores estratégicos, considerando marcas e modelos, processos e operações com informações como consumo de combustível, rendimento operacional, disponibilidade mecânica, capacidade operacional, entre outros.
Em tese, o produtor poderá por exemplo comparar marcas diferentes e fazer escolhas mais assertivas na hora de renovar a frota.
Em entrevista ao AgFeed, Denis Arroyo, disse, no entanto, que não é esse o objetivo é sim que o produtor compare seus dados com o benchmark próprio, apenas tornando mais eficiente sua operação.
“Na verdade, se eu sou um dono de usina, por exemplo, eu vou comparar a minha produção de máquinas com as máquinas de outros grupos, eu não necessariamente vou comparar máquina com máquina”, ponderou.
O benchmark também permite análises comparativas de desempenho entre operadores de um mesmo equipamento.
“Conversa” com ChatGPT
Outro destaque da Solinftec na feira foi o anúncio de que a plataforma digital da empresa e também o robô Solix estão sendo integrados ao ChatGPT, solução de inteligência artificial generativa da OpenAI que vem sendo amplamente utilizada globalmente.
O objetivo é permitir que usuário busque orientações agronômicas, recomendações, análises sobre clima e operação das máquinas, enquanto utiliza os produtos da empresa.
O executivo da Solinftec adiantou ao AgFeed que essa orientação não será apenas por mensagem de texto mas também por envio de “áudios”, um hábito comum entre os produtores rurais que usam massivamente o whatsapp.
“Essa integração é vocal. Estamos (testando) em um ambiente ainda controlado, mas eu abro um aplicativo aqui, o Solix, no celular, enxergo todos os robôs que eu tenho, abro um deles, chamo e falo: ‘olha, amanhã vou aplicar um determinado produto’”, explicou Denis Arroyo.
Com esse comando, o robô teria condições de buscar dados em toda a base de conhecimento da Solinftec, mais tudo o que há no ChatGPt como materiais técnicos e históricos.
O próximo passo, segundo ele, é trabalhar com agentes de IA, um modelo em que não é necessário fazer a pergunta, já que os próprios “especialistas” virtuais de terminados temas vão trazer o alerta e avisar se há algo para ser visto ou refeito naquela operação.
Eficiência no campo
A Solinftec mostrou dados sobre ganhos de eficiência que vêm sendo observados com o uso dos robôs e plataforma digital em diferentes cultivos.
Na soja, a safra 2024/2025 foi a terceira observada pela empresa. Segundo a pesquisa, houve uma redução média de 80% no uso de defensivos agrícolas e de até 95%, em alguns casos.
Na visão de Arroyo, um ponto importante foi observar que os ganhos ocorrem tanto em safras de clima mais seco quanto em períodos mais chuvosos, o que antes ainda era uma dúvida.
Na cana-de-açúcar, a redução média de aplicação foi de 82%, onde o uso da tecnologia teria evitado a utilização de 112 mil litros de herbicidas.
Pela primeira vez, a empresa também monitorou resultados do uso dos robôs em áreas de integração pecuária e lavoura. O Solix foi usado para o manejo e controle de plantas daninhas nas pastagens, visando a redução do uso de herbicidas. Segundo a empresa, houve uma diminuição de 90% na aplicação do produto 2,4D.
Durante o encontro com jornalistas na Agrishow, a Solinftec reafirmou sua meta de alcançar R$ 450 milhões em receita este ano, acima dos R$ 370 milhões de 2024, A expectativa é ter 700 robôs trabalhando nas lavouras, entre Brasil e Estados Unidos, até 2026.