Ribeirão Preto (SP) - Na terça-feira, 29 de abril, a temperatura em Ribeirão Preto estava abaixo dos 30 graus celsius na parte da manhã. Mais agradável do que o normal para a cidade do oeste paulista. Mas, especificamente em algumas salas da Harven Agribusiness School, mesmo com o ar-condicionado ligado, a temperatura estava elevada.

Isso porque ali acontecia o Agrimatching, uma competição entre startups do agro promovida pela Rural, no âmbito do evento Rural Summit. Pela manhã, 45 startups, divididas em três estágios de maturação diferentes (pré-seed, seed e Série A), apresentaram o negócio para investidores e especialistas no setor.

Do lado de quem avaliou, estavam presentes investidores de companhias como Headline, Arara Seed, Rural Ventures, WBGI, BVC, BluStone, Vibra Ventures, The Yield Lab Latam, BR Angels, Agroven, FIT (Instituto de Tecnologia da Flex), Bayer, Tereos Açúcar e Energia Brasil, eAmazonia, Itaú BBA, Stamina Ventures, Barn, Suzano Ventures, Impactability e GVAngels.

Diante de um crivo experiente e variado, as vencedoras foram a Natu Seguros, na categoria “pré-seed”, a Certificafé, na categoria “seed”, e a BemAgro na categoria Séria A.

Para Juliana Chini, sócia e head de inovação aberta da Rural, esse tipo de competição e premiação é comum em outros setores ou em eventos generalistas de startups.

"No agro, quase não tem e, quando tem, não possui muitos critérios. Ano passado o Agrimatching foi um sucesso, pois foi bem direcionado para um público pequeno mas qualificado", disse ao AgFeed.

Neste ano, a Rural preparou uma premiação para as startups "vencedoras" dessa espécie de concurso. Os prêmios incluem US$ 150 mil em créditos de nuvem, cursos de capacitação, ingressos para eventos internacionais e um estande exclusivo na edição 2025 do Global Agribusiness Festival.

As vencedoras

Campeã da primeira categoria, a Natu Seguros é uma startup criada em setembro do ano passado que atua com seguros paramétricos para eventos climáticos extremos, com foco específico em produtores rurais.

Os fundadores do negócio são Paula Caldeira, que atua como CEO, e Luiz Fernando Guerreiro. Ambos são empreendedores experientes no mercado.

Paula Caldeira é uma executiva com mais de 10 anos no mercado financeiro, com passagens por instituições como BTG e BofA. Além da Natu, é sócia da Plugify, uma fintech que atua com aluguel de equipamentos de TI, e tem como acionista a Porto, de seguros.

Já Guerreiro é um dos criadores da Petlove, ecommerce focado no mercado pet. Por lá, foi CEO em 2021, e hoje é membro do conselho de administração.

Nando, como é conhecido o co-fundador no mercado, explicou ao AgFeed que a empresa foi criada após os sócios passarem um ano entrevistando produtores a fim de verificar o porque do seguro rural ter baixa aderência no Brasil.

As principais reclamações recebidas envolvem o alto preço do seguro tradicional, uma baixa cobertura, um excesso de obrigações e uma perícia ampla e pouco objetiva.

“Fazemos tudo que uma seguradora faz, desde originar o cliente, conversar e entender riscos. Mas montamos um produto objetivo e precificado de acordo com a demanda e risco que ele quer assumir”, diz.

“O produtor escolhe o preço que vai pagar e a cobertura que vai querer, em sacas. Não tem perícia e nenhuma obrigação”, completa Paula Caldeira.

Os sócios explicaram que a startup não “carrega o risco no balanço”, e no caso de um prêmio, quem paga é uma resseguradora parceira. A Natu tem contratos com grandes empresas do setor na Europa, como a Generali e a Swiss Re.

Nesses pouco mais de seis meses de atuação, a Natu já fez duas apólices na safra de verão. A expectativa, segundo Luiz Fernando Guerreiro, é fazer 40 apólices na próxima safra. “Estamos menos preocupados com volume e mais com os feedbacks positivos, pelo nosso estágio de empresa”, disse.

Já na categoria seed, a vencedora Certificafé é uma empresa mineira que atua ajudando cafeicultores que desejam obter alguma certificação de boas práticas agrícolas.

Fundada em 2019 pelos sócios Mauro Junior, que é CEO, Luciano Oliveira e Leonardo Diniz, todos filhos de produtores de café em Minas Gerais, a companhia fornece um “crivo” para que o produtor conquiste algum selo.

“Percebemos que a maioria dos produtores quer uma certificação para comprovar que sua produção é sustentável, mas esbarra na burocracia e no dia a dia para fazer as adequações. Desenvolvemos uma tecnologia que simplifica para ele fazer as adequações que precisa”, explicou o CEO, Mauro Junior.

Ele estima que a base de clientes hoje conta com 27 mil propriedades de café, em Minas Gerais e nas outras regiões produtoras do País. A solução atende tanto produtores quanto técnicos agrícolas, tradings e cooperativas.

Um dos clientes de destaque, que foi recém conquistado é a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), a maior cooperativa de café do mundo.

Segundo Junior, a cooperativa utiliza a tecnologia para mapear o perfil de sustentabilidade do cooperado, e em cima disso, conduzi-los numa jornada de sustentabilidade para que todos sejam certificados.

A empresa leva em consideração protocolos internacionais como Rainforest Alliance e Fairtrade, e com isso, já vislumbra conquistar clientes em outros países, como na Colômbia.

Desde 2019 Junior conta que a startup dobra de tamanho todos os anos. Para 2025, com a Cooxupé no portfólio e o bom momento no preço do café, que aumenta o apetite do cafeicultor em investir, a expectativa é triplicar o faturamento.

Uma rodada de captação no futuro também está no radar de Mauro Junior. “O fato de termos vencido o prêmio Agrimatching sinaliza um bom fit que temos com teses de fundos. Vamos consolidar nossa participação no setor de café e colocar um pé em outras culturas também”, declarou.

Por fim, na categoria Série A, a vencedora foi a BemAgro. Fundada por Johann Coelho em 2018, a startup de agricultura digital conquistou investidores de peso em 2024. Em uma rodada de cerca de R$ 15 milhões, atraiu CNH, Suzano, Atvos, Rural Ventures, Agroven e MMAgro para escalar sua solução.

A empresa cresceu 50% sua receita no ano passado em relação a 2023, revelou Coelho. "Desde o início da operação buscamos investidores para a BemAgro que pudessem agregar valor às operações, tanto financeiramente quanto na estratégia", disse.

E 2025 começou ainda mais aquecido. Considerando o primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo intervalo em 2024, a receita saltou 141%. A empresa prefere não abrir os números no detalhe.

Ao AgFeed, Coelho revelou que está em conversas para possíveis novas rodadas em breve. “Estamos trabalhando e crescendo, e pensamos em quem sabe nos próximos meses fazer mais uma rodada para seguir nesse ritmo de crescimento”, adiantou.

A startup utiliza tecnologias de análise de imagens captadas por drones e satélites para produzir mapas e relatórios com informações para monitoramento e gestão das lavouras.

Ao longo dos anos, a agtech incorporou modelos de inteligência artificial e visão computacional aos seus produtos e criou soluções de integração ao maquinário agrícola, permitindo a coleta de dados também em campo.

A companhia encerrou 2024 com 6 milhões de hectares monitorados, sendo 60% de cana e o restante se dividindo entre grãos, fibras e culturas perenes, como a silvicultura.

Com o avanço nas florestas, Coelho prevê que 2025 marque um equilíbrio de 50% para a cana e 50% para as outras categorias. A meta é encerrar dezembro com 8,5 milhões a 9 milhões de hectares monitorados pelo software da empresa.