O Moinho Globo, hoje uma das maiores indústrias do setor no Paraná, teve uma origem quase singela. Na década de 1950, o imigrante italiano Ciro Venturelli mantinha uma padaria em Sertanópolis, cidade de 16 mil habitantes no Norte paranaense, próxima à divisa com São Paulo.
Diante da escassez de farinha em determinadas épocas do ano, ele decidiu montar seu próprio moinho com máquinas trazidas do Rio Grande do Sul – e foi a partir daí que começou a prosperar.
O negócio cresceu e logo superou a padaria onde tudo começou, mas o patriarca dos Venturelli provavelmente não imaginava, que 70 anos depois, o Moinho Globo se tornaria uma potência em seu setor setor, com faturamento anual acima de R$ 500 milhões e produção de cerca de 1 toneladas de farinha por dia.
A companhia continua sob as rédeas da família, agora com uma neta do fundador, Paloma Venturelli, na presidência. É sob o comando dela que o moinho tem continuado sua rota de crescimento nos últimos anos – e deve continuar nessa toada à frente, a partir de um plano de investimentos que deve injetar R$ 200 milhões no negócio nos próximos anos.
A rotina de aportes e de crescimento ganhou impulso a partir de 2017, com a inauguração de um novo moinho – que custou ao todo R$ 100 milhões e substituiu a estrutura anterior, localizada também em Sertanópolis.
Em outubro do ano passado, houve mais um salto a partir de uma nova expansão, que custou R$ 33 milhões e ampliou a capacidade de moagem em quase 70%, que subiu de 600 toneladas para 1 mil toneladas por dia. Ao todo, o moinho possui três diagramas, sendo que dois são de 300 toneladas por dia e um de 400 toneladas por dia.
Para 2025, estão previstos investimentos de mais R$ 35 milhões. “Vamos investir na automação das linhas de empacotamento, além da ampliação dos silos de trigo e de farinha”, detalha Paloma Venturelli.
E os planos não param por aí. A empresa pretende dar um passo mais ousado: a construção de um novo moinho, que deve receber um aporte de pelo menos R$ 200 milhões, a ser feito nos próximos anos.
A nova unidade, segundo Venturelli, será instalada fora do Paraná, mas dentro do Sudeste. “É uma região onde já temos liderança de mercado”, despista a presidente da empresa, sem revelar a localização exata.
Com mais um moinho operando, o faturamento do Globo cresceria em relação aos R$ 539 milhões registrados no ano passado. "A gente imagina que ampliaria para pelo menos R$ 750 milhões", diz Venturelli.
Para viabilizar o projeto, a empresa avalia recorrer a investidores ou instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A instituição já apoiou o Globo em 2014, com um financiamento de R$ 29,4 milhões para a construção da unidade atual.
No ano passado, o BNDES aprovou um financiamento vultoso para um outro projeto do mesmo setor e também no Paraná, da J. Macêdo, dona das marcas como Dona Benta, Sol e Boa Sorte, que vai construir uma unidade em Londrina com capacidade de processar 240 mil toneladas de trigo por ano, a ser inaugurado em meados do ano que vem.
Enquanto o novo moinho não sai do papel, o Moinho Globo foca na diversificação de seu portfólio. Suas marcas, Globo e Famiglia Venturelli, somam mais de 140 produtos — desde a tradicional farinha de trigo até pré-misturas para bolos, macarrão caseiro e fermentos — comercializados em 11 estados, com forte presença em São Paulo, seu principal mercado.
“Estamos intensificando o trabalho no canal transformador e no fortalecimento das misturas prontas. Queremos oferecer cada vez mais produtos com maior valor agregado”, afirma Venturelli.
A estratégia visa compensar a estagnação do mercado do trigo, que cresce a passos “muito lentos”, segundo a própria presidente do Globo.

“Há uma migração de volumes do varejo para o canal transformador. As pessoas compram mais produtos prontos e menos farinha in natura. Mas não é um mercado em crescimento”, explica Venturelli, que além de comandar a empresa da família, acaba de assumir o cargo de presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Paraná (Sinditrigo-PR).
O Paraná hoje tem o maior parque de moinhos de trigo do Brasil, com cerca de 60 estruturas em operação, e é responsável por 30% de toda a produção nacional de farinha de trigo.
A expectativa da presidente do Moinho Globo é de que a safra de trigo no Paraná seja melhor em 2025 do que foi em 2024 – no ano passado, a produção da cultura de inverno recuou 36% em relação a 2023, somando 2,9 milhões de toneladas, segundo dados do governo estadual.
O moinho não depende exclusivamente da produção paranaense. Parte do trigo também vem do Rio Grande do Sul e do Paraguai, o que ajuda a mitigar os riscos climáticos locais, segundo Venturelli. “Mas esperamos que neste ano o clima colabore e tenhamos uma produtividade maior”, projeta.
No comando do Moinho Globo desde 2021, após suceder o primo Giancarlo Venturelli, Paloma trabalha na empresa desde 2012. Formada em Administração de Empresas com especialização em marketing, ela conta que sempre foi preparada para assumir a liderança.
“Meu pai começou a me treinar desde pequena, quando eu ainda morava em Curitiba. Trabalhei em outras empresas e vivi outras experiências para chegar até aqui”, relata.
A executiva garante que a família não tem a intenção de vender o controle do moinho. No passado, os Venturelli já haviam feito um planejamento sucessório e um acordo entre acionistas de forma que a família continuasse no comando, mas sob gestão profissional.
“A gente tem paixão pela empresa, paixão pelo que a gente faz, paixão pelos nossos colaboradores. E sonhos de crescimento”, afirma.