O empresário Caio Penido conta que há quase uma década, quando começou o Projeto Carbono da Liga Araguaia, a “intuição” era de que o carbono mantido no solo de áreas de clima tropical seria muito maior do que nas regiões de clima temperado. E que esse carbono poderia virar dinheiro no ainda emergente mercado de créditos ligados à descarbonização.
Um novo projeto da Agro Penido e da SLC Agrícola, com suporte técnico da Embrapa Instrumentação e da agtech Agrorobótica, pretende, enfim, provar que não era só uma intuição.
Batizada de Carbono Xingu, a iniciativa irá utilizar robôs, inteligência artificial e uma tecnologia nascida na década de 1960 e até mesmo utilizada pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) para avaliar 18,5 mil hectares em três propriedades rurais.
São 13 mil hectares convertidos de pecuária para a agricultura na região de Querência (MT) - 9 mil hectares na fazenda Pioneira, em parceria com a SLC Agrícola, e 4 mil hectares na Darro, da Agro Penido.
Na mesma fazenda Darro, outros 4,5 mil hectares serão transformados em áreas de pastagem intensiva, assim como outros 1 mil hectares na Fazenda Água Viva, em Cocalinho (MT).
“Nas duas primeiras, vamos fazer safras agrícolas, com cultivo de soja, milho e gergelim, além da integração entre lavoura e pecuária e vamos conseguir captar o que tinha de carbono no solo”, disse Penido. “Na Água Viva, é uma área de pastagem bem degradada que passará a intensiva e teremos uma avaliação bem distinta”.
Nascida na década de 1960, a tecnologia LIBS - Laser-induced, Breakdown Spectroscopy, ou espectroscopia de avaria induzida por laser, é comumente utilizada e consiste em um pulso de laser de alta energia para analisar e identificar materiais, por meio da vaporização dos átomos.
É a mesma tecnologia utilizada pela Nasa para identificar materiais no solo de Marte, por exemplo. No agronegócio, além da análise do solo, é capaz de avaliar plantas, fertilizantes e sementes, como para identificar se um grão de milho é transgênico ou não.
A plataforma Aglibs, lançada em 2023 pela Embrapa Instrumentação, de São Carlos, e pela Agrorobótica, é fruto da parceria iniciada há uma década entre as empresas estatal e de tecnologia. Essa tecnologia será utilizada pelas empresas nas áreas da Agro Penido e na SLC Agrícola.
“A Embrapa Instrumentação desenvolve essa tecnologia de laser na agricultura desde 2006, adaptada para o clima e para a agricultura tropical. O inédito é tê-la agora em um grande projeto de pecuária sustentável na região do Xingu e com duas empresas que falam de sustentabilidade há muito tempo”, disse ao AgFeed o chefe-geral da Embrapa Instrumentação, José Manoel Marconcini.
Segundo ele, após a avaliação, o robô desenvolvido pelas empresas conseguirá mensurar o quanto se conseguiu estocar de carbono no solo e integrar os dados à metodologia Verra VM0042 para certificação e geração de créditos de carbono auditáveis.
“Além da negociação dos créditos de carbono, o sistema é capaz de gerar mapas de agricultura de precisão com deficiências de nutrientes para indicar o trato de adubo e insumos nas áreas”, completou Marconcini.
Para Penido, os dois projetos criados pela companhia agrícola em busca de oportunidades no mercado de carbono visavam áreas de reserva legal e de restauro da vegetação nativa em áreas de pastagem, ao contrário dessa nova iniciativa.
“Esse projeto provará que nosso sistema produtivo fixa carbono no solo. É um carbono não visual, e essa nova tecnologia vai torná-lo visível para provar que nossos anseios lá de 2014, 2015 estavam certos e que é possível ter mais uma agricultura com mais produtividade, regenerando e enriquecendo”, disse o empresário rural.
Segundo ele, o mercado de créditos de carbono já tem interessados, principalmente empresas de tecnologia grandes consumidoras de energia e ávidas pela compensação. “Falta reconhecer que esse carbono existe como uma nova commodity para a hora que o mundo estiver pagando por esse crédito”, concluiu.