A guerra tarifária entre Estados Unidos e China, com tarifas de três dígitos porcentuais trocadas entre as nações, parece ter dado os primeiros sinais positivos para a soja, principal cultura agrícola brasileira. As avaliações de que o Brasil poderia se beneficiar com a redução da compra do grão norte-americano pelos chineses começam a aparecer nas previsões setoriais.

Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) desta quinta-feira, 17 de abril, com as previsões para 2025, trouxeram como destaque as altas de 2,3% na estimativa para exportação e a redução de 40,6% nos estoques da commodity, ante a estimativa anterior, de março.

Segundo o levantamento, a exportação brasileira da oleaginosa deve chegar a 108,5 milhões de toneladas neste ano, alta de 2,3%, ou 2,4 milhões de toneladas, sobre a previsão de fevereiro, de 106,1 milhões de toneladas.

Se confirmado, o volume exportado será 8,7% superior ao de 2024, quando 98,815 milhões de toneladas de soja em grão foram exportadas.

Daniel Furlan Amaral, diretor de Economia e Assuntos Regulatórios da Abiove, é cauteloso e diz que ainda não é possível afirmar com certeza que o aumento se destina especificamente à China, mas admite: "Considerando o contexto atual, com a nova rodada da guerra tarifária entre Estados Unidos e China, é plausível que a demanda chinesa esteja contribuindo para esse crescimento nas exportações brasileiras de soja".

Segundo a Abiove, o estoque de soja em grão deve encerrar o ano em 5,402 milhões de toneladas, ante 9,102 milhões de toneladas da projeção de março, queda de 40,6% entre as projeções, ou um total de 3,7 milhões de toneladas.

Na prática, de acordo com a entidade, a demanda internacional pela soja brasileira será suprida pelos estoques. Se previsão se concretizar, o total armazenado encerrará 2025 ainda 30,7% superior aos estoques finais de 2024, de 4.137 milhões de toneladas

A produção estimada de soja para 2025 pela associação deve recuar 1,3 milhão de toneladas, segundo as estimativas de março e abril, de 170,9 milhões para 169,6 milhões de toneladas.

Exportação, estoques e produção foram os únicos três dados revisados pela Abiove nas estimativas de abril dentro das perspectivas para o complexo soja em 2025.

Óleo e farelo

Para o óleo de soja, a estimativa no consumo interno, que tinha caído de 10,5 milhões para 10,1 milhões de toneladas em março, por causa do adiamento da elevação de 14% para 15% do biodiesel ao diesel de petróleo, se manteve em abril.

A mistura deveria saltar de 14% para 15% em 1º de março, mas a elevação foi adiada pelo governo para conter a alta no preço do combustível vendido nos postos, já que o biodiesel é mais caro.

O estoque de passagem de óleo deve encerrar 2025 em 516 mil toneladas, o segundo maior em ao menos oito anos, perdendo por pouco para o de 2022, com 520 mil toneladas.

A produção esperada pela entidade para 2025 foi mantida em 11,45 milhões de toneladas de óleo, recorde histórico se confirmada. A exportação de óleo deve ser de 1,4 milhão de toneladas, bem como a importação, em 100 mil toneladas.

No caso do farelo, segundo a Abiove, a oferta segue em 44,1 milhões de toneladas, o que representaria uma queda de 3,9% sobre a produção de 42,66 milhões de toneladas de 2024.

O estoque inicial de farelo variou permaneceu em 2,578 milhões de toneladas e o final em 3,579 milhões de toneladas.

Divisas

A queda nos preços em dólar da soja em grão, farelo e óleo deve gerar menos divisas com as exportações no complexo soja. No entanto, o maior volume exportado e a melhora do cenário para o setor fizeram a Abiove elevar a perspectiva de receita com as vendas externas.

Segundo a projeção de abril, a receita do complexo deve atingir US$ 52,782 bilhões de dólares em 2025, queda de 2,15% sobre os US$ 53,943 bilhões de 2024. No mês passado, a queda esperada era de 4,4% no faturamento com as exportações.

Mas o valor gerado em divisas com o complexo soja ainda ficará bem longe dos US$ 67,317 bilhões de 2023, estima a Abiove.

O volume exportado deve ser recorde para o complexo soja, em 133,5 milhões de toneladas em 2025, alta de 8,3% sobre 2024.

O faturamento com as vendas externas somente de soja em grão deve somar US$ 43,400 bilhões, acima dos US$ 42,942 bilhões do ano passado e US$ 9,841 bilhões menor que os US$ 53,241 bilhões de 2023.

O faturamento com exportações de farelo deve atingir US$ 8,024 bilhões e as de óleo US$ 1,358 bilhões em 2025, de acordo com a Abiove.