Na guerra comercial que mais uma vez se instala no mundo, com uma nova incursão de Donald Trump à Casa Branca, já existem vencedores no longo prazo: os produtores de grãos brasileiros e, em particular, a SLC Agrícola, a gigante das commodities agrícolas, que possui mais de 700 mil hectares cultivados por safra, sobretudo no Centro-Oeste e no Matopiba. A avaliação é do banco BTG Pactual.

Em relatório distribuído a clientes nesta terça-feira, 15 de abril, a instituição financeira avalia que o agronegócio brasileiro tem uma oportunidade a ser explorada diante das tarifas impostas mutuamente por Estados Unidos e China – embora o cenário esteja longe de representar uma “panaceia” para os produtores brasileiros de grãos e proteína animal, já que o comércio entre os dois países vinha se desacelerando desde 2018, quando teve início a primeira guerra comercial de Trump, ainda em seu mandato inicial como presidente dos Estados Unidos.

"EUA e Brasil são os dois principais produtores e exportadores globais de grãos e proteínas. Com a China precisando garantir fornecedores alternativos, o Brasil se destaca como o substituto mais natural e capacitado", escrevem os analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttilla, Gustavo Fabris e Bruno Henriques no documento.

O BTG avalia que, no curto prazo, tanto companhias ligadas à produção de grãos, caso da SLC Agrícola, quanto empresas do setor de proteína animal, como Minerva e BRF, estão entre as mais bem posicionadas para capturar ganhos de receita.

Em um primeiro momento, os produtores de proteína animal inclusive estão mais à frente, na avaliação do banco.

"O redirecionamento de volumes para a China pode elevar os preços médios, especialmente considerando que o país costuma pagar um prêmio por cortes menos nobres, como pés e coxas de frango, dianteiro bovino, além de soja e milho", afirma o relatório.

Se por um lado destaca a força de Minerva e BRF, por outro lado, o BTG avalia que a JBS tem impacto "neutro" com as medidas dos Estados Unidos.

Na leitura do banco, há uma gangorra de fatores positivos e negativos que corroboram com essa perspectiva: de um lado, estão custos menores de grãos e, no mercado interno, eventuais ganhos que a Seara pode ter; mas de outro lado, contrabalanceando, as exportação de frango dos Estados Unidos podem sofrer pressão sobre preços.

Se os frigoríficos e avícolas saem na frente num primeiro momento, as empresas de grãos ganham a largada no médio e longo prazo, com destaque para a SLC, segundo o banco.

"Com a queda na rentabilidade dos produtores americanos, os incentivos ao plantio podem enfraquecer, levando à redução da oferta global e, eventualmente, a preços mais elevados", diz o BTG.

O relatório avalia ainda que esse cenário seria positivo para os produtores agrícolas brasileiros, citando a SLC, ao passo que os produtores de proteína poderiam enfrentar maior pressão sobre as margens em função do aumento nos custos dos insumos.

No longo prazo, mesmo se os preços se normalizarem, o banco entende que empresas como a SLC se beneficiariam por ter mais escala e relevância global. “Em nossa visão, a SLC se destaca como a beneficiária estrutural mais clara”, diz o BTG.

De acordo com os dados compilados pelos analistas do BTG, o Brasil já responde por 81,5% das exportações globais de soja (excluindo os EUA). E é justamente a soja que será, possivelmente, a commodity mais afetada com a guerra entre Estados Unidos e China, pois o fluxo entre os dois países representa 15% do comércio global.

Já a comercialização das demais commodities entre os dois países é menor. No caso do milho, por exemplo, caiu consideravelmente nos últimos dois anos, passando de uma média de 10% entre 2021 e 2022 para apenas 1,8% de todo o comércio da commodity no mundo. No algodão, o percentual também é pequeno, de 1,5%.

Nas proteínas, a participação do fluxo entre Estados Unidos e China no comércio global de frango é de 2,2%, seguido por 1,5% no caso da carne suína e de 1,3% na carne bovina, de acordo com os dados apresentados pelo BTG.

O Brasil, por outro lado, continua sendo grande exportador de proteínas, com o frango liderano (49,3% do total, desconsiderando a presença dos Estados Unidos), seguido por carne bovina (21,2%) e carne suína (14,7%).