Março terminou como um mês histórico para o setor de ovos no Brasil. As exportações do produto saltaram 342,2% no mês, chegando a 3,77 mil toneladas. Somente os Estados Unidos triplicaram as compras no período – o que fez do país o maior comprador de ovos brasileiros no mundo.
O recente apetite americano, que tem crescido nos últimos meses, está relacionado ao surto de gripe aviária, que exigiu o abate de milhões de aves nas granjas americanas, provocando desabastecimento e alta de preços no varejo local.
Para tentar reduzir os preços, que chegaram a subir 75% no último ano, o governo tem adotado várias medidas, que vão do aumento das auditorias nas propriedades avícolas à compra de ovos de outros países.
Mas a tentativa dos americano de fazer um “omelete” com os produtos brasileiros pode ser atravancado pelo “tarifaço” anunciado pelo seu próprio presidente, Donald Trump, com taxações a produtos vindos de nações de várias partes do mundo, incluindo o Brasil.
Enquanto o “efeito Trump” ainda não é sentido nas negociações, as granjas brasileiras só tem a comemorar.
Com remessas de 2.705 toneladas, os Estados Unidos foram responsáveis por 71% do total de ovos exportados pelo Brasil no mês de março, assumindo a liderança no volume de exportações – os principais mercados além do americano foram Emirados Árabes Unidos, Chile, Japão e México.
Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a partir de números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do governo federal.
A receita acompanhou o crescimento de volume: em março, os embarques brasileiros de ovos somaram US$ 8,6 milhões, montante que representa alta de 383% na comparação com o US$ 1,79 milhão registrado no mesmo mês de 2024.
A quantidade de ovos exportados, no entanto, é ínfima perto do que o Brasil produz por ano – somente em 2024, foram 4,9 bilhões de dúzias de ovos.
Parte do apetite do mercado americano se explica, segundo Ricardo Santin, presidente da ABPA, pela flexibilização adotada pelos Estados Unidos, que liberou em janeiro a importação de ovos para a utilização em alimentos processados, como sorvetes e misturas para bolo. Antes, os ovos brasileiros que chegavam ao país eram destinados apenas para ração animal.
"Verificamos, de forma mais expressiva, os resultados positivos da abertura dos Estados Unidos para ovos produzidos no Brasil para termoprocessamento localmente para produtos de consumo humano", disse Santin.
A flexibilização decorre do surto de gripe aviária registrado pelos Estados Unidos nos últimos meses. Somente neste ano já foram sacrificadas mais de 20 milhões de galinhas poedeiras, segundo informações do USDA.
Agora, os Estados Unidos estão comprando mais ovos do exterior, não só do Brasil, mas também de outros países, na tentativa de equilibrar os preços ao consumidor final.
O preço médio das dúzias de ovos chegou a US$ 6,27 (quase R$ 36 na cotação atual) em março, segundo dados da empresa NIQ, alta de 75% em um ano.
No atacado, os preços têm desacelerado, com cada dúzia custando cerca de US$ 3, mas seguem 60% mais altos em relação ao que era registrado há um ano, segundo dados do USDA.
O próprio governo dos Estados Unidos anunciou algumas medidas nos últimos meses para conter a crise.
No fim de fevereiro, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou que investiria US$ 1 bilhão para conter a crise, com US$ 500 milhões direcionados para auditorias gratuítas a serem feitas em fazendas e os US$ 400 milhões restantes para ressarcir as granjas que estão precisando abater os animais.
Um mês depois, no fim de março, o governo anunciou que planejava importar ovos da Turquia – que já havia se comprometido a remeter 15 mil toneladas para o país até julho – e da Coreia do Sul para fazer os preços caírem.
"Estamos falando de centenas de milhões de ovos no curto prazo", disse a secretária da Agricultura americana, Brooke Rollins.
Mas o "tarifaço" anunciado por Trump, com novos desdobramentos a cada dia, pode afetar diretamente a estratégia dos Estados Unidos em conter os preços dos ovos.
Com base nas informações disponibilizadas pela Casa Branca até o momento, as importações de produtos de Brasil e Turquia serão tarifadas em 10%. Já a Coreia do Sul teria uma tarifa de 26%.
"Como resultado, você verá aumentos nos preços dos ovos processados aqui nos Estados Unidos", disse Greg Tyler, diretor do Conselho de Exportação de Aves e Ovos dos Estados Unidos (USAPEEC, na sigla em inglês), órgão semelhante à ABPA no Brasil, à agência de notícias Reuters.
Além disso, começam a surgir críticas nos Estados Unidos de que as empresas do setor de ovos estão aproveitando a crise para lucrar.
A Cal-Maine Foods, maior produtora de ovos dos Estados Unidos, passou a ser investigada pela divisão antitruste do Departamento de Justiça americano por aumento nos preços. As vendas da companhia chegaram a US$ 1,42 bilhão no terceiro trimestre fiscal justamente pela alta nos preços.