Em pouco mais de 20 anos, Rafael Harada acompanhou, de dentro, a transformação das relações do agronegócio com o mercado de capitais.

Depois de uma curta passagem pela área de tesouraria banco BBVA, ele foi recrutado pela gigante JBS e, por duas décadas, mergulhou no complexo (e nem sempre compreendido) universo da gestão risco

“Lá, desde o começo, os acionistas já tinham um entendimento muito diferenciado do que é a gestão de risco, já entendiam naquela época que o risco é parte do negócio”, conta ele.

Na companhia, Harada cresceu junto com a área em que foi trabalhar. Viveu nos Estados Unidos, voltou em 2013 para liderar a área de risco por aqui, lidando com câmbio, boi, milho, soja, farelo, óleo de palma, Cbios, juros, emissão de títulos, CRAs...

“Tudo ficava comigo, nas minhas mesas”, lembra.

Em 2022, esse trabalho rendeu um convite para voltar aos EUA e assumir a cadeira de head global de risco da JBS e, como diz, “tocar o mundo inteiro”.

Mas o desejo de um novo propósito o trouxe de volta ao Brasil no fim de 2023. E o levou para Goiânia, onde vive atualmente, e a uma rota que desembocou no ecossistema de investimento Rural.

Desde o ano passado, Harada é um dos sócios da Rural, primeiro atuando de forma discreta na área de investimentos.

A partir desta semana, torna-se a face da Rural Capital, recém-lançada vertical do grupo voltada a estruturar operações financeiras voltadas não apenas ao universo agtech – foco inicial do ecossistema – mas também a empresas e produtores rurais.

“Tenho trabalhado com alguns grupos de produtores e empresas do agro com foco em gestão de risco, governança e processos financeiros, para ensinar o pessoal a linguagem financeira”, diz.

“Agora com a Rural Capital, dá para agregar, é um caminho de futuro que é muito mais interessante”.

Harada afirma que, ao decidir deixar a JBS, foi movido pela tese de que o agro brasileiro estava “prontinho para um novo passo de profissionalização do lado financeiro”.

Isso, segundo ele, está acontecendo, de certa forma, “na marra”, empurrado por um ciclo macroeconômico global. Ele lembra que a pandemia levou a maior parte dos países do mundo a reduzir juros.

“O dinheiro muito barato, você fica muito tentado a tomar – e tem mesmo que tomar. O problema é que o dinheiro barato incentiva o mau investimento”.

Com isso, analisa Harada, muita gente se alavancou e não se preparou para o dia em que o cenário mudaria. E hoje está sofrendo com a elevação das taxas de juros no mundo inteiro.

“Por isso que está tendo um monte de RJ, porque a galera partiu para cima, sem pensar cinco anos para frente. Então pensei: vai ter muita gente precisando de ajuda, vou atrás dessa turma”.

Assim, Harada espera oferecer todo o conhecimento acumulado em posições de destaque em uma gigante global para empresas e produtores de diversos portes.

A ideia dele e dos sócios na Rural Capital é, claro, ajudar a potencializar as startups conectadas no ecossistema, mas também alavancar todo universo que gira em torno delas através de serviços financeiros.

Isso inclui a gestão de risco, maior especialidade de Harada, mas também financiamento, planejamento estratégico, M&As.

“A gente consegue montar um produto muito completo em relação à necessidade real de cada um. Consigo levar tecnologia, consigo levar soluções financeiras, unindo as pontas que já estão por aqui”, afirma Fernando Rodrigues, sócio.

Harada lembra, por exemplo, que a introdução de instrumentos como os Fiagros, por exemplo, abriram novas avenidas para o financiamento do agronegócio.

“O produtor deixou de ser dependente do relacionamento bancário direto com a agência do banco da sua cidade para poder acessar o mercado de capitais, que é um bolso enorme”, diz.

“Só que você precisa aprender a conversa, a interlocução, que é um negócio diferente. Tazer a expertise dessa conversa profissional de mercado financeiro mais para perto do produtor tem muita vantagem”.

Rodrigues reforça o discurso. Para ele, existe um processo educacional e organizacional dentro das empresas do agronegócio para elas terem um maior nível de maturidade e usar tecnologias que vão ajudar a gestão, melhorar a eficiência produtiva no campo. E para se relacionarem também de maneira mais eficiente com o mercado de capitais.

“É o mesmo processo que vivido pela XP, na área educacional, para trazer o conhecimento financeiro para o mercado”, compara ele, ex-executivo da empresa financeira. “A gente precisa educar essa turma que está querendo captar dinheiro no mercado”.

Segundo Harada, a Rural Capital já nasce com uma série de processos em andamento, que podem gerar operações tanto de estruturação de dívida, quanto de equity e M&A.

A nova vertente da Rural vai, segundo os sócios, se relacionar diretamente com as outras áreas já abertas pela empresa, como os braços de venture capital, de consultoiria de inovação, de comunicação e de validação de tecnologias, o Rural Labs.

Harada se junta a uma seleção de expoentes do agro no quadro de sócios, que reún e nomes como o de Fábio de Rezende Barbosa, do grupo NovAmérica, e José Américo Basso Amaral, da sementes Jotabasso, além de André Amorim, fundador da empresa ao lado de Rodrigues.

“Existe um cross-sell, em que as diferentes verticais colaboram uma com as outras e vão direcionando os negócios, cada um com a sua expertise”, afirma Amorim.