Se a Vittia estivesse em uma montanha-russa, estaria numa longa manobra de queda. De 2022 para 2023, o lucro líquido da empresa caiu 34%. De 2023 para 2024, uma baixa de 22,6%, chegando a um resultado líquido de R$ 75,3 milhões no ano passado.

Apesar disso, a julgar pela trajetória da receita líquida e do Ebitda (lucro antes de juros, impostos e amortização), é possível vislumbrar o início de uma nova subida, com o começo de melhora nessa performance.

A Vittia faturou R$ 851 milhões em 2022, caiu para R$ 756 milhões em 2023, mas encerrou 2024 com uma alta de 4%, atingindo R$ 786,6 milhões.

Ainda que o Ebitda ajustado tenha recuado 6% no ano, o quarto trimestre trouxe números mais animadores, com crescimento de 5,1% na receita líquida e salto de 36,9% no EBITDA ajustado, indicando uma melhora no desempenho operacional e controle de custos.

“Mesmo com um cenário muito adverso, encerramos o ano com crescimento de receita, manutenção de projetos estratégicos e com estrutura de capital robusta. Entramos em 2025 com fundamentos mais favoráveis para o mercado de insumos”, disse, em nota oficial, o CFO da empresa, Alexandre Frizzo.

Em seu balanço, divulgado na noite de quinta-feira, 13 de março, a Vittia citou uma forte pressão nos preços de venda sobre as margens da companhia. “Fomos bem sucedidos em nossas iniciativas para enfrentar o cenário turbulento vivido pelo agronegócio brasileiro”, afirma em seu release de resultados.

Por segmento, a receita com fertilizantes foliares e produtos industriais foi a grande responsável pelo faturamento, com R$ 388,4 milhões, alta de 10,6% em um ano. Nos biológicos, a receita somou R$ 214 milhões, uma leve baixa de 2,5% em um ano.

O segmento “micros de solo”, faturou R$ 151,2 milhões, alta de 7,7% e os condicionadores de solo organominerais recuaram 26,9%, para R$ 32,8 milhões.

A companhia não divulga números exatos da sua carteira de clientes, mas cita, no balanço que “manteve uma baixa inadimplência, com uma carteira de clientes saudáveis e de qualidade”.

“A safra de 2024/25 está se desenvolvendo de forma satisfatória, o câmbio tem beneficiado a rentabilidade do produtor e o preço dos insumos está próximo dos menores níveis históricos em termos reais”, destaca Alexandre Frizzo.

Gabriel Barra, analista do Citi, disse em relatório enviado aos clientes do banco que gostou dos resultados do quarto trimestre, mas que não foram suficientes para compensar os três outros trimestres do ano passado.

“Os números mais altos foram ofuscados pelo maior consumo de capital de giro. É importante notar que, mesmo com um cenário difícil para a indústria, marcado por preços e margens mais baixos, a Vittia conseguiu aumentar sua receita líquida a partir do maior volume de vendas, enquanto manteve suas despesas estáveis”, afirmou Barra.

]Para o futuro, o analista acredita que a evolução da safra 2024/25, que ele considera positiva e com aumento das margens do produtor, pode melhorar os próximos balanços da companhia.

Gustavo Troyano, do Itaú BBA, também está otimista com o futuro da empresa. Também em relatório, o analista pontuou que a perspectiva mais saudável da companhia para o futuro está alinhada com sua visão para o negócio.

“Embora ainda abaixo do ideal, acreditamos que há uma estratégia focada no lucro mais forte na indústria, impulsionado por uma taxa de câmbio mais favorável para insumos agrícolas. Isso pode representar que o pior ficou para trás”, avaliou Troyano.

Com a alta da receita no ano, o lucro caiu por conta de um aumento nos custos visto ao longo de 2024. O custo dos produtos vendidos (CPV), foi de R$ 520,8 milhões, 8,3% maior do que em 2023.

A Vittia ainda investiu 3,7% da receita líquida, ou R$ 28,8 milhões em pesquisa e desenvolvimento em 2024, em linha com o aportado em 2023. Parte desse valor serviu para aumentar a capacidade produtiva.

Na planta de Artur Nogueira (SP), foram R$ 6,8 milhões para expandir a produção de macrobiológicos e R$ 8,2 milhões para microbiológicos.

A dívida líquida encerrou 2024 em R$ 145 milhões, alta de 71% em um ano, e ajudou a pressionar o lucro. A alavancagem da companhia saiu de 0,6 vez para 1,09 vez no final de dezembro passado.

No balanço, a companhia pontua que tomou R$ 223 milhões em novos financiamentos, quase o dobro do captado em 2023. Além disso, pagou R$ 195,2 milhões em empréstimos que venceram. A variação cambial ainda tirou R$ 10,9 milhões do resultado.

Na Bolsa, onde está avaliada em quase R$ 800 milhões, as ações da Vittia acumulam uma leve baixa de pouco mais de 1% desde o início de 2025. Desde que abriu capital em 2021, o papel recua quase 40%, sendo negociado hoje próximo dos R$ 5,30.

Apostando numa valorização do papel no longo prazo, a companhia intensificou a recompra de ações ao longo de 2024, e adquiriu 4,3% do próprio capital.

Do total de ações da Vittia, 67% pertencem à família Romanini (com 33% nas mãos de Wilson Romanini, CEO, e 33% com Guilherme Romanini, presidente do conselho). Outros 28% estão sob controle do FIP Brasil Sustentabilidade, fundo gerido pela BRZ Investimentos, e o restante está distribuído entre investidores menores.

Com a recompra, a fatia de ações disponíveis no mercado (free float) caiu para 31,9%. A empresa também cancelou 4,4 milhões de ações adquiridas em 2024, reduzindo o número total em circulação, mas sem alterar seu capital social.

Além disso, anunciou um 4º programa de recompra, que permite a aquisição de até 4,5 milhões de ações ordinárias — o equivalente a cerca de 9% do free float. Esse movimento reforça a confiança da Vittia em sua valorização futura, em um período de desafios para o setor agrícola.

“Dentro da execução dos nossos programas de recompra ao longo de 2024, adquirimos 4,3% do capital em uma clara demonstração da nossa confiança nas nossas estratégias e perspectivas futuras. Com uma estrutura financeira sólida, um portfólio de soluções inovadoras e um time altamente qualificado, estamos confiantes e preparados para a retomada do crescimento”, disse, também em nota, Wilson Romanini, CEO da Vittia.

Nesta sexta (14), por volta das 12h, a ação subia 2%.