O grupo Montesanto Tavares, um dos maiores exportadores de café do País, com as tradings Atlantica Coffee e Cafebras, fracassou nas negociações das dívidas de R$ 2,13 bilhões e recorreu à recuperação judicial. O pedido foi apresentado na última sexta-feira, 28 de fevereiro, e distribuído à 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte (MG).
Segundo comunicado das companhias, “a medida decorre da crise econômico financeira enfrentada pelas recuperandas, resultante, principalmente, do número expressivo de rolagens (prorrogação do prazo de entrega) e inadimplências de produtores — elo mais próximo da cadeia —, agravadas pelas recentes altas no preço do café e pela desvalorização do real em relação ao dólar”.
O documento informa que a recuperação judicial tem como objetivo “dar tratamento e solução à crise econômico-financeira” e permite a preservação e a viabilidade das atividades das empresas.
“As recuperandas sempre prezaram pelo respeito aos compromissos assumidos e pela perseverança, empenhando-se em atuar com excelência na entrega de seus produtos e serviços. O pedido de recuperação judicial formulado está alinhado a esses valores e, sem qualquer dúvida, servirá para que as dificuldades financeiras sejam superadas”, comunicaram as empresas do grupo.
No comunicado, o grupo informou que as empresas estão “engajadas nas negociações para acerto de plano de recuperação responsável e equilibrado, certas de que contarão com o indispensável apoio de todos para o alcance do sucesso da recuperação judicial.”
A medida encerra a tentativa de renegociação extrajudicial do Grupo Montesanto Tavares, que durou quase três meses. Em dezembro, a companhia obteve prazo de 60 dias para renegociação extrajudicial.
O prazo foi prorrogado no final de janeiro por mais 30 dias, após decisão cautelar no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), e terminaria amanhã, 6 de março. Mas a companhia se antecipou e recorreu à recuperação judicial.
O Montesanto Tavares exporta cerca de 2,6 milhões de sacas de café para 50 países, aproximadamente 8% de todo o volume do país, e fatura em torno de R$ 3,3 bilhões anualmente, de acordo com relatório da companhia.
A crise que levou à série de demandas e culminou com o pedido de recuperação judicial ocorreu após anos de volatilidade no setor cafeeiro impactarem as finanças da companhia. Primeiro foram os Adiantamentos sobre o Contrato de Câmbio (ACCs) tomados em 2021 para garantir a entrega do café exportado pelo grupo.
À época os preços explodiram e produtores não entregaram o café contratado. Para honrar os contratos, a companhia foi obrigada a pagar um valor mais alto no mercado e recorrer aos ACCs para cumprir os compromissos.
O novo tombo do grupo foi a disparada do preço do café desde o ano passado. Com isso, as tradings do Montesanto Tavares precisaram desembolsar recursos para cobrir as “chamadas de margem” nas bolsas em operações de entrega futura.
