A fórmula da diversificação de atividades seguiu garantindo bons resultados para o grupo gaúcho 3tentos em 2024, que registrou aumento na receita até mesmo na distribuição de insumos, um dos setores que mais enfrentou desafios no período.
No balanço divulgado nesta segunda-feira a 3tentos reportou uma receita de R$ 12,8 bilhões em 2024, alta de 42,5% na comparação com o ano anterior. No último trimestre do ano a empresa faturou R$ 3,85 bilhões, o que também representou um avanço de 27,2% em relação ao mesmo período de 2023.
No lucro líquido, o resultado do ano foi de R$ 756,4 milhões, um crescimento de 31,8%. Já no último trimestre de 2024 o lucro líquido caiu 22,6%, ficando em R$ 135,9 milhões.
Em entrevista ao AgFeed, o CEO da 3tentos, Luiz Osório Dumoncel explicou que a menor oferta de grãos de qualidade em Mato Grosso, devido a estiagem, apareceu nos resultados do quarto trimestre, assim como uma oferta menor de sementes de soja no Rio Grande do Sul que, ao final da safra passada, sofreu com o excesso de chuvas.
Outra marca do quarto trimestre foi um ganho maior com o preço dos grãos exportados em função da desvalorização do real.
De qualquer forma, o executivo costuma ressaltar que prefere olhar para os resultados do ano, considerando que a agricultura é uma atividade anual. “A gente mantém o plano de crescimento sólido, estruturado, com saúde financeira”.
Houve crescimento de receita em 2024 nos três principais pilares do negócio da 3tentos: insumos (10,9%), grãos (84,4%) e indústria (43,9%).
O mercado de revenda de insumos no Brasil foi desafiador em 2024, com queda de vendas entre várias empresas e até uma recuperação judicial de um grande player, a Agrogalaxy.
Qual foi o segredo da 3tentos pra crescer nesse segmento? “A gente conseguiu continuar na nossa política de comprar bem e vender bem, ou seja, nós não descolamos a compra da venda e a gente procura proteger essa margem”, respondeu Dumoncel.
Além disso, o CEO destaca que o relacionamento, a proximidade que a empresa possui com o agricultor, segue como principal diferencial. São 70 lojas em todo o Brasil que, segundo ele, oferecem assessoria técnica ao produtor.
“Logo que vai finalizando o ciclo da cultura e iniciando a parte da colheita, já passa a ser uma assessoria comercial. Então, o produtor identifica isso, sendo pequeno, médio ou grande, ele está identificando isso como realmente um valor, uma entrega que a 3tentos faz”, afirma.
O volume de vendas de defensivos aumentou 37% no ano e os fertilizantes avançaram 23%, mas nas sementes houve queda de 44%. Em receita o recuo nas sementes foi menor, de 5%. Defensivos e fertilizantes tiveram aumento de faturamento, de 18% e 8%, respectivamente.
O pior resultado nas sementes foi causado pelo menor volume disponível.
“Em abril, maio do ano passado, nós tivemos a enchente no Rio Grande do Sul, que pegou muito das lavouras no final”, lembrou.
Os grãos foram colhidos e aproveitados na indústria, mas não havia qualidade suficiente para que fossem destinados a sementes. O mesmo ocorreu com lavouras afetadas pela estiagem em Mato Grosso.
Impacto do biodiesel
Desde a semana passada, a 3tentos vem registrando queda no valor das ações em meio à percepção de alguns analistas de que a mudança na política de biodiesel possa afetar os planos de crescimento da empresa.
O governo decidiu manter em 14% a mistura obrigatória de biodiesel no óleo diesel comum. Era esperado um avanço para 15%, que acabou sendo adiado.
No balanço desta segunda-feira a 3tentos mostra que o faturamento da indústria, o que inclui não apenas a venda de biodiesel, mas também o farelo e outros derivados, alcançou R$ 6,75 bilhões em 2024, ou seja, pouco mais da metade de toda a receita da empresa. O crescimento foi de 44% em relação a 2023.
“Isso vem muito em função da entrada da fábrica no Mato Grosso, na BR-163. Ela funcionou 11 meses do ano, daí nós paramos 30 dias no último trimestre para a ampliação dela. Então hoje ela já roda 3 mil toneladas dia, ela rodava 2,6 mil toneladas”, destacou Dumoncel.
O CEO garante que nenhum plano estratégico da empresa foi alterado após a decisão do governo de manter o B14.
A empresa atua fortemente na originação e no trading de grãos. A decisão de exportar ou destinar à indústria vai sendo tomada de acordo com o que cada mercado oferece e com a chamada margem de esmagamento.
“Quando ele vem para a indústria, no caso da soja, a gente tem uma margem que vem agregando”, afirma. “Isso nos traz muita segurança de não ter que sair a mercado pagando o que o vendedor quer. Nós entramos sempre numa originação desse grão, no trading desse grão, dentro de um programa industrial muito bem montado. Então nós temos um planejamento hoje para 2025 todo e já para o primeiro semestre de 26”.
A chamada “crush margin” leva em conta a produção de farelo de soja, óleo e casca. Até o ano passado todo o óleo obtido foi utilizado para fazer o biodiesel. Agora que a mistura não passou para B15, caso seja necessário, a 3tentos pode optar por processar menos óleo, por exemplo.
“Nós não perdemos nunca o nosso mercado externo. A gente tem sempre um contato, porque já fizemos em vários momentos exportação de óleo e mantendo uma margem saudável no crush”, disse o CEO.
Na visão de Dumoncel, “o biodiesel não teve o incremento para 15% em março como estava planejado por uma decisão, um movimento pontual do governo, que vinha sofrendo e vem sofrendo muita pressão em relação à inflação”. Em função da alta no preço do óleo de soja, enquanto não entrava a safra nova no mercado, teria sido “uma resposta política”, disse ele.
“Mas nós temos muita confiança no setor, na demanda e no compromisso dos governos brasileiros, de continuar mantendo uma matriz energética cada vez mais limpa”, ressaltou.
Dumoncel lembrou que o Brasil consumiu 9,1 milhões de metros cúbicos de biodiesel em 2024, para cumprir com o B14. “No ano de 2025, se tivéssemos a entrada do B15 em março, nós consumiríamos 10,2 milhões, então teríamos um incremento de 1,1 milhão (de metros cúbicos)”.
Mesmo sem o aumento na mistura, ele calcula que o crescimento orgânico no consumo de biodiesel fique em torno de 500 mil metros cúbicos, com o mercado chegando a 9,6 milhões. O aumento ocorre porque se a demanda por diesel sobe, por obrigação, 14% tem que ser biodiesel.
“O mercado no B14, ele é um mercado muito consistente, é um mercado presente, acontecendo. Todos os dias aqui, todos os dias estamos vendendo biodiesel.
Talvez tenha havido um over reaction no mercado, porque a 3tentos é muito mais que o biodiesel, e mesmo o biodiesel B14 já é uma demanda imensa”, reforçou.
Em 2024, a 3tentos teve uma originação total de 3,1 milhões de toneladas de soja e a indústria consumiu 2,2 milhões de toneladas.
Para 2025, a expectativa é originar 4,1 milhões de toneladas de soja. A 3tentos diz que vai manter a indústria operando “em plena capacidade”, independentemente da mistura ser B14 ou B15.
A única mudança é que, se houver “oportunidade interessante”, optará por comercializar o óleo. “Mas hoje esse óleo está sendo totalmente destinado a indústria de biodiesel”.
Sobre os efeitos da onda de calor no Rio Grande do Sul, que já reduziu em 4 milhões de toneladas a expectativa de colheita de soja no estado, Dumoncel não acredita em impacto significativo para empresa. Prevê uma produção de 18 milhões de toneladas no estado e diz que ainda há um estoque de passagem de 2 milhões de toneladas. “Teremos soja suficiente para rodar as indústrias”.
Todos os demais projetos previstos no guidance divulgado em novembro também estão mantidos, segundo a 3tentos, o que inclui ampliações no esmagamento de soja em Mato Grosso e em Cruz Alta-RS.
A companhia espera inaugurar no primeiro trimestre de 2026 sua primeira usina de etanol de milho em Porto Alegre do Norte. Atualmente, as operações em Mato Grosso já representam 25% da receita da empresa que nasceu no Rio Grande do Sul e vem expandindo na região do Cerrado.