O CEO da BrasilAgro, André Guillaumon, faz questão de separar a visão comercial e a visão produtiva em todos os negócios da companhia. E nem a taxa básica de juros em 13,25% ao ano, que, em tese, afastaria qualquer investimento em terras, é um empecilho para novas aquisições de ativos rurais, segundo o executivo.
Na contramão de analistas, Guillaumon aciona o lado comercial da visão e busca oportunidades para novas aquisições por parte da companhia no cenário de Selic nas alturas. E tem argumentos para sustentar o apetite por esses ativos e fomentar a visão produtiva no futuro.
Ao comentar o balanço do último trimestre de 2024, divulgado nesta quinta-feira, 6 de fevereiro, o executivo lembrou que os melhores negócios da companhia surgiram em situações de estresse financeiro, independentemente dos juros de mercado.
E o atual momento, segundo Guillaumon, com vários produtores alavancados e em reestruturação após a quebra da safra passada, é um daqueles favoráveis. “Juro mais alto, sem dúvida, tira liquidez do mercado imobiliário, mas a gente não pode esquecer que temos algumas oportunidades na mesa”, afirmou.
Quando surgem possibilidades de bons negócios, a missão, segundo o executivo, é convencer o conselho da BrasilAgro de que a Taxa Interna de Retorno (TIR) será melhor que os juros. “A grande maioria dos bons negócios da companhia vem de estresse financeiro e estamos atentos a isso”.
Para Guillaumon, o cenário atual favorece a BrasilAgro para possíveis aquisições porque competidores, como fundos de investimento, estão fora do mercado. “Quem vai conseguir convencer um fundo a investir quando tem de oferecer CDI mais 5% ao ano?”, indagou.
No setor, o CEO da BrasilAgro lembra que muitos negócios de imóveis rurais são feitos com base no preço da saca da soja e na margem obtida pelo produtor. “Se o produtor tiver 30%, 35% de margem, vai investir na atividade dele”, disse citando como exemplo regiões produtoras da Bahia como exemplo de mercados muito aquecidos.
A BrasilAgro, que atingiu R$ 2 bilhões em vendas de terras em cinco anos, também está do outro lado do balcão, segundo Guillaumon. “Eu costumo brincar que a única coisa que não está à venda na companhia são as pessoas e se aparecerem boas oportunidades de negócio, vamos fazer”.
Gargalos e remédios
Com 200.924 hectares de área útil para o cultivo de grãos, fibras e cana-de-açúcar, e com a soja como primeira cultura, a BrasilAgro tenta remediar o gargalo logístico que a concentração da colheita de uma safra recorde, plantada com atraso, vai causar. O cenário é mais complicado em Mato Grosso, cuja colheita é prejudicada pelas chuvas, o que piora o escoamento da produção.
A BrasilAgro, segundo o CEO da companhia, adotou algumas linhas de ação para mitigar os problemas. Nas propriedades com silo, a ordem é armazenar a produção para esperar a melhor oportunidade logística de entrega.
Antevendo o cenário atual, a companhia aproveitou um momento de dólar alto e frete mais barato para “travar” a logística de escoamento e a moeda norte-americana. “Um frete de R$ 300, por exemplo, nós travamos a US$ 50 com o dólar alto e hoje está quase US$ 60 com a queda”, explicou Guillaumon.
Com isso, nas áreas onde não tem silo, a prioridade é escoar logo a produção colhida. Em regiões nas quais a umidade é menor na colheita, principalmente no Matopiba, a BrasilAgro tem utilizado silos bag para reservar os grãos nas lavouras, de acordo com o executivo.
Balanço trimestral
No balanço divulgado nesta quinta-feira, a BrasilAgro relatou prejuízo de R$ 19,625 milhões entre outubro e dezembro, o segundo trimestre de seu ano fiscal de 2025 - a companhia considera o ano-safra, iniciado em julho, como referência para o início do período fiscal.
O prejuízo no trimestre foi 3,4 vezes maior que os R$ 5,822 milhões de prejuízo em igual período da safra anterior. A margem líquida foi negativa em 10%, contra margem líquida também negativa de 4% no segundo trimestre do ano fiscal de 2024. O Ebitda total ajustado no trimestre foi de R$ 30.011 milhões, com margem positiva de 16%, ante margem negativa de 8% no 2T24.
No acumulado do primeiro semestre da safra (6M25), entre julho e dezembro, a BrasilAgro relatou lucro líquido de R$ 77,832 milhões, ante lucro líquido de R$ 24,163 milhões no 6M24. A margem líquida no último semestre foi de 12% e o Ebitda ajustado de R$ 200,4 milhões, com margem de 31%.
A receita líquida total da BrasilAgro no trimestre foi R$ 188,362 milhões, alta de 21% sobre igual período da safra anterior e acumulou R$ 607,710 no primeiro semestre da safra 2024/2025, aumento de 43% na mesma base de comparação.
Segundo Gustavo Lopez, CFO e diretor de RI da BrasilAgro, os resultados financeiros negativos ocorreram por conta de operações de hedge que travaram o dólar e a safra a serem negociados no durante 2025.
Essas operações no mercado futuro são “uma marcação” e “uma fotografia” do momento do fechamento do trimestre, com um dólar em torno de R$ 6,20, e não se refletirão no momento da entrega, de acordo com ele. “O resultado financeiro ainda não foi realizado e são posições de derivativos que, por questões fiscais, precisam de ter marcação a mercado na data do balanço”, afirmou Lopez.
Já receita e Ebitda positivos no 2T25 são resultado, segundo Lopez, da decisão de carregar estoques para serem comercializados no trimestre e da venda de propriedade. Cada operação gerou R$ 100 milhões para o caixa da BrasilAgro.
O CEO André Guillaumon avaliou que, apesar da volatilidade, o dólar deve estacionar entre R$ 5,70 e R$ 5,80, o que favorece o agronegócio exportador brasileiro, que tem parte dos custos em real e 100% da receita na soja atrelada à moeda norte-americana. “Quando fizemos o orçamento estimamos um dólar a R$ 5,30, mas acho que nunca mais veremos a moeda nesse valor”.
No 2T25, a companhia finalizou a colheita da cana-de-açúcar e plantou 95% da área prevista de grãos. Segundo a BrasilAgro, as chuvas ajudaram no desenvolvimento das lavouras e apenas entre 500 hectares e 600 hectares foram replantados, ante 8 mil hectares replantados na safra anterior devido à seca.
“O regime hídrico é bastante favorável, até em regiões do Matopiba tem chovido muito bem, com lavouras espetaculares. Nesta primeira semana de fevereiro, com lavoura instalada e com umidade no solo, meio caminho está andado”, afirmou Guillaumon.
Para o milho, cultura que trouxe margem negativa, a BrasilAgro reviu a estratégia. A companhia tem aumentado exposições na bolsa brasileira e firmado contratos de venda futura para usinas de etanol. Por fim, a empresa tem investido no feijão, outra cultura com margem negativa, com a ampliação do mercado exportador, principalmente para a Índia.