O que faz um executivo experiente do agronegócio deixar uma gigante global de fertilizantes para apostar suas fichas em uma empresa brasileira com sede no Norte de Minas Gerais? A resposta é simples: o futuro promissor dos biológicos e a vontade de avançar tão rápido quanto esse mercado no Brasil.

Ithamar Prada, engenheiro agrônomo com duas décadas de experiência, ocupava o cargo de vice-presidente de marketing e inovação da ICL América do Sul, braço da gigante israelense de fertilizantes. Lá participou ativamente da aquisição da Nitro 1000, quando a empresa expandiu sua atuação em bioinsumos.

Agora, Prada começa uma nova etapa na carreira, em uma empresa de porte menor, porém ambiciosa: a Bioworld, com sede em Janaúba (MG), que no ano passado faturou R$ 52 milhões com a venda de biológicos e outros produtos ligados a esse universo.

Em entrevista ao AgFeed, o novo CEO da Bioworld contou que a empresa foi criada em 2016, por um pesquisador chamado Isac Martins.

“Ele foi para o campo para atender principalmente produtores de fruticultura do Norte de Minas. Entendeu que existia realmente ali uma oportunidade de suprir, de uma forma mais inteligente, os microrganismos, para que os produtores fizessem o manejo nas fazendas. (a empresa) Surgiu de uma dor identificada por um consultor que estava no campo”, explica Prada.

Além do fundador Isaac Martins, há outros sócios pessoa física, que incluem desde produtores rurais até profissionais ligados ao mercado financeiro.

Nos últimos anos a Bioworld foi passando por mudanças e por evoluções tecnológicas, desenvolvendo soluções boa parte internamente.

“A companhia desenvolve e produz não só os microrganismos, mas também toda a parte de meio de culturas e formulações, como também os biorreatores. É bem interessante que ela realmente trouxe a expertise toda para dentro do negócio da companhia. O que permite um controle muito mais unificado da performance e da qualidade daquilo que se está entregando para o produtor”, diz o CEO.

São diferentes unidades de negócio, que contemplam os insumos para multiplicação onfarm (manipulados nas fazendas), os meios de cultura específicos por espécie e os biorreatores de alta tecnologia.

A empresa conta ainda com uma área de formação profissional. “Há uma preocupação muito grande de capacitação de profissionais para atuar no mercado, tanto em fazendas, quanto em consultorias, para entender com profundidade tanto os temas ligados a bioinsumos, quanto a agricultura regenerativa”, conta Ithamar.

Projeto de expansão

A meta de Ithamar Prada é, com a estrutura que já existe, viabilizar um faturamento de R$ 90 milhões em 2025, praticamente mantendo a tendência da empresa, nos últimos anos, que vem dobrando a receita a cada 12 meses.

Mas o projeto da companhia de biológicos vai além. Prada já está mapeando oportunidades para adquirir, nem que seja uma participação acionária, em outros players de mercado. A prioridade é ampliar o portfólio.

“Nosso papel é realmente usar toda essa fortaleza tecnológica da companhia e agregar mais negócios, aumentar a base de clientes, realmente dar escalabilidade para o negócio na empresa”, ressalta.

A Bioworld já tem tradição em fruticultura, mas os passos mais recentes de expansão estão ocorrendo em cana-de-açúcar, café e soja, que seriam “a principal agenda” do novo CEO. Prada diz que a ideia é criar “uma plataforma de negócios de agricultura regenerativa”.

“A minha contratação foi com esse objetivo, de agregar outros negócios. Então a Bioworld é uma primeira companhia do grupo, mas certamente a gente vai participar de outros negócios também. Vai começar do zero com alguns outros e o objetivo é adquirir participação e trazer para dentro do nosso portfólio”, explicou.

Estão no radar não apenas a diversificação de portfólio mas também uma presença maior em regiões do País mais fortes nas grandes culturas, o que deve ocorrer ainda em 2025. Hoje a empresa é mais forte no Sudeste e no Nordeste e já está expandindo para o Centro-Oeste. Já nas regiões Sul e Norte ainda possui atuação “mais tímida”.

“Nós entendemos que temos um futuro muito bom na área de bioinsumos. A companhia tem um P&D próprio, dedicado, com fazenda experimental, uma equipe de pesquisadores próprias, além de parcerias com universidades”, lembro.

Porém, ele destaca que a agricultura “é mais do que isso”. Portanto, está de olho em atender “outras dores dos produtores rurais”, como tecnologias que aumentem o aporte de matéria orgânica no solo e para o combate ao estresse abiótico nas plantas.

Prada admite que está olhando mais para empresas nacionais, mas não destaca investimentos em startups ou “empresas de fora que possam agregar na oferta”.

O modelo de negócio da Bioworld é parecido com o da concorrente Solubio no que se refere à forte conexão com a produção onfarm. Os clientes da empresa são todos produtores rurais.

“A gente entende que esse modelo de negócio do onfarm não é para todos. É para um produtor realmente que tenha porte e que tenha gestão e tecnologia para conseguir produzir com qualidade os microorganismos dentro da própria fazenda. O nicho que nós participamos é para produtores de alta tecnologia e de maior escala”, acrescentou.

Sobre o momento mais desafiador do agro, de margens mais apertadas, Ithamar Prada acredita que não haverá reflexos no crescimento da empresa e do mercado de biológicos.

“Quando a gente olha a taxa de crescimento do biológico no ano passado, ainda foi um setor que cresceu, enquanto outros setores reduziram. Então, acho que mostra a resiliência desse setor. E se a gente fizer um recorte de taxa de adoção, a gente vê que a taxa de adoção de biológicos também cresceu, continuou crescendo numa taxa bastante importante. E é nessa tese que a gente alicerça o nosso crescimento”.

Em tempos de busca de eficiência, Prada afirma que os insumos tradicionais sozinhos não conseguem entregar a performance financeira e técnica que o produtor precisa.

Sobre a consolidação no segmento, ele acredita que seguirá acontecendo, o que traz profissionalização. E pode envolver iniciativas tanto dos grandes quanto dos médios e pequenos. A opção de sair de uma gigante multinacional para uma empresa menor, segundo ele, está mais relacionada ao fato de buscar um negócio com gestão mais simples e nacional, onde tivesse mais liberdade.

Prada afirma que a companhia está com um pipeline de mais de 60 projetos nas áreas de engenharia de bioprocessos, microbioma do semi árido, bioprospecção nas áreas de promoção a saúde e melhoria da nutrição vegetal e animal.

Um diferencial para seguir dobrando receita, mesmo em tempos de crescimento mais tímido do mercado, segundo ele, é a tecnologia, que inclui a capacitação de equipes.

“A companhia tem uma universidade com pós-graduação em bioinsumos, que atende não só a companhia, ela é aberta ao público externo. Então, tem muitos agrônomos de fazenda que tem participado da pós-graduação em bioinsumos da empresa”, conta.