Há 45 anos, quando o ex-deputado, produtor rural e empresário Odílio Balbinotti chegou ao Mato Grosso, tudo ainda estava por fazer.

O gaúcho que rodou por Santa Catarina e Paraná antes de se estabelecer em Alto Garças, perto de Rondonópolis e da divisa do Mato Grosso com Goiás, notou que a região tinha uma demanda por sementes ainda reprimida.

"Meu pai pensava só em fazer agricultura aqui, como a maioria dos agricultores”, conta Odílio Balbinotti Filho, um dos herdeiros do patriarca dos Balbinotti e atual comandante do atual grupo Atto.

“Mas ele chegou aqui e viu que havia falta de sementes. Tinha pouco produtor e a semente era muito ruim", diz, em entrevista ao AgFeed.

O negócio começou pueril. Balbinotti pai deu o nome de uma filha sua, Adriana, à nova empresa, batizada Sementes Adriana, que nasceu bem caseira.

"Ele se empolgou com o potencial e, em 1981, já começou a fazer semente. Primeiro para ele, depois para os vizinhos e foi expandindo", diz o filho.

Quatro décadas depois, a empresa trocou de nome. Há cinco anos, passou a se chamar Atto Sementes e se transformou em uma das grandes sementeiras do Brasil, exportando até mesmo para outros países e continentes, como Paraguai, Japão, China e para a Europa.

No Brasil, somente no ano passado, suas sementes foram lançadas em uma área plantada de 1,5 milhão de hectares de soja.

Para ampliar essa marca, a estratégia da Atto é olhar para as origens dos Balbinotti e seguir rumo ao Sul.

Hoje, a atuação da Atto se concentra no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Mas a empresa quer comercializar sementes de soja também nas regiões Sul e Sudeste, com a intenção de crescer 10% ao ano em volume comercializado a partir da adição de novos produtores.

"A ideia é ampliar a comercialização de soja no Brasil inteiro", afirma Balbinotti.

O crescimento tem sido regra na trajetória das empresas dos Balbinotti, desde os tempos da Adriana. A Atto tem mantido o ritmo sempre na faixa de 5% nos últimos anos, segundo o empresário.

“O nosso produto é diferenciado e tem conseguido crescer no mercado segmentado. Cada vez mais a semente de alta qualidade tem sido valorizada pelo produtor e isso abre muitas oportunidades para a gente”, afirma.

Para 2025, a ideia é comercializar uma quantidade de pouco mais de 2 milhões de hectares, considerando soja, milheto, azevém, braquiária, crotalária e trevo alexandrino, sendo 1,6 a 1,7 milhão de hectares apenas de soja.

Na safra 2025/2026, a intenção da Atto é trabalhar com duas novas culturas no portfólio – guandu, que estreia em 2026, e trevo alexandrino, que começou a vender no ano passado – e expandir suas fronteiras comerciais.

Unidade insudstrial da Atto em Alto Garças (MT)

Com unidade industrial em Alto Garças, onde possui uma área de 75 mil hectares de produção, e sede administrativa em Rondónopolis, a Atto tem hoje uma área de 75 mil hectares de produção de matéria-prima.

Para cumprir o plano de expansão para outras regiões, que vem sendo desenhado desde o ano passado, a Atto estuda formas de atuação para ofertar suas sementes nas demais regiões do País.

"Nós estamos com o plano em aberto ainda, porque pode ser uma terceirização, pode ser um aluguel de uma estrutura já existente ou pode ser até uma aquisição", afirma Balbinotti.

"Mas o que nós estamos pensando é mais uma terceirização mesmo de produção, usando o nosso know-how", emenda o CEO da Atto.

A ideia é terminar 2025 com essa formatação já desenhada. "Se nós conseguirmos achar o parceiro ideal, pretendemos estar com isso concluído até o fim do ano, para que na próxima safra possamos já atuar", afirma Balbinotti.

A atuação com outras sementeiras já é um expediente comum no modelo de produção da Atto.

Balbinotti explica que há um processo chamado Fórmula, em que a Atto adquire sementes de outras empresas.

"A ideia é sempre fazer a produção toda dentro da empresa. Só que quando a gente não consegue fazer toda a produção da demanda que existe, fazemos o Fórmula", afirma.

“Muitas vezes o clima atrapalha e, mesmo você tendo planejado tudo para fazer um determinado material ou mitigando, acaba não tendo um produto na quantidade ou na qualidade que você acordou.”

O processo consiste, segundo Balbonitti, basicamente na compra sementes de outras empresas da região para fazer a comercialização. "Sempre com todos os testes e garantias nossas", salienta.

A Atto costuma fazer esse processo anualmente, mas o volume varia. "Nosso portfólio de materiais é muito grande e a gente não consegue produzir todo esse portfólio. Às vezes, nosso cliente quer um produto que nós nem tentamos produzir porque a demanda era muito baixa", afirma Balbinotti.

Extremamente pulverizado, o setor de sementes tem muitas empresas com alto potencial para receber investimentos ou até mesmo serem adquiridas, segundo um estudo da assessoria Hand, conforme publicado pelo AgFeed no ano passado.

A Hand identificou pelo menos 45 companhias aptas a processos de M&A. A própria Atto está na lista.

Balbinotti diz que o assédio de investidores é recorrente, mas descarta a possibilidade de fusão com outras empresas ou abertura de capital da companhia, que é fechado e restrito à família.

“Sempre tem uma ou outra empresa ou fundo, nos procurando, mas a gente não tem nenhum pensamento de imediato para fazer parcerias desse tipo”, afirma.

Até o momento, Balbinotti diz que a empresa tem conseguido fazer investimentos com recursos próprios, mas não descarta a entrada de investidores caso haja a necessidade.

“Na hora que tiver um projeto também muito maior e que a gente não consiga fazer, eu não tenho nenhum preconceito contra isso”, afirma.

A ideia também não é sair à caça de outras sementeiras em um movimento de consolidação. “Nós não estamos com esse tipo de pensamento. Eu prefiro expandir sem comprar. Expandir com parcerias”, afirma.

Outras frentes

Mais de 40 anos após a criação da antiga Sementes Adriana, o negócio da Atto Sementes ainda é a soja.

"A soja representa mais de 80% do faturamento com sementes e continua sendo o nosso carro-chefe", afirma Balbinotti.

Mas a empresa não está e nem quer ficar restrita apenas à oleaginosa. Além das sementes de soja, a Atto também produz milheto (granífero, para forragem e para pastagem), azevém, braquiária e crotalária.

A ideia é diversificar ainda mais o portfólio, com a inclusão recente do trevo alexandrino e a entrada do guandu a partir de 2026.

Seguindo firme na ideia de parcerias para incrementar o negócio, a Atto fechou um acordo com a sementeira Mediterranea, da Itália, para produzir a sementes do trevo alexandrino fora do Brasil, em Oregon, nos Estados Unidos, onde a empresa italiana tem uma nova operação.

A Atto já mantém uma parceria com essa empresa para o azevém. "Fomos à Itália, fizemos uma parceria com a Mediterranea, e licenciamos os produtos deles para produzir aqui no Brasil e vender, principalmente no Sul do País", afirma Balbinotti.

Mas a Atto descobriu que era difícil produzir o azevém no Brasil, que tem um clima muito quente para a forrageira, que se desenvolve melhor em locais mais frios.

"Hoje, a gente produz no Uruguai e na Argentina, importamos o produto e comercializamos no Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina", afirma Balbinotti.

Por outro lado, a companhia vai produzir o guandu no Mato Grosso, onde também já fabrica as sementes de soja, milheto, braquiária e corolária.

Para desenvolver as sementes, a Atto tem uma unidade de melhoramento localizada em Campo Grande.

"Nós temos lá o maior banco de germoplasma de milheto do mundo, se não contar o do Icristat [organização internacional que realiza pesquisas agrícolas para o desenvolvimento rural], e o primeiro do Brasil.”