Superar desafios e quebrar tabus já faz parte do currículo de Tania Zanella. Ela foi a primeira mulher a ocupar os cargos de gerente-geral e superintendente do Sistema OCB, da Organização das Cooperativas Brasileiras. No final do ano passado, foi escolhida como a primeira presidente do Instituto Pensar Agropecuária (IPA).
Em entrevista ao AgFeed, a executiva falou sobre os desafios para o primeiro de seus dois anos de mandato no instituto, que, sustentado pelo setor privado, atua como um think tank para fomentar as pautas da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA) no Congresso.
Os debates e estudos promovidos pelo IPA costumam trazer contribuições decisivas para algumas das principais pautas levantadas pelos parlamentares do FPA. Por isso, a pauta do próprio instituto diz muito sobre os temas de interesse do agro em Brasília.
Para Tania, as prioridades de 2025 são claras: a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) e o seguro rural.
Ela avalia que o agronegócio, o principal setor do Brasil, precisa ter um papel proativo na conferência, prevista para novembro, em Belém (PA), e deixar de ser reativo aos ataques constantes que recebe nos fóruns internacionais.
“O setor precisa se adiantar aos formadores de opinião, ocupar espaços de debate para não deixar apenas um lado falando”, afirmou.
O trabalho, antes mesmo da COP30, será árduo, segundo ela. “É um desafio alinhar todas as pautas das 59 entidades que reúnem produtores e indústrias. Isso demanda conversa e, principalmente, escutar muito”, afirmou a presidente do IPA.
Paralelamente, o IPA deve centralizar as atenções na aprovação do projeto que cria um novo marco para o seguro rural no País.
A proposta tramita no Senado, é de autoria da senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina (União-MS), e tira amarras do setor público, facilitando a captação de recursos para o fomento ao seguro rural e ao fundo de catástrofe.
“O projeto muda toda a parte estruturante do seguro agrícola no Brasil, mas foi pensado por uma parlamentar que foi ministra e conseguiu, com sua experiência, desenhar uma proposta que tem convergência no IPA”, disse.
O setor estima que, se aprovado, o projeto fomentaria a captação de até R$ 4 bilhões para a subvenção anual ao prêmio do seguro rural. Atualmente, o governo destina cerca de R$ 1,2 bilhão em recursos.
Segundo Tania, a prioridade do projeto levou representantes do IPA e da FPA a se reunirem com o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que caminha para ser o próximo presidente do Senado.
“Ele entendeu a prioridade e é uma ajuda importante para (o projeto) andar na Casa.”
A presidente do IPA cita como outras pautas importantes para os setor produtivo a definição do marco temporal para demarcação de terras indígenas, cuja próxima reunião de conciliação no Supremo Tribunal Federal está prevista para 28 de fevereiro.
“Além disso, temos toda a regulamentação da reforma tributária que ficou para esse ano. O setor agrícola se saiu bem, mas na regulamentação a questão de garantir a renda ao produtor será prioritária”, afirmou a presidente do IPA.
Sensibilidade
A escolha de Tania Zanella para o comando do IPA foi comemorada pelas principais lideranças do agronegócio no Congresso. Vice-presidente da FPA, o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) foi uma delas.
“Com a sensibilidade que tem na sua carreira, Tania será elemento de construção de consenso, de buscar aglutinar o IPA para uma ação mais integrada. Eu tenho certeza que ela fará isso com muita competência e sua atuação permitirá que sua sintonia, esse papel de subsídio que o IPA deve fornecer à FPA, seja fortalecido”, afirmou o deputado ao AgFeed.
Para Jardim, que foi secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, o IPA vive o desafio de se consolidar como o principal porta-voz de um conjunto de entidades do setor do agro.
Além disso, de acordo com o deputado, o instituto tem a função determinada de subsidiar, dar elementos e critérios para a atuação da bancada ruralista na FPA.
“A FPA necessita sempre ter como compromisso principal a defesa do agro e superar, com isso, muitas vezes radicalizações extremadas políticas ou, por outro lado, divergências partidárias”, analisou Jardim.
“A FPA vive esse compromisso permanente de defender o agro acima de questões localizadas, regionais e ideológicas e o IPA contribui de uma forma muito especial para isso”, completou.
Criado em 2011 e com sede em Brasília, no mesmo imóvel da FPA, o IPA busca institucionalizar a agenda do setor e garantir respaldo técnico e ações específicas que tramitam no Congresso Nacional, além de promover a interlocução com os poderes Judiciário e Executivo.
Prioridade absoluta
O seguro rural, pauta prioritária segundo a presidente do IPA, encontra coro também no presidente da FPA, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR).
“Seguro rural é prioridade absoluta”, disse o parlamentar sobre o projeto que tramita no Senado e que ainda está em discussão em comissões.
“Agora é pautar na comissão para a gente conseguir votar. Aí vem para a Câmara para a gente debater e conseguir votar também. Precisa de um modelo novo de seguro no Brasil, não dá para ficar dependendo de um governo”, disse Lupion em entrevista ao AgFeed.
Sobre a questão do marco temporal, Lupion é cético. Ele avalia que a comissão de negociação no STF está longe do consenso e já fala em uma solução mais radical vinda do legislativo.
“É capaz que a gente tenha que votar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição)”, afirmou.
Na entrevista ao AgFeed, Lupion também comemorou o avanço das pautas ligadas ao setor produtivo no Congresso em 2024, a começar da reforma tributária.
“Conseguimos entregar o projeto sobre licenciamento ambiental, a regularização fundiária e a FPA foi um player extremamente importante, se não o mais importante, na dinâmica da Câmara e do Senado”.
Lupion lembrou também das leis de regulamentação dos bioinsumos e de modernização da Política Nacional de Biocombustíveis (Renovabio) . “A questão dos bioinsumos tinha dado um nó em um certo momento. Você põe na mesa a indústria, o produtor, o distribuidor, e os interesses são completamente distintos, mas nós conseguimos, depois de muitos anos de discussão, chegar ao texto final”, concluiu.
Com reportagem de Alessandra Mello