“Quase todas as startups de nosso portfólio tem como objetivo principal chegar ao Brasil e aos Estados Unidos”. É com esse espírito que o Innventure, fundo de investimentos em agtechs argentinas, olha para o futuro.
O fundo, criado há três anos a partir do Aapresid (Associação Argentina de Produtores de Plantio Direto), está em processo de captação para chegar, nos próximos meses, em US$ 4 milhões alocados entre 18 e 20 startups do setor de “agrifoodtech”.
Segundo explicou ao AgFeed o CEO do fundo, Mayco Mansilla, agrônomo. professor universitário e figura carimbada em eventos do agro local, o veículo funciona de forma colaborativa e reúne uma série de produtores rurais e outros investidores que querem aportar em agtechs.
“O fundo surgiu para encontrar uma forma de diversificar investimentos de produtores no agro. Como falamos de um negócio que envolve commodities, tudo é competição por custos. Uma das formas de melhorar isso é aumentar produtividade ou diminuir despesas através da tecnologia”, acredita Mansilla.
A ideia é que os agricultores invistam nas startups, para que haja mais precisão na hora de validar as tecnologias.
Com a crise econômica argentina, muitos produtores optam por investimentos tradicionais, preferindo investir em áreas como o setor imobiliário. “Esse capital fica fora do agro e pode acelerar o desenvolvimento do setor”.
Mansilla explica que a lógica do fundo é trazer muitos investidores com pouco dinheiro, invertendo a dinâmica tradicional do mercado de venture capital. Hoje, o ticket mínimo para um aporte no fundo é de US$ 20 mil.
“Até agora poucos produtores, agricultores e empresas do agro faziam investimentos em startups de agrifoodtech por falta de conhecimento nesse universo e por falta de veículos. Num fundo de Venture Capital, a captação beira US$ 300 mil por investidor, um patamar elevado em um contexto de crises econômicas”, afirma.
Até agora, o fundo já levantou US$ 2,8 milhões, algo em torno de R$ 17 milhões pela cotação atual, e investiu em 10 startups argentinas.
São elas a DeepAgro, que usa IA na detecção de plantas daninhas, Eiwa, de análise de dados para o setor; ZoomAgri, que usa IA para inspeção de grãos, SiloReal, que monitora grãos armazenados; Sensify, de tokenização de commodities, de IA preditiva; Elytron, de biotecnologia; Satelites on Fire, de detecção de incêndios; Tracestory, de rastreabiliade; e a Unibaio, que desenvolve insumos biológicos através de crustáceos.
Das 10, sete já atuam ou fazem testes no Brasil: ZoomAgri, DeepAgro, SiloReal, Sensify, Calice, Unibaio e Eiwa (que já tem, por aqui, 80% de seu faturamento).
Hoje o Innventure possui cerca de 100 investidores, sendo sua maioria produtores membros da Aapresid. Além deles, o fundo também conta com outras associações como o CREA (Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola), Maizar, Argentrigo e INTA, a “Embrapa argentina”.
O fundo também conta com parcerias com a Endeavor, a Bolsa de Comércio de Rosário e alguns fundos locais.
A Aapresid, criada nos anos 1990, foi fundamental para promover a prática do plantio direto no país. “Em cinco anos a Argentina passou de 0% de agricultura nesse manejo para 80%”, estima Mayco Mansilla.
A associação hoje representa uma série de produtores relevantes na Argentina, segundo o CEO do Innventure. Da instituição, surgiram muitas empresas do agro como a Bioceres, cujos fundadores são sócios da Aapresid.
Para os próximos anos, Mansilla já vê oportunidades para um segundo fundo, “muito maior” e, desta vez, englobando toda a América Latina.
“Em 2025 queremos fechar o primeiro fundo e em seguida abrir um segundo com foco no continente. Queremos contar com parceiros brasileiros, pois para nós, o Brasil é o principal mercado das agtechs. É estratégico em todo ponto de vista”, diz.
A ideia é replicar o modelo do primeiro fundo na Argentina, e contar com parceiros brasileiros, sejam empresas do agro ou produtores rurais como investidores. A Innventure já tem conversado também, segundo Mansilla, com fundos de venture capital no País.
Trazer o produtor para perto da agtech torna, na visão do CEO, os investimentos mais certeiros.
“Há muita gente fazendo investimentos em agrifoodtechs com conhecimento em startups em inovação, mas nem sempre nas demandas dos agricultores”.
Hoje o fundo conta, por intermédio dos investidores e parceiros, com 500 mil hectares onde há a validação das tecnologias.
“Nossa principal fortaleza é essa: conhecemos as necessidades e também sabemos como incorporar a tecnologia no dia a dia do agricultor”, acrescenta.
Para se tornar uma investida, não há uma restrição de segmento, mas Mansilla explica quatro pontos que funcionam como uma “nota de corte” para a agtech ser aprovada.
Primeiro, precisa ter uma “tecnologia disruptiva para as cadeias alimentares”. O segundo ponto é ter um “negócio internacional”, ou seja, conseguir replicar seu modelo de negócio em mais de um País, daí o foco em conquistar o agro brasileiro.
Por fim, o Innventure busca startups com bons times na diretoria e negócios que sejam escaláveis rapidamente. “As startups precisam estar na vanguarda tecnológica, atualizando permanentemente seu desenvolvimento”, acrescenta.
O primeiro fundo está no seu terceiro ano de uma vida prevista de 10. O ticket médio por investimento em startups é de US$ 100 mil, variando entre US$ 50 mil e US$ 200 mil.