A ousadia de um brasileiro ao estudar e patentear um método para “captar energia do ar” tem a ver com a história da startup IBBX, que já atraiu investimentos de US$ 13 milhões desde que foi criada, em 2018.
O processo chamado de “wireless energy” utiliza os chamados ruídos eletromagnéticos que estão presentes no ar para gerar eletricidade. Foi patenteado no Brasil e nos Estados Unidos pelo fundador da IBBX, que era CEO até pouco tempo, o engenheiro Luis Fernando Destro. Em setembro deste ano, ele passou o cargo de CEO para um dos fundadores do QuintoAndar, André Penha.
O AgFeed conversou com o atual CFO da IBBX, Bruno Rocha, sobre os planos da empresa para avançar no agro.
Um dos passos mais relevantes é um contrato que foi fechado com a Atvos, uma das maiores empresas brasileiras do setor sucroenergético. O acordo, que deve durar pelo menos cinco anos, envolve “algumas dezenas de milhões de reais”, disse o CFO.
A IBBX não divulga o faturamento atual, mas diz que em 2024 está triplicando sua receita. Além disso, teria uma carteira de pedidos prevista para os próximos anos superior a R$ 200 milhões.
De maneira simplificada, a solução da empresa é um ecossistema que começa pelo hardware, que funciona sem a necessidade de bateria. Ele é responsável pela coleta de dados que depois precisam ser enviados para a nuvem, onde será possível usar plenamente as funcionalidades da IoT.
“Eu consigo aumentar a vida útil desse hardware porque, no meio do caminho para levar o dado para a nuvem, preciso de conectividade. O agro tem muita dificuldade de conectividade. E a IBBX transmite dados por baixa frequência. Pela mesma onda que eu transmito energia, transmito dados. Então, tenho um nível de estabilidade ininterrupto no campo versus qualquer outro protocolo que existe”, explicou Rocha.
A comunicação ocorre do hardware para uma antena, por onda de rádio, e só então será necessário um método tradicional de conexão por internet, como 4G ou por satélite.
Um dos argumentos de venda da IBBX é de que o sinal é mais estável e a operação fica bem mais barata, já que não é necessário levar internet a todos os pontos, normalmente de longas distâncias, no agronegócio.
Hoje a tecnologia oferecida pela empresa já está sendo bastante utilizada em plantas industriais de clientes como Unilever e Saint Gobain e também como fonte de energia para luminárias em rodovias, onde não é fácil acessar a rede elétrica por fio.
A expectativa da IBBX é de que, num futuro próximo, pelo menos 30% da receita venha das empresas do agronegócio. Para isso, a etapa de MVP, que está sendo feita com Atvos, será fundamental.
O executivo que está liderando a área agro na IBBX, Gleuber Mariano Teixeira, disse que tem sido procurado por grandes empresas do setor florestal e também por produtores de grãos do Centro-Oeste, que pensam em utilizar a tecnologia na aplicação da calda de defensivos, algo que já vem sendo feito na Atvos.
“Quando a gente fala de 4G, 5G rural, sabemos que o alcance é muito baixo. A IBBX teve a oportunidade de navegar num oceano azul, de ninguém estar olhando para essa camada de transmissão de dados. Uma coisa é a gente usar uma banda 3G, 4G, 5G para transmitir dados. Outra coisa é um protocolo de transmissão de dados de IoT que não depende dessa camada”, afirmou Teixeira.
Na Atvos, a tecnologia da eletricidade sem fio está sendo usada no trabalho das colhedoras de cana, na pulverização e também na aplicação de fertilizantes.
Os ganhos, segundo o executivo, ocorrem pela otimização no uso de insumos, já que só se aplica onde realmente está a plantação, e também pelo menor impacto ambiental. “Se eu tiver 10% de falha no canavial, eu tirei 10% de custo de fertilizante”.
O CFO da IBBX diz que o principal diferencial da empresa, em relação a outros players do mercado, é conectividade. “Tem muita tecnologia na ponta. Só que há muita dificuldade de levar esse negócio para a nuvem para, de fato, trazer camada de AI, de inteligência artificial, para aquele dado se tornar inteligente”.
O custo, segundo a empresa, seria bem mais baixo. No caso de uma estação meteorológica, por exemplo, que precisa enviar dados num raio de 70 km de distância, segundo os executivos, o gasto com telefonia seria de R$ 50 por estação. Na opção por satélite, ficaria em R$150 e no “protocolo” da IBBX com IoT sairia por até R$ 30 por mês.
O modelo de negócio da empresa prevê a venda do hardware e uma assinatura pelos demais serviços.
“Nosso protocolo consegue conectar com telefonia, consegue conectar com satélite e a nossa tecnologia consegue transitar volume de dados, de coleta na ponta, lá onde está acontecendo a operação, e a tomada de decisão pode ser rápida. O diferencial está aí, nessa área de coleta de dados”, reforça.