Meio bilhão de dólares para investir na segurança alimentar em partes da África. Para tal, uma gestora brasileira vai dar as duas mãos para o agro e levar a expertise brasileira para desenvolver comunidades rurais no continente africano.

Essa é a ideia da gestora e corretora paulista Planner, que possui R$ 4,2 bilhões sob gestão. A empresa iniciou a captação de US$ 500 milhões para criar um fundo de private equity para investir em novas fronteiras agrícolas na África subsaariana. A proposta prevê atrair investidores estrangeiros para o fundo, que será gerido pela Riverwood, vinculada à Planner.

A meta é investir em 10 negócios, com um tíquete médio de US$ 50 milhões, com um prazo de dez anos, explicou ao AgFeed Renato Solano, um ex-Vale que atua como Head of International Desk e lidera o projeto África dentro da corretora.

Além dois recursos, o fundo pretende "plantar" em países africanos como Quênia, Ruanda e Etiópia o que dá certo no Brasil. O fundo pretende levar as práticas do agro regenerativo para as comunidades atendidas, como agroflorestas e plantio de cobertura.

“Levaremos tecnologias, know-how e práticas de empresas e organizações como Faesp e Embrapa. Em 10 anos, a África pode se transformar de importadora em um potencial exportador de alimentos. Hoje, o continente gasta anualmente US$ 56 bilhões com essas compras”, afirmou Solano.

Nos três países qye receberão a maior atenção do fundo, a Planner calcula que de 60% a 70% dos alimentos são produzidos por pequenos produtores, com manejos “rudimentares”. Os outros 30% são de fazendas médias e grandes que já utilizam técnicas mais modernas.

Um problema identificado e que trouxe a oportunidade de colocar o fundo de pé é que os programas de apoios governamentais e de ONGs locais têm curta duração.

Segundo Solano, a ideia é modernizar esses pequenos produtores, com novos manejos e novas tecnologias. “O fundo busca atuar em toda a cadeia produtiva, no estilo ‘farm to fork’, priorizando aspectos econômicos e financeiros com foco em retorno (private equity e crédito). Trabalhamos em alinhamento com os planos estratégicos dos países onde operamos, pois acreditamos que não há sucesso em projetos isolados”, explicou Solano.

Por lá, a cultura de maior produção para consumo interno é a do milho branco. Em menor escala, ainda existem fazendeiros que cultivam mandioca, soja e frutas como abacate, manga, banana, abacaxi, castanhas de caju e nozes de macadâmia.

Para exportação, alguns produtores cultivam café e flores. “A nossa ideia é apoiar o cultivo de 500 mil hectares de terras agrícolas, capacitando mais de 1 milhão de pequenos agricultores e trazendo acesso a financiamento e treinamentos, aumentando a renda desses produtores em até 30%”, projetou Solano.

Segundo Solano, o fundo deve investir também em empresas locais com ou sem capital estrangeiro, em iniciativas tanto greenfield quanto brownfield, ou seja, que ainda são só uma ideia ou que já estejam em andamento.

“Não temos o objetivo de trabalhar com projetos conduzidos por ONGs. Empresas de tecnologia podem ser elegíveis, mas não representam nosso foco principal, já que integramos esse componente diretamente em nossas operações”, afirmou.

Até agora, a Planner já possui um memorando de entendimento com a Crystal Ventures, empresa de investimentos local e um dos maiores conglomerados empresariais de Ruanda, para executar um projeto na área da pecuária de corte.

A Crystal é dona de empresas de telecomunicações, da Inyange, a líder em produção de laticínios, sucos e água no país, além de possuir ativos imobiliários e de infraestrutura.

Ainda em Ruanda, a Planner deve se apoiar em projetos governamentais para dar tração aos investimentos do fundo. Solano cita o Gabiro Agribusiness Hub, fruto de uma joint venture entre o ministério da agricultura local e a israelense Netafim.

Já no Quênia, principalmente no norte do país, os projetos mapeados envolvem irrigação, já que, mesmo com grandes aquíferos locais, as áreas semiáridas não atingem seu potencial máximo de produção.

“Adotaremos as técnicas e tecnologias mais recentes disponíveis no mundo, com foco no que é feito no Brasil, devido à sua abordagem inovadora e pró-ambiental na agricultura tropical. Isso inclui a mecanização completa, biotecnologia, sempre que possível, e programas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)”, contou Solano.

A expectativa é que, com a utilização dessas técnicas, a produtividade dos pequenos agricultores possa avançar até 50%.

Já nas fazendas médias e grandes, a ideia é mitigar efeitos climáticos e reduzir perdas pós-colheita com investimentos em armazenamento, fábricas de processamento e em tecnologias de embalagem.

“Podemos criar até 100 mil empregos diretos e indiretos na agricultura local”, acredita o executivo. O fundo ainda deve investir para ampliar a capacidade de armazenamento refrigerado.

Para ajudar a aumentar a renda dos produtores, o fundo de investimento ainda vê oportunidades para elevar a participação de algumas culturas nas rotas de exportação.

Para isso, o recurso captado também poderá ser utilizado para além de capacitações e também no financiamento de insumos como sementes, fertilizantes e defensivos.

“Queremos apoiar os agricultores no cumprimento de normas sanitárias e de qualidade exigidas pelos mercados globais”, acrescenta. O fundo ainda poderá funcionar como uma linha de crédito aos produtores.