Na comparação entre o jantar da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) realizado no final do ano passado com a edição deste ano, as incertezas e inseguranças com a safra deram lugar a um otimismo.
De acordo com André Pessôa, sócio fundador da Agroconsult, que palestrou aos presentes durante o evento realizado nesta quinta (28) em São Paulo, o País se prepara para uma safra 2024/2025 mais tranquila. “Não podemos chamar de uma ‘safra muito cheia’, mas é uma safra ok”.
Mesmo com desafios climáticos localizados e um atraso inicial no plantio da soja, a expectativa é de resultados expressivos na oleaginosa, milho e algodão.
De acordo com o especialista, a safra de soja deve ficar em 172,2 milhões de toneladas, 16,7 milhões de toneladas acima do registrado na temporada 2023/2024.
“Vemos poucas ocorrências negativas e uma condição de desenvolvimento de lavouras, no Mato Grosso e em Goiás, excepcional. Ano passado, no MT, vimos mais dias sem chuva nesta época, uma situação distinta de hoje. A safra até agora está indo bem, especialmente a do Cerrado”, comentou Pessôa.
A área projetada pela Agroconsult é de 47,5 milhões de hectares, um crescimento de 1,5% em relação ao ciclo anterior. Segundo André Pessoa, essa expansão se deve, em grande parte, à substituição de áreas anteriormente ocupadas por milho de primeira safra.
A exportação total para o ano completo de 2024 foi estimada em 98,2 milhões de toneladas, queda de 4,4% frente à safra anterior, devido à menor produção em 2023/2024. Considerando 2025, espera-se um aumento de 5,3%, com 103,4 milhões de toneladas.
Já o esmagamento de soja deverá atingir 54,8 milhões de toneladas em 2024 e 56 milhões em 2025, impulsionado pela demanda por farelo e pela mistura obrigatória de 15% de biodiesel, afirmou Pessôa.
A grande questão que fica é a colheita da soja e o plantio do milho. O especialista projetou que a colheita de soja será mais lenta em janeiro, com 5,4 milhões de toneladas e similar ao visto na safra passada.
O avanço da colheita se dará em fevereiro, com 28,4 milhões de toneladas na primeira quinzena e 25,7 milhões na segunda. Já as exportações devem acelerar entre março e junho.
“Isso pode complicar os fretes, já que o volume de exportação vai ser próximo de zero em janeiro”, disse.
A Agroconsult prevê que os meses de janeiro e fevereiro sejam de muita chuva. Se no primeiro mês do ano não há grandes riscos pela colheita ainda lenta, o mês seguinte pode ter problemas, principalmente levando em consideração o plantio do milho na segunda safra.
No contexto global, a Agroconsult trabalha com um cenário de 430,5 milhões de toneladas de soja produzidas na temporada. Ao mesmo tempo, prevê um consumo de 401 milhões de toneladas, o que traz uma “sobra” de 28,8 milhões de toneladas, um dos principais motivos para a pressão nos preços da oleaginosa no mercado externo.
Na América Latina, Argentina e Paraguai devem ter safras em linha com a última e a colheita no continente deve atingir 243,7 milhões de toneladas. No ano passado, a colheita foi de 224,3 milhões de toneladas.
Andrê Pessôa considera que hoje o mundo possui uma “capacidade instalada” de 468 milhões de toneladas. “Se todos os países produzissem tudo que já produziram em algum momento, daria esse número”, explicou.
A média histórica dessa diferença é de 9,2%, em linha com o projetado para essa temporada. “Para os próximos anos, porém, com a volatilidade das mudanças climáticas, isso deve aumentar”, afirma, projetando menores produções globais com essas dificuldades.
Mais milho
No milho, a Agroconsult prevê uma área plantada de 22 milhões de hectares considerando as duas safras, uma alta de 1,8% em relação ao ano anterior. Esse aumento inclui 4,3 milhões de hectares na primeira safra e 17,8 milhões de hectares na safrinha.
“Vimos uma aceleração na venda de insumos para o milho. No ano passado, a decisão de plantio e pacote tecnológico foi tomada aos 43 do segundo tempo, e esse ano adiantou na medida que a dúvida da janela de plantio foi sanada”, afirmou Pessôa.
“Por isso a área plantada de milho safrinha deve subir, até acompanhando a subida do preço que trouxe ânimo ao produtor, junto com o comportamento do câmbio”, acrescentou.
A produção total de milho é estimada em 132,7 milhões de toneladas, sendo 25,4 milhões na primeira safra e 107,3 milhões na safrinha. Essa última supera em 10 milhões de toneladas as projeções da Conab, que projetou 119,7 milhões de toneladas em seu último boletim.
O consumo doméstico de milho deve alcançar 95,2 milhões de toneladas, das quais 21,6 milhões serão destinadas à produção de etanol e 65,2 milhões ao setor de proteína animal.
Isso representa um aumento em relação aos 88 milhões consumidos na safra anterior. Na exportação, o Brasil deve embarcar 42 milhões de toneladas, alta de 9,2% frente a 2023/24.
“Há uma diferença sistemática para cima. Não só pela área, mas pela produtividade”, afirmou o sócio da Agroconsult. A Conab projetou 21 milhões de hectares dedicados ao cereal.
A consultoria ainda projetou um consumo doméstico de 95,2 milhões de toneladas, sendo 21,6 milhões dedicados à produção de etanol e 65,2 milhões para o setor de proteína animal. Na safra passada, o mercado local consumiu 88 milhões de toneladas.
A exportação foi projetada em 42 milhões de toneladas, alta de 9,2% frente a safra 2023/2024.
Por fim, Pessôa também projetou a safra de algodão 2024/2025. Segundo ele, a produção da pluma pode bater pela primeira vez as 4 milhões de toneladas, um aumento de 12,3% frente ao visto na temporada anterior.
“Com uma produtividade projetada de 126 arrobas por hectare, o Brasil pode ultrapassar, pela primeira vez, essa marca”, disse. A área plantada também deve crescer 10%, e chegar a 2,17 milhões de hectares.
A exportação deve alcançar 2,68 milhões de toneladas em 2024/2025, renovando o recorde de 2,38 milhões de toneladas visto no ano anterior. O estoque doméstico ao final do ciclo está projetado em 550 mil toneladas.