Os tempos de margens apertadas para produtores rurais e empresas não assustam a Kepler Weber, fabricante de silos e equipamentos pós-colheita, que está disposta a desbravar novas formas de fazer negócios.

Durante evento nesta terça-feira, em São Paulo, os executivos da empresa reforçaram os planos de crescimento até 2030, mas já adiantaram ações que começam nos próximos meses.

Uma delas é o aluguel de unidades armazenadoras, que faz parte do pilar estratégico que a companhia chamou de “aumentar o mercado endereçável”.

O plano de voo da Kepler Weber sempre esteve baseado, entre outros fatores, na premissa de que há um déficit gigantesco na capacidade de armazenagem de grãos no Brasil, um volume acima de 100 milhões de tonelada até a safra passada.

Este gap reforça a necessidade de produtores e indústrias, principalmente, seguirem investindo em novas estruturas.

No meio do caminho, porém, veio o “ajuste do agro”. A queda nos preços das commodities desde 2023 e as margens apertadas para os diferentes elos da cadeia obrigam muitos dos players a desacelerar ou ser mais seletivo ao fazer investimentos.

Além disso, tem sido comum entre produtores e empresas a queixa de que falta financiamento para investir em armazenagem. O PCA, linha do plano safra voltada ao segmento, vem se esgotando rapidamente e os juros de mercado oferecido fora do subsídio, em tempos mais difíceis, não atendem a demanda.

Uma das respostas, nesse período, pode ser o modelo de aluguel proposto pela Kepler. Por meio de um fundo, investidores em geral aportariam os recursos necessários para construir as estruturas de armazenagem.

A Kepler recebe o dinheiro e constrói as estruturas. Do outro lado, está o cliente tradicional da companhia, como produtores, cerealistas e tradings, que precisam de mais espaço para guardar seus grãos. Nesse modelo, ao invés de comprar diretamente, o cliente paga o aluguel, onde a Kepler também tem participação.

Diego Wenningkamp, diretor de implantação de projetos e serviços digitais da Kepler Weber, explicou que o mais provável será a criação de um fundo imobiliário, nos moldes daqueles que já existem, como no caso dos shopping centers.

Segundo ele, o Fiagro que a empresa já possui não pode ser utilizado para esse tipo de aluguel, serve apenas para financiar clientes que querem comprar os equipamentos de armazenagem.

“Somos motivados pela demanda, de uma maneira estruturada a gente conecta o dinheiro do investidor para fazer as unidades e diminuir o déficit (de armazenagem)”, ressaltou.

Em conversa com o AgFeed, o executivo admite que houve uma certa inspiração em segmentos que já praticam o modelo “as a servisse”, como no aluguel de tratores e de equipamentos de irrigação. Ele reforçou, no entanto, que pelo tamanho da Kepler Weber, apesar de já haver iniciativas pontuais de aluguel na armazenagem, “a empresa será protagonista, pela escala que poderá dar ao negócio”.

A Kepler sinalizou que o fundo deve começar com R$ 500 milhões, um valor considerado pequeno, porém com foco na etapa piloto do projeto. “A ideia depois é escalar”, disse Diego.

O CEO da empresa, Bernardo Nogueira, disse que o objetivo é anunciar o primeiro piloto “em breve”. Na apresentação aos investidores, a companhia sinalizou que deve ser um projeto em Mato Grosso.

Nas conversas que já vem sendo realizadas com os investidores e com os clientes, Nogueira diz que está fazendo mais sentido o modelo de aluguel para tradings, especialmente as multinacionais. A expectativa é construir grandes estruturas que podem custar entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões, com capacidade de armazenar até 1 milhão de sacas.

“A gente acredita bastante (no modelo de aluguel), é complexo, por isso estamos fazendo com muita calma e cautela, mas acaba criando 3 vertentes de receita para a companhia. Primeiro é a venda de unidades, algumas que talvez nem fossem construídas nesse período, depois toda a manutenção delas, e a terceira receita ocorre porque temos também uma participação nos rendimentos desse aluguel”, afirmou o CEO. “São receitas recorrentes que vão se perpetuar”.

M&As estão no radar

Na conversa dos executivos da Kepler com os investidores ficou claro que a ideia é manter o Capex (valor voltado aos investimentos) em patamares próximos ao atual, de 2,5% da receita da companhia.

Uma mudança nessa rota só deve ocorrer, segundo a empresa, para avançar em fusões e aquisições, caso se concretizem oportunidades em estudo.

Bernardo Nogueira disse ao AgFeed que “estão mapeadas” 26 empresas como possíveis M&As para a Kepler.

“Quando digo mapeada, vai desde dizer que temos interesse nesse segmento e identificamos esse player, até a assinatura de NDA e pontos mais avançados nas conversas. Está nesse range. M&As, alguns não concluem, mas temos um pipeline de forma estruturada”, explicou.

Das 26 empresas, Nogueira diz que a grande maioria em novos negócios. Seriam oportunidades de expandir o portfloio ou de atuar em áreas que a empresa não está hoje, como no setor do café, na área de sementes ou na automação de unidades. “Existe uma ambição de crescer em 50% o tamanho do mercado endereçável até 2030”, disse.

Sobre os negócios nesta safra, o CEO disse que a carteira de pedidos deve virar o ano em patamares semelhantes ao mesmo período do ano passado. Mesmo com a expectativa de uma safra recorde de grãos, Nogueira diz que as margens seguem baixas, o que ainda representa um desafio.

“Mas já estamos operando em níveis superiores a 2021 e 2022, missão é continuar crescendo em 2025”.